Levantamento do Instituto Avante Brasil mostra, em
valores atualizados, que os 31 casos principais de corrupção (de 1980 a 2014)
geraram um rombo ao erário público de R$ 120 bilhões. Campeão destrutivo do
dinheiro público continua sendo (por ora) o caso Banestado (R$ 60 bi), seguido
da Petrobras (cuja estimativa preliminar gira em torno de R$ 10 bi a R$ 20 bi).
Custa acreditar, mas, enfim, quem ignora todos esses fatos públicos e notórios?
Quem ignora que nosso País, um dos paraísos mais cobiçados da cleptocracia
mundial (em razão da quase certeza da impunidade), sempre se viu e sempre foi
visto como uma nação, para além de obscenamente desigual (dentre as dez mais
desiguais do planeta), completamente desmoralizada? Outro destino, menos cruel,
lhe poderia estar reservado, a mim não cabe nenhuma dúvida em afirmar isso;
seguramente o Brasil mereceria ocupar lugar distinto no concerto das nações,
especialmente as que desfrutam de respeitabilidade internacional; mas a cínica
política dos egoístas cleptocratas (ou seja: dos grandes ladrões) nunca lhe
permitira algo diferente do que realmente é, uma "republiqueta"
pujante, além de bela e futurista, mas desacreditada no conceito geral e
internacional, que parece estar, antes de tudo, condenada a representar senão a
escória de todas elas, ao menos, uma das menos confiáveis.
Em um paraíso da cleptocracia, como o nosso,
forma-se o círculo mais vicioso que se possa imaginar: as eleições são
caríssimas (R$ 5 bilhões foi o custo das campanhas de 2014); os políticos e os
partidos dependem de "financiamentos" generosos; muitos financiadores
procuram resgate por meio das benesses públicas (contratos e licitações),
distantes dos critérios da meritocracia, lisura, transparência e moralidade. O
dinheiro público, conquistado de forma ilícita, resulta ser o grande suporte
dos eleitos, que se comprometem com o fisiologismo partidário bem como com a
divisão do orçamento público conforme as conveniências dos grandes ladrões que
governam o País. Os gritos estridentes e inconformados, emitidos pelos
ladravazes, de que tudo isso seria uma falsidade ou exagero, não resistem à
mais superficial análise dos fatos. São os próprios envolvidos (executivos como
A. M. Neto, da Toyo) que estão divulgando a inusitada e cruel realidade de que
o dinheiro público alcançado pelo superfaturamento dos contratos é o mesmo (ao
menos em grande parte) destinado às "doações eleitorais". O
financiamento eleitoral virou lavagem oficial de dinheiro!
As campanhas eleitorais estão cada vez mais
esvaziadas de conteúdo programático. Muitas não passam de campanhas
violino: pega-se com a esquerda e toca-se com a direita! Ou seja:
ganha-se a eleição com os discursos progressistas e inclusivos da esquerda e
governa-se com os rigores restritivos da direita (ou vice-versa, conforme as
conveniências de cada momento). O que vale mesmo é a propaganda, não a
seriedade do programa de governo. E quem viabiliza a propaganda é o dinheiro (o
poder econômico) que, dessa forma, "compra" o maculado poder
político. Com isso fica deteriorado o processo eleitoral, que se agrava
sobremaneira quando se sabe que os candidatos são tratados como "objetos
de publicidade", não como os melhores para desempenhar a boa governança.
Os eleitores, nesse deplorável contexto fantasioso, se dividem e discutem (até
acirradamente) não a melhor opção para a sociedade, sim, qual é o melhor
produto publicitário, porque a propaganda entra no lugar dos programas assim
como dos pobres, estridentes e definhados debates. Nada mais favorável para se
desacreditar na política e nos políticos que assistir a um insosso debate desse
gênero. O dinheiro, em suma, compra votos, compra mandatos, compra favores:
desse círculo vicioso do clientelismo eleitoral nunca nos livramos.
Seria um equívoco rematado afirmar, no nosso pouco
espiritualizado país, a negação absoluta do bem. O bem existe, não há dúvida
(inclusive na res pública). Do contrário ainda estaríamos no regime
colonial, dependentes das tiranias da metrópole. Mas ao lado do bem é preciso
reconhecer a existência do mal. Mais ainda: é indispensável pintá-lo sem
nenhuma dissimulação em toda a sua integralidade, evitando-se o exagero. Seria
uma heresia propagar que não respiram entre nós muitos administradores e
pessoas públicas dotados de sentimentos honestos. Mas já passou da hora que
vermos sua absoluta preponderância, o que significaria a eliminação do serviço
público ou ainda a emenda bem como a profunda reforma de todos aqueles que se acostumaram
a viver (ou a se enriquecer) do alheio como se fosse próprio. Mais
transparência, marcos regulatórios eficazes, mais controle do poder político,
que chegou onde chegou em razão da frouxidão do império da lei: tudo está por
ser feito contra a cleptocracia brasileira.
Artigo do professor Luiz Flávio Gomes
Edição do Jornal da Parnaíba

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