Arquiteto piauiense, natural de Parnaíba, Gerson
Castelo Branco, concede entrevista e é destaque em site nacional.
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Arquiteto piauiense, natural de Parnaíba, Gerson Castelo Branco |
O arquiteto piauiense Gerson Castelo Branco, criador da Potycabana, foi
destaque no site do jornal paranaense Gazeta do Povo, um dos mais importantes
do Brasil. A matéria traz uma entrevista exclusiva feita pela publicação.
Confira matéria na íntegra:
Movido a inspiração desde sempre, o arquiteto
autodidata Gerson Castelo Branco confessa estar em ritmo desacelerado. Ele
prefere escolher os trabalhos a que se dedica e ministrar palestras pelo
Brasil. Ou seja, apenas poucos e seletos clientes têm a perspectiva de viver em
um imóvel construído com materiais reciclados da natureza, no estilo “casa de
praia de luxo” que consagrou o piauiense – as “paraqueiras”. O profissional
selecionado por Oscar Niemeyer como um dos 50 mais influentes no mundo diz que
não liga para os efeitos disso no bolso – prefere pensar na alma. “Sobrevivo no
peito e na marra, como qualquer profissional de arquitetura brasileiro”, conta.
Esse jeito desprendido teve auge nos anos 1970, quando Gerson deixou a
faculdade de artes plásticas para morar em uma aldeia de pescadores na Bahia.
A sustentabilidade e o amor à profissão têm sido
justamente o tema da fala de Gerson no ciclo itinerante de palestras Docol, que
o fez passar por Curitiba em julho.
Sustentabilidade
é uma palavra economicamente forte hoje em dia. Tudo que é vendido com este
selo é realmente sustentável?
Quando essa palavra virou moda é que descobri que o
que eu fazia no Piauí na década de 1970 era sustentável. Este planeta é uma
deformação, todos os processos são degenerativos. Somos 7 bilhões de animais
predatórios. Esta prática ainda está muito no discurso, mas o planeta está
pedindo socorro.
Você costuma
dizer que a arquitetura brasileira visa a ostentação. Por que?
Para produzir algo para algum lugar, é preciso que ele
fale o que quer. Quando chego para produzir algo, pego informações de todos os
tipos. No Brasil, vive-se dentro de gaiolas climatizadas artificialmente. Todos
os materiais são impostos pela indústria já nas escolas de arquitetura. Não sou
arquiteto, nunca fui a essa faculdade, mas desenho desde os 14 anos. Como
sempre vivi em regiões muito pobres, me incomoda passar de carro junto de
pessoas que não têm nada. Então, trabalho com arquiteturas vernaculares,
utilizando materiais do entorno. A Casa da Serra [onde mora] é toda feita de
talos de madeira, como uma gaiola. Ela vai durar tanto quanto eu, enquanto eu
fizer manutenção. A arquitetura brasileira precisa ter uma cara, uma
identidade. Mas o mundo está cada vez mais globalizado, tecnológico.
Isso faz com
que você tenha materiais preferidos?
Não sou fechado a materiais. Cheguei a usar aço em
uma casa de Sorocaba (SP). Você mantém o desenho, mas usa outras
possibilidades. É interessante porque você pode ir do aço ao talo sem perder a
essência. Prefiro os naturais porque eles interagem com o nosso físico. Existem
materiais que são totalmente contrários à saúde do ser humano e procuro
evitá-los. Além de usar a identidade da região onde o imóvel está. O Museu
Oscar Niemeyer e a Ópera de Arame, por exemplo, são elementos que vendem a
cultura do Paraná e servem para a função a que são destinados.
Por que você
critica a tendência dos brasileiros em buscar referências europeias?
O Brasil é um samba do crioulo doido, com
referências culturais extremas. Os materiais usados em um clima frio, onde o
mofo se cria, têm de ser diferentes de lá em cima [no Norte/Nordeste]. Lá há
mais recursos – venezianas, treliças de madeira. Mas a tecnologia permite
migrações. Na Casa da Espanha [em Loiba], por exemplo, onde venta muito, foram
usados vidros inclinados na área social. São esquadrias perfeitas que aguentam
os ventos sem quebrar.
Como você vê
as escolas de arquitetura hoje?
Uma escola produz arquitetos em massa. O mercado
não comporta isso. A arquitetura é uma profissão nivelada por baixo. Não sei
hoje em dia quanto cobrar, nem como. Costumo fazer uns três orçamentos. Existe
ainda uma coisa insuportável: quem paga o arquiteto não são clientes, mas
fornecedores. Antigamente, se chamava “comissão”, hoje se usa o termo “reserva
técnica”. É lamentável. Você fica em um processo de querer empurrar ao cliente
materiais e móveis a mais porque é mais interessante economicamente.
Edição do Jornal da
Parnaíba | Fonte: Gazeta do Povo
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