Alunos de colégio estadual de Cocal dos Alves têm
renda familiar de até 1 salário mínimo.
Hoje ele considera que saiu da lama. Filho de
agricultores sem renda fixa, praticamente semianalfabetos e moradores da zona
rural de Cocal dos Alves – um dos municípios mais pobres do interior do Piauí,
a 260 km de Teresina –, Vitaliano Amaral, de 29 anos, nadou contra a corrente das
adversidades. O trabalho árduo na roça e o antigo sonho de ser vigia deu lugar
à carreira de pesquisador no mestrado em Matemática da Universidade Federal do
Piauí.
Mas essa guinada não teria ocorrido se ele não
tivesse concluído os estudos na Escola Estadual Augustinho Brandão. Única do
município, é considerada a instituição de maior performance no ensino médio no
País – ela coloca alunos com grande defasagem educacional no mesmo patamar
daqueles que têm melhores condições de aprendizagem por pertencerem a famílias
com condições financeiras e culturais privilegiadas.
No ranking nacional, com 10.076 escolas (com alunos
de todos os níveis socioeconômicos), ela fica na posição 4.260. No Estado, é a
melhor instituição pública estadual e, considerando as 198 do Piauí, é a 56.ª
mais bem classificada.
Para chegar a esses dados, o Estado solicitou
à Meritt Informação Educacional o cruzamento das informações do MEC com um
estudo feito recentemente pelos pesquisadores Maria Teresa Gonzaga Alves e José
Francisco Soares, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Eles traçaram o perfil socioeconômico dos alunos das escolas
brasileiras.
“Só a gente acreditava no nosso trabalho”, conta a
diretora e supervisora da Augustinho, Kuerly Brito, de 34 anos. “Com a grande
aprovação nos vestibulares, temos ex-estudantes que hoje são psicólogos,
fisioterapeutas e professores. Temos dois alunos cursando pós-graduação em
Teresina e Fortaleza.”
Para Soares, da UFMG, Cocal dos Alves é “um exemplo
de que, mesmo sendo forte, o determinismo social pode ser vencido”. “É o efeito
da escola – e não da família – que gera esse resultado excepcional. É o oposto
do que acontece, por exemplo, numa escola de elite em São Paulo”, diz.
Criada em 2003, a escola ganhou em 2011 uma nova
sede, com instalações modernas. A mudança transformou a Augustinho Brandão na
construção mais bonita da cidade, frequentada por alunos em todos os turnos.
E se a estrutura ajuda, a gestão contribui ainda
mais. Os resultados estão fazendo com que o modelo seja referência. “Estamos
desenvolvendo um projeto para que o modelo de gestão seja seguido por unidades
de ensino de dez municípios”, diz o secretário estadual de Educação, Átila
Freitas Lira.
Desafios
Por trás da fama da escola – que tem 10
professores, 1 coordenador e 1 diretora para 135 alunos – está um árduo
trabalho. “Primeiro fizemos, trouxemos resultados. Depois, pressionamos a
secretaria para que a infraestrutura melhorasse”, afirma a professora de
português, Aurilene Brito. Ela destaca, porém, que a improvisação das
instalações antes da reforma nunca impediu o trabalho dos professores. “No início,
tínhamos apenas duas salas de aula e um pátio minúsculo. Usávamos a cantina
para ter outro lugar para dar aula.”
Mesmo com as melhorias, os alunos comem em pé, pois
não há refeitório. Também faltam quadra de esportes e laboratório de ciências.
Mas o principal problema é a instabilidade da energia. O fornecimento, que
nunca foi regular, piorou desde junho. Quedas de energia chegam a ocorrer até
três vezes em um minuto. A moderna sala de informática não é usada para evitar
a queima dos equipamentos.
Segundo a secretaria, em janeiro será construída
uma subestação de energia para atender a escola. Sobre a ausência de quadra,
laboratório e refeitório, a secretaria informou que serão construídos até junho
de 2013.
Edição: Jornal da Parnaíba | Por Davi Lira, de O
Estado de S. Paulo
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