Analistas e articulistas econômicos tem
apontado como principais desafios do segundo mandato presidencial arrumar as
contas públicas e retomar o crescimento econômico.
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Joaquim Levy |
Ajustar as contas públicas – na lógica econômica
predominante – significa cortar gastos. Contrário ao discurso crítico da
ortodoxia econômica na época da eleição, a presidente eleita acabou cedendo ao
mercado, e nomeou para ministro da Fazenda um alto executivo do sistema
bancário, ex-secretário de Tesouro no primeiro governo Lula, chamado na época
de “Levy mãos de tesoura”.
Como parte das medidas da nova equipe econômica
para cortar gastos e promover um ajuste fiscal, a “novidade” no final do 1o mandato
do governo Dilma, em pleno período de festas natalinas, foram às medidas que
atingiram as regras de acesso a vários benefícios sociais.
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No início do primeiro mandato do governo Lula,
eleito como esperança contra a continuidade do governo neoliberal do Partido da
Social Democracia Brasileiro (PSDB), foi promulgada, como sua primeira medida,
a reforma da previdência que atingiu diretamente os trabalhadores do setor
público.
Em ambos os casos, as medidas evidenciaram que os
governos eleitos pelo Partido dos Trabalhadores (PT) não estavam (e não estão)
assim tão preocupados com os trabalhadores. Estas medidas, tomadas em períodos
distintos, com grande simbolismo, foram justificadas para corrigir distorções,
e realizar ajustes necessários para a retomada do crescimento econômico (para
beneficiar a quem?). Mas na verdade não se pode admitir que a filosofia de
Robin Hood seja materializada às avessas, tirando dos mais pobres para manter
os privilégios dos mais ricos.No Brasil existem inegavelmente importantes e
indesejáveis distorções. Necessidades de ajustes e correções estão presentes
nos diferentes aspectos da vida nacional, em particular no vergonhoso fosso que
divide ricos e pobres. Mais do que meras distorções, são injustiças que deixam
o país entre aqueles de maior desigualdade social no mundo.
Obviamente que não. Fica claro que existe em tais
medidas um viés claro de penalizar o trabalho e a classe trabalhadora. Daí o
fato de tais medidas serem sempre bem recebidas pelos empresários e criticadas
pelos trabalhadores.
Interpretadas como medidas fiscais, visando
economizar para os cofres públicos, as medidas provisórias no 664 e 665,
publicadas no dia 30/12/14 com a justificativa de economizar R$ 18 bilhões em
2015 (o equivalente a cerca de 70% do gasto com o Bolsa Família em 2014),
modificam as regras dos critérios de acesso a benefícios sociais como o
seguro-desemprego, auxílio-doença, pensão por morte, abono salarial e o seguro
defeso para os pescadores. Estes benefícios previdenciários são todos de
interesse direto dos pobres.
Além destas primeiras medidas, outras estão a
caminho, e também afetarão a classe trabalhadora. A correção da tabela do
imposto de renda é uma delas. O reajuste de 6,5% para o ano-calendário de 2015,
aprovado pelo Congresso Nacional, não foi sancionado neste final de 2014. Será
então mantida a correção de 4,5%, a mesma que vigorou nos últimos quatro anos.
O reajuste ajudaria a reduzir a defasagem, favorecendo o contribuinte. Para o
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), o
prejuízo do trabalhador, acumulado desde 1996, chega a 68%. A não aprovação do
reajuste representa uma elevação indireta da carga tributária – um claro
arrocho do governo sobre os ganhos dos assalariados.
Por outro lado, medidas que poderiam aumentar a
arrecadação não são tomadas. Uma delas é o Imposto sobre Grandes Fortunas
(IGF), que somente a União tem competência para instituir (art. 153, inciso VII
da Constituição Federal), o qual, apesar de previsto, ainda não foi
regulamentado. Esta espécie de imposto sobre o patrimônio mudaria a lógica da
estrutura tributária, pois hoje quem paga mais é o pequeno trabalhador
assalariado. O imposto de renda sobre o trabalho faz crescer a arrecadação, e
os benefícios não são sentidos. Os ricos pagam relativamente menos que os
assalariados, as grandes fortunas são taxadas com valores irrisórios – muito
diferente do que acontece em outras partes do mundo.
Outro aspecto que pune o trabalhador – sempre que
se fala em ajustar a economia – é a dívida pública. Irregularidades apontadas
nunca foram investigadas, apesar de um preceito constitucional viabilizar a
realização de uma auditoria da dívida. O que falta é vontade e decisão
política.
Portanto, as primeiras medidas do “novo governo”
Dilma são o oposto do discurso, cujo slogan afirma “nenhum direito a menos,
nenhum passo atrás”. E não adianta tergiversar afirmando que não se trata de
retirar direitos e, sim, de corrigir “distorções”. Então, a classe trabalhadora
deve agir se quer tornar este um país de cidadãos mais conscientes de seus
direitos e obrigações, respeitados pelo governo.
A esperança apregoada para conquistar mais quatro
anos de governo necessita, sim, ser convertida em participação com pressão
popular. Afinal, os políticos são eleitos por nós, e cabe a nós influir nos
seus mandatos. Acompanhar como vota o político no parlamento, escrevendo para
ele, exigindo que cumpra as promessas feitas. Aí sim poderemos começar a pensar
em construir um país melhor. A esperança da mudança está em nossas mãos. A
classe trabalhadora precisa agir participando – caso
contrário, não haverá salvação.
Edição do Jornal da Parnaíba
Por Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
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