Acaba de passar pela unidade de protocolo de
objetos e situações sem chances de recuperação ou sem serventia, pra finalmente
ganhar dentro de mais alguns meses ou anos uma grossa camada de poeira, aquele
que foi um dos mais falados e cantados, como se dizia no meu tempo, acidentes
geográficos do Piauí, a lagoa do Portinho, na divisa entre as cidades de
Parnaíba e Luiz Correia. Se bem que mesmo todo mundo admirando nunca se teve
notícia de que alguma coisa estava sendo feita pra lhe garantir a
sobrevivência.
Deu sinais de que precisava de ajuda e resistiu o
quanto pode, mas mesmo com toda essa cantoria no seu pé do ouvido agora é
morta, feito Inêz de Castro. Agora está naquela parte da casa, e a cidade é uma
casa ampliada, a despensa ou a casinha no fundo do quintal pra onde se rebolam todas as coisas que tiveram alguma utilidade
pra família, assim feito um jarro velho com a aseia quebrada, uns tamboretes de
apenas três pernas, uma televisão sem os botões de controle, umas mesas que
foram retiradas da sala porque não prestavam mais por serem pequenas ou grandes e a família
está crescendo ou diminuindo.
Aqui não se está nem enumerando pelo começo, mas
pelo que dá pra recordar. E até peço a ajuda de quem possa ordenar e
acrescentar mais coisas. Mas Parnaíba já teve fábricas de beneficiamento de
castanha de caju, Zona de Processamento de Exportação, Clube dos Trabalhadores,
Ferroviário, Estrada de Ferro Central do Piauí, Rádio Educadora, voos
internacionais, cobertura de ponto de ônibus, fábrica de pilar arroz, manjuba,
Country Clube, Cine Delta, Estádio Petrônio Portella, Moraes S/A, Vegetex,
Esplanada da Estação, Ipecea, Esnisa, transporte urbano de qualidade, Beira
Rio, Igara Clube, AABB. Belga, Rio Grandense, manga de foice, azeitona, ingá.
Também teve Marimbá, caju azedo, pitanga, Morros da Mariana...
Agora é a vez da lagoa do Portinho. Vai pro grande
armário do esquecimento e do descaso. Igual aquela olhada com o rabo de olho
quando se vai ao quintal dar uma mijada e se quer dar uma espiada no que ficou
da vida passada dentro de casa. Conhecido entre a molecada e pelos desocupados
de plantão de “já teve”. Vai fazer companhia com o porto de Luiz Correia, a
Belamina, a urbanização da lagoa do Bebedouro, praça da Graça, o bumba- meu
boi, marujada, quadrilhas de São João, o Porto das Barcas, Cine Éden, Cine
Ritz. Tem é coisa. O armário velho tá precisando de outros maiores, pois está
abarrotado e ainda vai chegar mais coisa.
Da redação do Jornal da
Parnaíba
Por Antonio de Pádua Marques


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