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Florentino Veras Neto, primeiro prefeito eleito pelo PT em Parnaíba |
Foram necessárias três décadas para o Partido dos
Trabalhadores-PT chegar à prefeitura de Parnaíba, a segunda maior cidade do
Estado. A chegada ao poder foi fruto de um trabalho persistente
construído lentamente por um grupo de idealistas da vanguarda petista que deram
tudo de si na crença de que muitas vitórias pudessem ser possíveis, inclusive a
conquista do poder municipal. O primeiro passo desta grande jornada se deu nos
primórdios do partido que foi organizar os movimentos sociais e suscitar nos
meios populares o desejo de participar da vida política e ser protagonista de
sua própria mudança.
A história do Partido dos trabalhadores em Parnaíba
remonta os idos de 1981, quando os companheiros Reginaldo Costa , Raimundo
Madalena, Álvaro Ramos, Roberto Barros, Reinaldo Barros e Murilo Melo, Coutinho
(in memoriam), entre outros decidiram
fundar o PT no município. A proposta foi levada inicialmente ao meio
estudantil, às comunidades de base e aos grupos de cultura.
Visando por em prática os ideais petistas de unir
os trabalhadores do campo e da cidade, buscou-se no povoado Tabuleiros, o
primeiro presidente do Partido, o companheiro Silvestre e também o primeiro
candidato a prefeito, o companheiro Inácio, ambos trabalhadores rurais.
Porém, apesar do entusiasmo dessas lideranças, no
meio da sociedade, o convencimento sobre a aceitação do Partido dos
Trabalhadores não era levada a sério, sequer chegava ao meio de todos. Não
tinha mídias favoráveis nem figuras ilustres que pudessem ajudar a fazer o
convencimento. A criação do partido parecia mais uma piada aos olhos dos
Paraibanos, que estavam acostumados a votar em pessoas influentes e poderosas.
A primeira disputa do PT à prefeitura de Parnaíba
foi acima de tudo um ato de idealismo e coragem, principalmente porque a
população não acreditava na viabilidade em sua viabilidade eleitoral. Do ponto
de vista de estrutura, não contava absolutamente com nenhum tipo de logística,
tão pouco existia recursos financeiros para custear as mínimas despesas de
material de propaganda. Os candidatos eram pessoas muito simples do meio do
povo, que andava a pé ou de bicicleta. A propaganda era feita em papel
mimeografado ou poucas pinturas em muros. A propaganda era feita nas
comunidades de base do campo e da cidade e de porta em porta,
Para as eleições de 1982 apresentou-se como
candidato a Prefeito, o companheiro Inácio João de Araujo, trabalhador rural e
vigia e como vice o também trabalhador rural Francisco Silvestre, residente no
povoado Tabuleiro. Ambos á época sexagenários, pouco letrados, moradores nas
terras pertencentes à Diocese de Parnaíba. O dois pouco entendia de
política, mas viviam insatisfeito com o modo como as famílias ricas conduziam
os destinos dos paraibanos. Compreendiam bem que os pobres, trabalhadores
rurais e desempregados precisavam participar da vida publica, pois assim seria
uma oportunidade de que alguma coisa pudesse mudar. Acostumado a votar na
família “Silva” ou seus comandados, agora se rebelavam e procuravam votar em si
mesmo.
Aquele gesto era a expressão do que também
desejavam os milhares de trabalhadores, intelectuais e estudantes que reunidos
no colégio Sion em São Paulo, haviam criado o PT em 1980, tendo como expressão
maior o operário e sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.
Os companheiros Inácio e Silvestre aceitaram o
desafio de enfrentar nas urnas o Dr. João Tavares da Silva Filho, irmão do
influente político Alberto Silva. Além de outros representantes de peso do
poder local. E a nível estadual, José Ribamar dos Santos enfrentava Hugo
Napoleão do Rego Neto concorrendo ao governo do estado.
“Homem de pouco vocabulário político, falava nos
comícios ao minguado publico de participantes dos eventos apenas os jargões da
gramática do cotidiano dos petistas: “trabalhador tem que votar em trabalhador”
“é preciso eleger um candidato do PT para se ter direito a terra, ao emprego e
a moradia”. em geral não apresentava propostas plausíveis de serem realizados,
apenas, grandes idealismo e entusiasmo que viria a marcar. a vida petista.
Inácio, aquele homem aparentemente rude, marcado
pelas durezas do trabalho estafante da roça e dos biscaites sazonais estava
tendo pela primeira vez a oportunidade de se sentir “importante” participando
como protagonista da política, na terra dos mandatários tradicionais da
política piauiense desde Simplício Dias da Silva.
A chapa encabeçada por Inácio e Silvestre era
composta de 11 candidatos a vereadores, um numero suficiente para a composição
numérica do diretório municipal, todos engajados em alguma atividade sócia
cultural considerada revolucionaria para a época, que era o movimento
estudantil, as comunidades de bases (CEBS), grupos de jovens do meio popular,
pastorais, musicistas, carnavalescos, etc.. Eram jovens com ideais e rebeldia,
próprio da juventude. Os principais membros que compunham a chapa de vereadores
eram: Roberto Barros, Raimundo Madalena, e Reginaldo Costa e Coutinho. Estes
eram os que tinham maior envolvimento nos movimentos sociais. Naquela época
tinha a exigência partidária para que a pessoa mais destacada na atuação social
pudesse fazer parte da chapa eleitoral.
Naquele mesmo período ocorriam também às eleições
estaduais e o candidato a Governador e o Vice eram também trabalhadores
sindicalista do meio rural (José Ribamar Santos e Luiz Edwirgens, o que dava ao
partido um viés camponês e um discurso voltado para o alcance do campesinato).
O grande ato dessa campanha foi um comício de
encerramento que ocorreu no Bairro São José, na Praça José Narciso. Um único
carro de som alugado era o que podia se contar para anunciar o comício. O
veiculo percorria os principais bairros da cidade anunciando o evento que iria
se realizar naquele bairro por conta de que ali morava seu principal líder, que
era o também candidato a vereador, Reginaldo Costa. Era anunciado que estariam
presente naquele evento, grandes nomes do PT vindo da capital do Estado, como
Antonio José Medeiros, e o próprio candidato a governador, Ribamar Santos.
No ato que contou com menos de 100 pessoas, ficou marcado pela critica a
ditadura militar, denuncia dos problemas de desemprego e miséria sofrida pelos
brasileiros, eleições diretas para presidente da republica, constituinte livre
e reforma agrária sobre o controle dos trabalhadores, não pagamento da divida externa,
contra o FMI. Os discursos eram acalorados, mas a maioria prestava atenção
muito mais no entusiasmo da emoção dos candidatos e na coragem dos mesmos em se
disporem a participarem da política e fazerem denuncia.
Nesse ato, seu Inácio nada falou, somente foi
apresentado. As palavras lhe faltaram e não teve como organizar as ideias e foi
substituído na oratória pelo então candidato a vereador Reginaldo Costa, que
era excelente orador.
Apurada as eleições a chapa petista apresentou um
fraco desempenho. O mais votado foi Reginaldo Costa com 106 votos, em segundo
lugar, a Raimundo Madalena, com 16 votos seguido de Roberto Barros com 09
votos. O candidato a prefeito teve menos votos do que o vereador mais votado,
Reginaldo Costa.
E assim durante muitos anos o partido foi se
construindo com o esforço e a luta de vários companheiros, obtendo
posteriormente adesões importantes de segmentos dos sindicatos, da academia e
das igrejas, personalidades como a professora Elisa Aranha, o escritor Wilton
Porto, Argemiro e Mirian, Antonio Carlo, Alcione, Dudy, Cardozo, Iolanda e
Assis Coelho, Maia, Paulo Marques, Kleber Lima, Dourado, Nazaré, Escócia, Rosa
Souza, Almir Nogueira, Veralucia, (in memoriam) entre tantos outros. A
bem da verdade, o partido se consolidou nas lutas populares, apoiando as
comunidades na luta contra despejos arbitrários e pelas melhorias de
infraestruturas locais. Uma das comunidades que mais se destacou naquela
oportunidade foi o Bairro Santa Luzia que apoiados pelo padre redentoristas
Pedro, Cahir, conseguiu grandes vitorias que foram incorporadas na consolidação
do PT, sendo essa comunidade, até hoje um grande referencial do Partido dos
Trabalhadores.
Hoje, ao eleger seu primeiro prefeito numa luta de
três gerações, encampada agora com os ideais de um jovem que incorporou a
historia e a luta petista, o PT prossegue firme, quebrando um tabu na política
parnaibana, vencendo um paradigma histórico de que não é só as famílias
ilustres e os partidos tradicionais que podem governar uma cidade. Nada mais
justo, nessa oportunidade que relembrar um pouco de sua historia e fazer menção
as suas primeiras lideranças, principalmente Reginaldo Costa e Raimundo
Madalena que com muita bravura ajudaram a construir e consolidar esse
importante e grandioso partido, o Partido dos Trabalhadores!
Autor: Álvaro
Ramos de Oliveira - Secretario Agrário do PT Estadual e Fundador do PT
em Parnaíba. E-mail: Alvaromiq@bol.com.br (86) 99701136
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