sexta-feira, dezembro 28, 2012

A gênese do PT e a primeira eleição em Parnaíba

Florentino Veras Neto, primeiro prefeito eleito pelo PT em Parnaíba
Foram necessárias três décadas para o Partido dos Trabalhadores-PT chegar à prefeitura de Parnaíba, a segunda maior cidade do Estado.  A chegada ao poder foi fruto de um trabalho persistente construído lentamente por um grupo de idealistas da vanguarda petista que deram tudo de si na crença de que muitas vitórias pudessem ser possíveis, inclusive a conquista do poder municipal. O primeiro passo desta grande jornada se deu nos primórdios do partido que foi organizar os movimentos sociais e suscitar nos meios populares o desejo de participar da vida política e ser protagonista de sua própria mudança.

A história do Partido dos trabalhadores em Parnaíba remonta os idos de 1981, quando os companheiros Reginaldo Costa , Raimundo Madalena, Álvaro Ramos, Roberto Barros, Reinaldo Barros e Murilo Melo, Coutinho (in memoriam), entre outros decidiram fundar o PT no município. A proposta foi levada inicialmente ao meio estudantil, às comunidades de base e aos grupos de cultura.

A iniciativa partiu de Reginaldo Costa, Paraibano recém-chegado do Rio de Janeiro em 1981 de onde tivera uma militância como bancária e agora atuando em Parnaíba como jornalista e professor buscaram nesses espaços as condições para a criação do Partido dos Trabalhadores. Como professor na disciplina de química do primeiro ano cientifico, na unidade Escolar Raquel Magalhães, Reginaldo Costa estrategicamente divulgou as ideias centrais do Partido obtendo a adesão de vários alunos entre eles Álvaro Ramos e Raimundo Madalena. No Movimento inovação de onde era jornalista e diretor, buscou a aproximação dos grupos culturais atraindo musicistas como os irmãos Roberto e Reinaldo barros, alem de outros poetas e desportistas de então. O Jornal Inovação que era o veiculo de divulgação das lutas populares conseguia circular entre os promotores da cultura local arrefecendo as discussões políticas e as criticas ao regime ditatorial em vigência, ao tempo em que reforçava a proposta da militância partidária e socialista.

Visando por em prática os ideais petistas de unir os trabalhadores do campo e da cidade, buscou-se no povoado Tabuleiros, o primeiro presidente do Partido, o companheiro Silvestre e também o primeiro candidato a prefeito, o companheiro Inácio, ambos trabalhadores rurais.
Porém, apesar do entusiasmo dessas lideranças, no meio da sociedade, o convencimento sobre a aceitação do Partido dos Trabalhadores não era levada a sério, sequer chegava ao meio de todos. Não tinha mídias favoráveis nem figuras ilustres que pudessem ajudar a fazer o convencimento. A criação do partido parecia mais uma piada aos olhos dos Paraibanos, que estavam acostumados a votar em pessoas influentes e poderosas.

A primeira disputa do PT à prefeitura de Parnaíba foi acima de tudo um ato de idealismo e coragem, principalmente porque a população não acreditava na viabilidade em sua viabilidade eleitoral. Do ponto de vista de estrutura, não contava absolutamente com nenhum tipo de logística, tão pouco existia recursos financeiros para custear as mínimas despesas de material de propaganda. Os candidatos eram pessoas muito simples do meio do povo, que andava a pé ou de bicicleta. A propaganda era feita em papel mimeografado ou poucas pinturas em muros. A propaganda era feita nas comunidades de base do campo e da cidade e de porta em porta,
Para as eleições de 1982 apresentou-se como candidato a Prefeito, o companheiro Inácio João de Araujo, trabalhador rural e vigia e como vice o também trabalhador rural Francisco Silvestre, residente no povoado Tabuleiro. Ambos á época sexagenários, pouco letrados, moradores nas terras pertencentes à Diocese de Parnaíba.   O dois pouco entendia de política, mas viviam insatisfeito com o modo como as famílias ricas conduziam os destinos dos paraibanos. Compreendiam bem que os pobres, trabalhadores rurais e desempregados precisavam participar da vida publica, pois assim seria uma oportunidade de que alguma coisa pudesse mudar. Acostumado a votar na família “Silva” ou seus comandados, agora se rebelavam e procuravam votar em si mesmo.

Aquele gesto era a expressão do que também desejavam os milhares de trabalhadores, intelectuais e estudantes que reunidos no colégio Sion em São Paulo, haviam criado o PT em 1980, tendo como expressão maior o operário e sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.

Os companheiros Inácio e Silvestre aceitaram o desafio de enfrentar nas urnas o Dr. João Tavares da Silva Filho, irmão do influente político Alberto Silva. Além de outros representantes de peso do poder local. E a nível estadual, José Ribamar dos Santos enfrentava Hugo Napoleão do Rego Neto concorrendo ao governo do estado.

“Homem de pouco vocabulário político, falava nos comícios ao minguado publico de participantes dos eventos apenas os jargões da gramática do cotidiano dos petistas: “trabalhador tem que votar em trabalhador” “é preciso eleger um candidato do PT para se ter direito a terra, ao emprego e a moradia”. em geral não apresentava propostas plausíveis de serem realizados, apenas, grandes idealismo e entusiasmo que viria a marcar. a vida petista.

Inácio, aquele homem aparentemente rude, marcado pelas durezas do trabalho estafante da roça e dos biscaites sazonais estava tendo pela primeira vez a oportunidade de se sentir “importante” participando como protagonista da política, na terra dos mandatários tradicionais da política piauiense desde Simplício Dias da Silva.

A chapa encabeçada por Inácio e Silvestre era composta de 11 candidatos a vereadores, um numero suficiente para a composição numérica do diretório municipal, todos engajados em alguma atividade sócia cultural considerada revolucionaria para a época, que era o movimento estudantil, as comunidades de bases (CEBS), grupos de jovens do meio popular, pastorais, musicistas, carnavalescos, etc.. Eram jovens com ideais e rebeldia, próprio da juventude. Os principais membros que compunham a chapa de vereadores eram: Roberto Barros, Raimundo Madalena, e Reginaldo Costa e Coutinho. Estes eram os que tinham maior envolvimento nos movimentos sociais. Naquela época tinha a exigência partidária para que a pessoa mais destacada na atuação social pudesse fazer parte da chapa eleitoral.

Naquele mesmo período ocorriam também às eleições estaduais e o candidato a Governador e o Vice eram também trabalhadores sindicalista do meio rural (José Ribamar Santos e Luiz Edwirgens, o que dava ao partido um viés camponês e um discurso voltado para o alcance do campesinato).

O grande ato dessa campanha foi um comício de encerramento que ocorreu no Bairro São José, na Praça José Narciso. Um único carro de som alugado era o que podia se contar para anunciar o comício. O veiculo percorria os principais bairros da cidade anunciando o evento que iria se realizar naquele bairro por conta de que ali morava seu principal líder, que era o também candidato a vereador, Reginaldo Costa. Era anunciado que estariam presente naquele evento, grandes nomes do PT vindo da capital do Estado, como Antonio José Medeiros, e o próprio candidato a governador, Ribamar Santos.  No ato que contou com menos de 100 pessoas, ficou marcado pela critica a ditadura militar, denuncia dos problemas de desemprego e miséria sofrida pelos brasileiros, eleições diretas para presidente da republica, constituinte livre e reforma agrária sobre o controle dos trabalhadores, não pagamento da divida externa, contra o FMI. Os discursos eram acalorados, mas a maioria prestava atenção muito mais no entusiasmo da emoção dos candidatos e na coragem dos mesmos em se disporem a participarem da política e fazerem denuncia.

Nesse ato, seu Inácio nada falou, somente foi apresentado. As palavras lhe faltaram e não teve como organizar as ideias e foi substituído na oratória pelo então candidato a vereador Reginaldo Costa, que era excelente orador.

Apurada as eleições a chapa petista apresentou um fraco desempenho. O mais votado foi Reginaldo Costa com 106 votos, em segundo lugar, a Raimundo Madalena, com 16 votos seguido de Roberto Barros com 09 votos. O candidato a prefeito teve menos votos do que o vereador mais votado, Reginaldo Costa.

E assim durante muitos anos o partido foi se construindo com o esforço e a luta de vários companheiros, obtendo posteriormente adesões importantes de segmentos dos sindicatos, da academia e das igrejas, personalidades como a professora Elisa Aranha, o escritor Wilton Porto, Argemiro e Mirian, Antonio Carlo, Alcione, Dudy, Cardozo, Iolanda e Assis Coelho, Maia, Paulo Marques, Kleber Lima, Dourado, Nazaré, Escócia, Rosa Souza, Almir Nogueira, Veralucia,  (in memoriam) entre tantos outros. A bem da verdade, o partido se consolidou nas lutas populares, apoiando as comunidades na luta contra despejos arbitrários e pelas melhorias de infraestruturas locais. Uma das comunidades que mais se destacou naquela oportunidade foi o Bairro Santa Luzia que apoiados pelo padre redentoristas Pedro, Cahir, conseguiu grandes vitorias que foram incorporadas na consolidação do PT, sendo essa comunidade, até hoje um grande referencial do Partido dos Trabalhadores.

Hoje, ao eleger seu primeiro prefeito numa luta de três gerações, encampada agora com os ideais de um jovem que incorporou a historia e a luta petista, o PT prossegue firme, quebrando um tabu na política parnaibana, vencendo um paradigma histórico de que não é só as famílias ilustres e os partidos tradicionais que podem governar uma cidade. Nada mais justo, nessa oportunidade que relembrar um pouco de sua historia e fazer menção as suas primeiras lideranças, principalmente Reginaldo Costa e Raimundo Madalena que com muita bravura ajudaram a construir e consolidar esse importante e grandioso partido, o Partido dos Trabalhadores!

Autor: Álvaro Ramos de Oliveira - Secretario Agrário do PT Estadual e Fundador do PT em Parnaíba. E-mail: Alvaromiq@bol.com.br (86) 99701136
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