A industrialização do caranguejo-uçá no Delta do
Parnaíba é uma das alternativas para estimular a exploração sustentável e
agregar valor ao produto final, beneficiando os mais de 4,5 mil catadores que
vivem da captura e comercialização da espécie na divisa dos estados do Maranhão
e do Piauí. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do
Parnaíba (Codevasf) – em parceria com outras instituições – apoia a
estruturação da cadeia produtiva com ações que buscam o desenvolvimento
sustentável da atividade.
“Após reuniões realizadas com catadores de
caranguejo e com responsáveis por empresas de processamento de pescado da
região, a Codevasf implementou projeto-piloto para a industrialização do
caranguejo-uçá, na própria região do Delta, onde foram desenvolvidos produtos,
que foram testados em restaurantes de Fortaleza (CE), Recife (PE), Parnaíba e
Teresina (PI). Além de altamente viáveis técnica e economicamente, os produtos
apresentaram ótima aceitação entre consumidores de estabelecimentos onde foram
experimentados”, destaca o engenheiro de pesca e assessor da presidência da
Companhia, Albert Bartolomeu Rosa.
“A pesquisa foi muito importante, mostrou que tem a
possibilidade de trabalharmos com o caranguejo sem ter muita perda. A maioria
dos catadores que participou da pesquisa concordou com a maneira porque valorizaria
a produção e, com o pouco que a gente produzisse, o ganho daria para nos
mantermos”, afirma o catador de caranguejo-uçá Marco Antônio dos Santos Costa,
que trabalha há 33 anos catando caranguejo na região do Delta do Parnaíba. “É a
nossa fonte de vida. É da minha profissão de catador e pescador que desde os 16
anos tiro o sustento da minha família”, diz.
Os caranguejos extraídos dos mangues são amarrados
em conjuntos de quatro unidades em “cordas”, que são agrupadas em dez unidades,
formando o que é conhecido como “cambada”. Após a captura, os caranguejos ficam
expostos ao sol, a altas temperaturas, sendo umedecidos com frequência e
cobertos com folhagens extraídas do mangue. Daí eles seguem para os portos,
onde são transferidos para caminhões que realizam o transporte para outras
localidades. Os caminhões são carregados com cerca de três ou mais toneladas de
caranguejo, amontoados em pilhas de mais de um metro, cobertos por lona, sem
refrigeração, e são transportados por cerca de 350 a 500 km até as cidades de
destino.
“Basicamente, a Codevasf buscou criar uma
alternativa à forma como o caranguejo chega atualmente ao mercado. Atualmente,
eles ainda são transportados em carrocerias de caminhonetes e caminhões,
empilhados em colunas que chegam a superar um metro de altura, ao ponto que,
considerando todo o processo, desde a captura até a chegada ao mercado, as
perdas superam 50%”, explica o engenheiro de pesca da Companhia.
Durante o projeto-piloto – como alternativa para
reduzir a mortalidade que ocorre ao longo da cadeia produtiva e criar produtos
com maior valor agregado – foram desenvolvidos e testados nove produtos,
examinados e avaliados quanto à metodologia de processamento, aos parâmetros
químicos, microbiológicos e sensoriais obtidos e à aceitabilidade de
consumidores em testes nos restaurantes. Um dos resultados do projeto foi a
publicação do livro “Industrialização do caranguejo-uçá do Delta do Parnaíba”,
editado pela Codevasf.
A tecnologia desenvolvida pela Companhia durante o
projeto-piloto – que contou com consultores internacionais com experiência em
industrialização de caranguejos, mesmo sendo de espécies diferentes da
existente no Delta do Parnaíba – está disponível para os empreendedores
interessados em fortalecer a atividade extrativista e contribuir para a
organização e a sustentabilidade dessa importante cadeia produtiva da região
Nordeste.
“Ela vai ajudar a preservar a espécie no mangal,
porque vai ter mais caranguejo; vamos catar selecionando os caranguejos,
somente os grandes, os mais graúdos; vai valorizar o preço; e não vai ter tanta
perda caranguejo. Vai ter mais caranguejo e nós vamos ganhar mais com o pouco
que produzirmos, com um caranguejo de maior qualidade”, comenta o catador Marco
Antônio dos Santos Costa.
Além de empresários da região que estudam implantar
a tecnologia em escala de produção, a iniciativa da Codevasf chamou a atenção
da produtora de cinema e TV Gullane. A empresa, responsável por filmes como
“Carandiru” e “O ano em que meus pais saíram de férias”, está produzindo o
documentário “Costa do Brasil” para mostrar a diversidade brasileira. Com cinco
episódios – que devem ser exibidos no início de 2014 pelo canal Arte, na
França, e depois pelo Canal Brasil –, a história dos catadores e da
industrialização do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba, apoiada pela Codevasf,
deve ser um dos destaques do documentário.
Parcerias
A Codevasf executou o projeto-piloto de
industrialização de caranguejo-uçá da Planície Litorânea do Parnaíba – com base
na tecnologia de industrialização empregada no Chile para outras espécies de
caranguejos – com recursos da Secretaria de Programas Regionais do Ministério
da Integração Nacional e em parceria com a Fundação de Educação, Cultura e
Desenvolvimento Tecnológico (Fundetec) e o Instituto Ambiental Brasil
Sustentável (IABS).
Também participaram do projeto a Associação dos
Catadores de Caranguejo Delta-Uçá, que forneceu a matéria-prima, e a empresa
SECOM Aquicultura, Indústria e Comércio S.A., onde foram elaborados os produtos
com todas as exigências requeridas pelo Serviço de Inspeção Federal do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Para estruturação e sustentabilidade da atividade,
a Codevasf construiu o Centro de Recepção e Comercialização de Caranguejos do
município de Ilha Grande (PI), em parceria com o Governo do Estado do Piauí;
realizou o microzoneamento ecológico-econômico da Planície Litorânea do
Parnaíba, por intermédio da Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da
Universidade Federal do Maranhão; e realizou estudo para avaliar o potencial de
industrialização de caranguejo no Delta do Parnaíba, com financiamento do
Ministério da Integração Nacional.
Transporte
adequado
A unidade Meio Norte da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou o uso de caixas de plástico
(monoblocos) com esponjas úmidas como alternativa para o transporte dos animais
vivos para evitar a desidratação dos caranguejos e proporcionar melhores
temperaturas durante o transporte, melhorando os índices de sobrevivência e
rendimento do produto.
Em julho deste ano, o Ministério da Pesca e
Aquicultura estabeleceu, por meio de instrução normativa, padrões e normas de
acondicionamento adequado para o transporte terrestre e aquaviário de carga
viva de caranguejo-uçá nos estados do Pará, Maranhão, Piauí e Ceará. Além de
cadastro no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), os responsáveis pelo transporte terrestre devem
acondicionar os caranguejos desamarrados em caixas plásticas vazadas, forradas
com espuma de acolchoamento embebida em água; e em caixas plásticas vazadas,
sacos, paneiros, peras ou acomodações que garantam a sobrevivência dos animais
no transporte aquaviário.
Edição do Jornal da
Parnaíba | Fonte: Codevasf
Um comentário:
Quem garante a lucratividade de um projeto de industrialização é a escala de produção e a entrada de matéria prima para industrialização. Industrializar o caranguejo uçá vai ser a maior catástrofe ambiental ou a indústria falida será mais um elefante branco no litoral.
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