Editorial do jornal O Estado de S. Paulo (01.05.13,
p. A3) fez duras críticas à proposta do governador Geraldo Alckmin de alteração
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no sentido de aumentar o tempo
de internação dos menores que praticam crimes violentos (hoje limitado a três
anos). De fato, a legislação brasileira, nesse ponto, é uma das mais liberais
do mundo, mas em um momento de “comoção pública intensa”, o que se deve esperar
dos governantes responsáveis “é serenidade para resistir às propostas
demagógicas populistas, que oferecem soluções mágicas que agravam em lugar de
resolverem o problema” (veja nosso livro Populismo penal midiático,
Saraiva: 2013).
O governador, diz o editorial, “cedeu à tentação do
discurso fácil e, no embalo da emoção que ora contamina a reação popular a
esses terríveis episódios, tenta auferir algum ganho eleitoral”. Aproveitou o
“clamor popular” para desfechar uma cruzada em favor do endurecimento da lei
penal, com a promessa de que isso resolve o problema.
Não temos que apoiar ou ficar indiferentes a esses
macabros atos de violência praticados por alguns menores, mas o governador “não
podia propor, demagogicamente, o que ele não tem condições de cumprir”, ou
seja, as instituições que abrigam menores não contam com nenhuma vaga mais (as
8 mil disponíveis já estão sendo ocupadas por mais de 9 mil menores). O sistema
penitenciário paulista, também falido, está com déficit de mais de 80 mil
vagas. O índice de reincidência é altíssimo, o que evidencia que tais
instituições não funcionam adequadamente. E ainda existem 18 mil mandados de
prisão por cumprir, no estado.
O legislador brasileiro, diante do problema da
criminalidade, desde 1940, não faz outra coisa que aumentar o rigor dos
castigos penais. O que conseguiu com isso? Em 1980, tínhamos 11,7 mortos para
cada 100 mil pessoas. Em 2010, fechamos com 27,4 para a mesma quantidade de
habitantes. Passamos a ser o 18º país mais violento do mudo. Ou seja: a
política populista punitiva não é solução. Trata-se de verdadeiro charlatanismo
discursar em sentido contrário.
Mas a falácia de que a repressão é a solução
continua em voga. Enquanto não experimentarmos nossa emancipação moral e
aprendermos aproveitar os bons momentos econômicos (como este que estamos
vivendo – 7ª economia mundial) para lutarmos por educação de qualidade nas
escolas, nenhuma evolução significativa (do país como um todo) podemos esperar.
Sem educação nas escolas, efetiva e intensa (dos 6 aos 17 anos, das 8 às 18h,
diariamente), só estaremos preparando nossos jovens nas ruas para o aumento da
produção da nossa fábrica de carnes e ossos regados a sangue.
Por: Luiz Flávio Gomes
Edição: jornaldaparnaiba.com
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