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Dedalo e Ícaro - Mitologia Grega |
Ícaro e seu pai Dédalo (que era arquiteto) estavam
refugiados em Creta, junto ao rei Minos. Depois do nascimento do seu filho
Minotauro (corpo de homem e cabeça de touro), foi construído um labirinto para
aprisioná-lo. Ele acabou sendo morto por Teseu (veja Wikipedia); Ícaro e Dédalo
ficaram presos no labirinto. Este, para reconquistar a liberdade, construiu
asas artificiais, usando cera do mel de abelhas e penas de gaivotas. Antes da
fuga, o pai alertou o filho de que não podia voar perto do Sol, porque ele
derreteria a cera das asas coladas ao seu corpo; nem muito perto do mar porque,
se tocasse suas águas, suas asas ficariam muito pesadas. Ícaro não ouviu os
conselhos do pai e, tomado pelo desejo de voar próximo ao Sol, acabou perdendo
suas asas; despencou e caiu no mar Egeu, enquanto seu pai, aos prantos, voava
para a costa. Moral da história mitológica: Ícaro pode voar alto, talvez até
consiga atingir alturas impensáveis, mas não pode atingir o cume, o topo, ou
seja, o Sol.
As investigações e as provas até aqui divulgadas,
no escândalo da Petrobras, já identificaram vários suspeitos dos nefastos
desvios (altos funcionários da empresa, brokers - doleiros intermediários -,
empresários, executivos, empreiteiras e políticos). Mas os grandes donos do
poder econômico e político (presidência da República: Dilma; presidência dos
partidos envolvidos: Michel Temer, dentre outros; presidência das Casas
Parlamentares: Renan Calheiros e Henrique Alves; verdadeiros donos das
empreiteiras, presidência da própria Petrobras etc.), mesmo se culpados,
continuam desfrutando da im (p) unidade que o sistema lhes
proporciona. Qual sistema? O ancorado no poder econômico que coopta o poder
político e todos os demais possíveis. O controle jurídico do poder
político-econômico de alto escalão costuma não acontecer em países como o
Brasil. Collor de Mello, reeleito duas vezes depois do impeachment (veja
a que ponto chega a alienação ou a consciência ingênua do brasileiro!), foi
exceção, porém, somente caiu porque desagradou tanto o poder econômico que o
apoiou como o restante poder político tradicionalmente cooptado pelo primeiro.
A dificuldade de se chegar nos verdadeiros
"poderosos" reside na férrea estrutura de poder (político-econômico),
que conta com mecanismos sólidos de blindagem. Alguns são operacionais, outros
são sistemáticos. Os operacionais (ou corporativos) são formados por estamentos
regiamente pagos para preservarem (nos atos ilícitos) os grandes donos do
poder. Dentre outros destacam-se os executivos bem remunerados nos casos das
empresas, particularmente das empreiteiras; os diretores no caso da Petrobras;
as estruturas partidárias nos casos da presidência da República etc. Os
sistemáticos são culturais e ideológicos. Regra fundamental dessa proteção é o
silêncio (a omertà) que, quanto rompido, gera estragos imensos no sistema
(Roberto Jefferson no mensalão, Paulo Roberto Costa e Youssef no petrolão,
empresas delatoras no caso do metrô de SP etc.). No mensalão do PT os Ícaros
(Jefferson, Procurador-Geral da República, Joaquim Barbosa e demais ministros
do STF etc.) voaram alto, mas não chegaram na presidência da República (mesmo
se valendo, às vezes abusivamente, da teoria do domínio do fato). Nos países
mais civilizados os organismos de controle funcionam mais eficazmente. Nesse
rumo temos que caminhar.
Da redação do Jornal da
Parnaíba
Por Luiz Flávio Gomes
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