Nesse feriado da Independência do Brasil me sucedeu
uma coisa aqui nesta Parnaíba que me fez lembrar uma situação vivida por mim e
meu irmão mais velho, o Raimundo, tão logo passei a morar definitivamente em
São Paulo já no final dos anos de 1970.
Como se sabe, todo nordestino quando está debaixo da asa de sua mãe e do
teto de seu pai vive reclamando que a terra não presta, não lhe dá a menor
condição de ser gente na vida e na primeira oportunidade, pode ser na frente de
estranhos ou até de conhecidos cobre ela de tudo em quanto é nome feio. Uma
revolta até que se justifica porque o Nordeste de tanto ser maltratado acabou
ficando feio.
Mas quando este nordestino está longe de sua terra
e encontra alguém por este mundo com algum traço de, sendo gente da família ou
de sua terra, então, menino, sua terra é a melhor terra deste mundo. Melhor não
há que se compre ou se compare. Não há neste encontro entre gente da boa terra
melhor momento do que este. É um tal de
achar graça sem fim e falar bem alto e sem a menor cerimônia, de mostrar os
filhos, de tomar a benção, lembrar as comidas do trivial e até as exóticas. Fica
o bicho falante, cheio de modos e delicadezas. Vira gente assim de uma hora pra
outra. Dizendo aqui agora ninguém acredita, mas é verdade. A gente fica mais
parecendo comadres em procissão tanta é a felicidade de encontrar que fale
testa a testa e sem intérpretes a nossa língua.
Mas voltando pro ponto de onde deixei cair a moeda
de cinquenta centavos, lembro que no domingo de feriado da Independência entrei
numa dessas vans que carregam gente do subúrbio, feito melancia, pro centro pra
assistir ao desfile e acompanhar por dever de ofício essa transmissão ao vivo
pela TV Delta. Depois de esperar uma, como dizia minha mãe, realidade, lá vem
uma saindo das bandas do Alto de Santa Maria. Naquela altura já coalhada de
gente. Gente saindo pelo ladrão. Uma cena típica daqueles filmes indianos com
os trens correndo de mato adentro e entupidos de gente e que quando tem um
descarrilamento e tudo pega fogo fede só a molambo queimado.
Mulher com menino de colo ou puxando pelo braço,
meninos de todo tope com cara de mal dormidos, daniscos e largados das mães,
livres pra aprontar uma peraltice. Mocinhas dedilhando o inseparável celular ou
com ele à mostra no bolso da bermuda e com aqueles óculos de sol enormes. Senhoras
com vestidos cor de abóbora. Rapazinhos ainda vestidos com camisetas da Seleção
Brasileira. Uma verdadeira prateleira humana dentro de um carro tão pequeno e num
calor dos infernos. E eu ali vendo aquilo tudo e pedindo a Nossa Senhora,
padroeira da Paciência, que me desse mais serenidade pra suportar aquilo tudo,
aquele enorme mosaico, mais parecido, mal comparando, com os afrescos do Taj
Mahal ou da Capela Sistina. E ainda tive que lá pelas tantas ficar esperando um
tempo enorme enquanto o motorista, com a maior sem cerimônia parava o carro pra
fazer as vezes de cobrador. Tivesse alguém precisando que aquele comboio
esvaziasse pra se fazer uma necessidade, soltar um vento que fosse, tal como
fez o pastor Everaldo no Jornal Nacional, a coisa iria feder.
E descendo deste trem nesta verdadeira viagem aos
cafundós da Índia a caminho do Centro Cívico, fico me coçando pra perguntar,
sei lá pra quem, até quando nós da Parnaíba vamos ter um dia transporte público
de qualidade. De preferência ônibus, daqueles bem grandões, onde a gente possa
esticar as pernas ou, sentados, na janela, olhando pra avenida, tipo gente
besta em cidade grande, não ter de ficar sendo incomodados com os poucos
assentos quando entrar uma mulher carregando menino ou um velho indo pro centro
receber o dinheiro da aposentadoria ou à procura de se consultar nalgum médico.
Até hoje eu não sei que caroço de goiaba é esse entre os dentes e a gengiva,
que travanca uma posição oficial sobre este problema de Parnaíba não ter
transporte público de qualidade, principalmente aos fins de semana. Uma
situação incômoda, tão incômoda, assim feito uma casca de cajá no céu da boca
ou espinho de pequi na ponta da língua.
Por Antônio de Pádua

3 comentários:
Quando a população de parnaiba de 200 mil habitantes fizer uma grande mobilização. Pra quebra o monopólio do transporte publico da cidade.
E os coitados dos idosos?
E os turistas???
E os estudantes????
A SEGUNDA MAIOR CIDADE do PI não tem ônibus, e mole???????
200 mil habitantes, sem falar no povo que vem de outros estados para todos os dias.
A situação e caotica!!!!!!!!!!!!
Isso so piora a imagem da cidade.
A cidade não tem coletivo bom, as van não presta só andar lotada e muito perigoso não tem seguranças e o povo devia fazer manifestação para melhorar o transporte público e o prefeito não olhar, só tem promessa.
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