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Antônio de Pádua |
Tenho observado nesta e noutras campanhas
eleitorais passadas uma mania dos políticos e candidatos quando prometem fazer
isso ou aquilo lembrarem apenas da capital do estado como se toda a população
desse estado morasse nela e no interior fosse habitado apenas por bicho bruto,
calango, macaco, jacaré, preá, nambu e outros mais que, segundo a lenda, foram acolhidos
na Arca de Noé sem qualquer distinção de raça, credo ou orientação sexual às
vésperas daquele dilúvio terrível. Dilúvio que segundo consta nas escrituras
inundou desde os campos de Marizeira até ao que é hoje a Barra do Longá passando
pelos Araioses.
Pro interior eles prometem, quando muito, uma
estradinha aqui, uma pontezinha de madeira ou até de concreto acola, mas que
pelo tamanho mal dá pra passar uma carroça puxada por um burro e carregada com
uma mudança de pobre. Dessas que o coitado do caboclo leva tudo e mais aquilo
que sobrou. Pro interior eles prometem também, quando muito, uma escola pra os
filhos dos caboclos, mas professor que é bom, os governantes mandam uns
elementos desmotivados e que na primeira dificuldade abandonam o emprego. Aí os
barrigudinhos, filhos dos caboclos, que tiveram um dia a esperança de deixarem
de ser analfabetos voltam pra casa de orelhas baixas.
E assim o interior dos estados no Brasil, quando a
questão é a promessa de campanha eleitoral. Vão ficando na mesma. Vivendo de
promessas pequenas, engolindo migalhas. E os prefeitos sendo cobrados pelo
eleitor na porta das suas casas ou quando mal chegam à entrada da prefeitura
vem uma ruma de gente lhe cobrar a promessa dada pelo governador durante a
caminhada e agora eleito. Eu comparo essa falta de atenção dos governadores
brasileiros em relação ao interior, feito igual aquela dona de casa desleixada
que só vive na porta da rua dando sentido a quem passa, ouvindo conversa de
vizinho e dando palpite naquilo que não é e nunca foi de sua ossada. Cuida
somente da fachada e se esquece do fundo.
E aquela dona de casa fica a manhã inteiras na
porta da rua dando definição em tudo o que se passa. Ouvindo e dizendo e se
esquece do quintal no fundo de casa, sem cuidado, o mato entrando pela porta da
cozinha. Nem se incomoda com o miserável de um cachorro pulguento que late o
dia e a noite inteira e ela não tem coragem de ir até lá onde está aquele
miserável pra colocar um pouco de água ou o pregado da panela. Interior precisa de estradas. Certamente que
sim. Interior precisa de escolas. Mais ainda e quanto mais, melhor. Interior
precisa de energia elétrica. Interior precisa de hospital. Essa necessidade
mais ainda. É extrema. Não pode esperar. Aqui fica essa minha observação ao
futuro governador do Piauí.
O interior precisa urgente de cuidados. O interior precisa
de cuidados especiais porque vive e sempre vai viver uma situação especial. O
interior precisa ser visto como uma região onde mora gente. Gente que trabalha
e produz. Gente que tem filhos. Gente que tem filhos que precisam de escolas,
de hospitais e de incentivo profissional. Cuidados com sua gente, seus
problemas. Sua infinita e duradoura capacidade de fornecer alimentos pras
cidades.
Se o governador não coloca equipamentos de
infraestrutura na mão e pra uso da população da zona rural, essa população
rural certamente vem buscar estes equipamentos e serviços na capital e daí a
situação decorrente todo mundo sabe onde vai dar. Não existe um estado forte
com seu interior vivendo na calamidade e na pobreza. Nunca me conformei com a
definição de alguns antropólogos de que temos gente no Brasil vivendo na
pobreza absoluta.
Prefiro acreditar noutra corrente que acredita na
pobreza residual, aquela decorrente da diferença de atenção e abertura de
oportunidades respeitando as diferenças de cada grupo. E lembro que os dois mais expressivos
candidatos, o atual governador, Zé Filho, do PMDB é do interior. Wellington
Dias, do PT, é do interior. Os dois certamente pela experiência pessoal e
política de representatividade sabem das necessidades da população do interior
do Piauí. Sabem que um interior pobre, desassistido, distante das ações e das
atenções do governo estadual vai sempre puxar pra baixo qualquer tentativa de
desenvolvimento.
Por Antônio de Pádua
Edição do Jornal da
Parnaíba
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