A cidade de Nova York, a mais populosa dos Estados
Unidos, com quase 10 milhões de habitantes, antes notabilizada pelas altas
taxas de criminalidade (particularmente nos anos 90), no dia 12/2/15 bateu o
recorde de 10 dias seguidos sem assassinatos noticiados à polícia. Os índices
de assassinatos e roubos (assaltos) caíram pela metade nos EUA (ver Erik
Eckholm, The New York Times International Wekly - Folha, 7/2/15). Mas
Nova York, que possui um dos menores índices de encarceramento do país, é uma
das cidades que mais reduziram as taxas criminais: ela registrou apenas 328
homicídios em 2014, contra 2.245 em 1990 (redução de 85%: ver Adam Gopnik,
em Revista Jurídica de la Universidad de Palermo, año 13, n. 1,
novembro/2012, tradução de Juan F. González Bertomeu e colaboradores). E agora
bate o recorde de 10 dias sem um assassinato sequer.
Quais os segredos desses países exitosos na
diminuição das taxas de assassinatos? Dois modelos se destacam:
(a) o escandinavo, que prioriza de forma absoluta a
prevenção primária (excelentes condições socioeconômicas da população,
escolaridade altíssima, extraordinária renda per capita, alta expectativa de
vida, primeiros lugares no IDH etc.), sem descuidar da prevenção secundária
(obstáculos ao cometimento do crime) nem da repressão (alto índice na certeza
do castigo) (ou seja: prevenção primária + prevenção secundária + alto índice
na certeza do castigo);
(b) o norte-americano, que confere prioridade
absoluta à prevenção secundária (obstáculos ao cometimento do crime), tais
como: (1) revolução no policiamento (concentração nos "pontos
quentes", ainda que fossem um ou poucos quarteirões); (2) foco especial no
pequeno número de pessoas responsáveis pela maior parte dos crimes; (3)
policiamento "intensivo" preventivo (blitz contínuas em toda
população: "os pobres nesse caso são os que mais sofrem, mas também os que
mais ganham"); (4) o saneamento e o controle rígido da polícia (evitando
ao máximo a corrupção); (5) a melhoria visível da estrutura e do preparo do
policial, bem remunerado (e mesmo assim muitos desvios ainda acontecem). A
efetiva atuação da polícia se transformou em alto grau de certeza do castigo
(quase 70% dos homicídios são devidamente apurados e punidos) (sintetizando:
prevenção secundária + baixa prevenção primária + alto índice na certeza do
castigo).
Os dois modelos são opostos, mas ambos dão bons
resultados. Os números estão aí para confirmar o que estamos afirmando. E o
Brasil? Não conta com nenhuma política de prevenção (nem primária, nem
secundária e muito menos terciária, que consiste na ressocialização do preso).
Seguimos aqui a política puramente reativa (não a preventiva). Mesmo assim, uma
política reativa (que vem depois do crime) com baixíssimo índice de certeza do
castigo (ao contrário, aqui a certeza é da impunidade, em mais de 98% dos
crimes). Em suma: não temos prevenção primária, nem secundária nem certeza do
castigo. Estamos, como se vê, no caminho completamente errado. O pior é que
muitos demagogos falam bem desse sistema estapafúrdio e genocida e boa parcela
da população acredita em demagogia (tal como os homens e mulheres das cavernas
acreditavam que possuíam todos os animais que eles pintavam nas paredes dos
seus improvisados abrigos). É por isso que Nova York comemora 10 dias sem
assassinatos enquanto o Brasil caminha de forma acelerada e galopante para
colocar a mão em mais uma taça de campeão mundial: no item violência!
Por Luiz Flávio Gomes
Edição do Jornal da Parnaíba
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