segunda-feira, dezembro 16, 2013

A navegabilidade do rio Parnaíba, para quem?!

Assoreamento do Rio Parnaíba decorrente da intensa
erosão que vem se processando em suas margens
Outro dia participei de mais uma reunião que visava discutir uma importante ação estruturante para os estados do Piauí e do Maranhão: a navegabilidade do rio Parnaíba. A estratégica falha de mobilização reuniu no auditório do Delta Park Hotel cerca de 20 pessoas. Isso mesmo apenas vinte pessoas.

Mas, este deslize não é o foco da nossa análise. Chamou-me à atenção a abordagem da empresa de consultoria (Consórcio Hidrotopo-Dzeta) contratada pela Administração das Hidrovias do Nordeste (AHINOR), subordinada ao DNIT para elaborar um Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica e Ambiental (EVTEA) com alternativas para implantação da Hidrovia do Parnaíba.

Transporte por hidrovias tem o menor custo entre os modais
O EVTEA contempla levantamentos de dados físicos da hidrovia, de portos e estruturas físicas existentes, pesquisa de cargas dentre outros. O estudo norteará as diretrizes e ações para implantação da hidrovia tais como dragagens, derrocamentos, sinalização e balizamento.

O Consórcio HIDROTOPO-DZETA é responsável pelo EVTEA com o custo de 5,1 milhões de reais (PAC 2), onde a empresa tem o prazo de trezentos dias consecutivos, a contar de 16 de agosto de 2012, para finalização do material.

Na barragem de Boa Esperança deverá ser construída uma
eclusa
A Hidrovia do Parnaíba, com uma extensão aproximada de 1.600 km, é constituída pelos rios Parnaíba e Balsas, além dos canais que formam o delta do Parnaíba. Administrada pela AHINOR serve, principalmente, para o transporte de cargas de interesse regional. Porém, dispõe de potencial para o escoamento de grãos produzidos nas fronteiras agrícolas em sua área de influência.

Nos últimos anos o nordeste e sudeste do Maranhão, sudoeste do Piauí, noroeste da Bahia e nordeste do Tocantins têm se tornado grandes centros produtores agrícolas (entre outros, soja, milho e arroz). Está havendo, ainda, nessas regiões, o incremento das indústrias de beneficiamento desses produtos. A hidrovia é considerada um potencial corredor para o escoamento dessas commodities para outras regiões brasileiras e exportação para diversos países, por meio de alternativas de rotas intermodais, utilizando a interconexão com as rodovias e ferrovias e com os terminais portuários de Itaqui (MA) e Pecém (CE).

Os principais obstáculos existentes à navegação no rio Parnaíba são bancos de areia e alguns afloramentos rochosos. Como é abundante o transporte de material carregado pelo rio, decorrente da intensa erosão que vem se processando em suas margens, é intenso também seu processo de assoreamento.

De acordo com informações da AHINOR, o transporte de cargas pela hidrovia possibilitará uma redução significativa do custo do frete, obtendo-se preços mais competitivos, especialmente perante aos mercados internacionais, além de promover o desenvolvimento regional na área de influência da bacia do Parnaíba.

“Essa obra possibilitará o escoamento da produção agrícola, exportação, e ainda a significativa redução de custo do frete, obtendo-se preços mais atrativos para o consumidor final, tornando o produtor mais competitivo perante o mercado internacional” fala da consultoria que defende a obra sob o viés meramente econômico.

Chama-nos à atenção a exclusiva concepção do projeto plantado na dimensão econômica, pois as informações até aqui obtidas não contemplam a necessária revitalização do rio Parnaíba. Assoreado, servindo de canalização de dejetos e esgotos de toda a natureza, suprimida a sua vegetação ciliar, o rio Parnaíba agoniza!

Durante a discussão levantamos dois aspectos: 1) como está a integração desse projeto com o Plano de Desenvolvimento da Bacia do Parnaíba, proposto pela CODEVASF e que prevê um programa de revitalização do rio? 2) como está a integração com o Ministério do Meio Ambiente, uma vez que ao longo da bacia temos três Unidades de Conservação (Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, Estação Ecológica Uruçuí-Una e APA Delta do Parnaíba) estratégicas para a gestão socioambiental da região? Atônitos, recebemos a informação de que “infelizmente há uma falta de integração no governo”. Qual é então o objetivo deste projeto? Abrir canais de navegação sem se preocupar com a revitalização do rio? Para atender a quem?


Fernando Gomes, sociólogo, cidadão, eleitor e contribuinte parnaibano (foto ao lado)
Edição do Jornal da Parnaíba
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