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Cisternas doadas pelo Ministério da Integração Nacional para ser instalada |
Até agora eu não sei quem foi a alma boa ou
inteligente que meteu na cabeça desse pessoal do Ministério da Integração
Nacional sobre este programa de distribuição de cisternas pelo Nordeste. Porque
pelo adiantado da hora e a atual situação de seca nessa região, certamente que
já era ou deveria ser do conhecimento desses técnicos que haveria uma estiagem
prolongada. Com tantos equipamentos e departamentos, pessoal capacitado em
meteorologia e coisa e tal não justifica uma medida dessas, tão atrasada e fora
da realidade.
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Leito seco do rio Pirangi após seca na região |
Costumo visitar a pequena propriedade de um
amigo aqui perto, na região do São Benedito,
antes de Buriti dos Lopes. Região banhada pelo Pirangi. E lá esse meu amigo tem
umas poucas cabeças de gado, ovelhas, porcos e umas galinhas. Não é muita coisa, mas tudo bem
organizado. E como em tudo aquilo que se mete a fazer também tem um caseiro,
com mulher e filhos. Eles fazem de um tudo e mais um pouco pra manterem a coisa
em ordem.
Faz uns dois anos que apareceram por lá uns
técnicos do Ministério da Integração Nacional fazendo um tal de cadastramento pra que as famílias
recebessem cisternas pra coleta de água. E não é que agora, justo agora nesse
terror de sol acabam de chegar as tais cisternas? Dois anos! E eu fui ver.
Ninguém me contou não. Esses trambolhos enormes na frente das casas e que
certamente, sabe Deus, pouco vão servir pra alguma coisa, quando menos nesse
momento pra recolher água da chuva.
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Cisternas a espera dos técnicos para serem instaladas |
Os rios e grotões que passam atrás de casa e na
vizinhança estão secos e esturricados. Não há pasto e muito menos água de qualquer natureza. O
gado está magro, comendo ração comprada aos olhos da cara aqui na Parnaíba ou
em Buriti dos Lopes. Meu amigo está com
a burra em dificuldade. Já não tem de onde tirar dinheiro e tendo que comprar
palha de milho ou maniva, que, misturada à ração, ainda dá pra manter as poucas
cabeças de criação em pé. Os outros moradores, mais pobres, não têm ou não
sabem mais o que fazer.
E aí me vem o Governo Federal, numa altura dessas
distribuir entre aqueles pobres coitados, lascados mesmo, cisternas de
plástico. Eu quero é que vocês vejam aquela arrumação besta. São peças enormes
tomando a frente das casas e com a promessa de serem reservatórios de água,
quando e se chover. As vaquinhas já não estão dando mais um litro de leite
porque não tem o que beber. As galinhas já nem botam ovo porque não tem
sustança.
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Trabalhador rural prepara ração para o gado por falta de pastagens por conta da seca |
E naquele
cenário tão hostil com os rios secos até as espécies mais resistentes de
plantas estão morrendo. E os animais já com os dentes de fora. Eu pude ver uma
falta de humanidade do Governo Federal pra com o homem do campo. Até calango
desapareceu. Não tem mais calango. Nem
preá. Nem tatu. Não se ouve mais falar em mambira. E se tem animais que sofrem
mais, talvez até mais que os outros, são os cachorros. Magrinhos, com o
espinhaço saltando e arqueando por debaixo do couro. Aquelas carinhas, aqueles
olhinhos pedindo por piedade naquele fim de mundo como se dissessem pra
nós, “não me deixe morrer, eu preciso de que alguém cuide de mim”. Porque os
outros animais serão um dia, mais cedo ou mais tarde, a comida dos seus donos.
Os cachorros não. Com a fome e a sede,
cheios de doenças trazidas pelo passadio,
serão amanhã ou depois de amanhã comida de urubu. Se é que numa altura dessas
os urubus não tiverem dado no pé, que não são bestas de ficarem numa porra
daquelas!
E o caseiro me falou que os técnicos do Ministério
da Integração Nacional estão a caminho
pra montagem das tais cisternas. Começando
lá por cima. Vão levar mais uns
dois anos ou mais pra todo esse trabalho ser concluído. Se até lá não houver
troca de ministro ou uma reviravolta dentro do programa do Governo. Daqui pra
lá vai morrer gado e se descuidar vai morrer até gente. E as cisternas, que
certamente custaram fortunas e mais alguma coisa ao bolso do contribuinte vão
virar é casa de piunga.
Por Antônio de Pádua Marques
Da redação do Jornal da
Parnaíba
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