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Foto antiga da Praça da Graça |
Era uma verdadeira vitrine, durante todas as horas
do dia. Do amanhecer ao anoitecer, todo mundo achava um pretexto de passar por
lá. Durante o dia os escolares, faziam grande alarido entre os intervalos de
suas aulas. Os viajantes desocupados assinavam o ponto. Donas de casa que iam
ao comércio e caixeirinhas sonhadoras se cruzavam. Fim de tarde os bancários se
dirigiam para a AABB, e os primeiros namorados apareciam. Ao anoitecer o
pessoal que se destinava ao Éden, desfilava por lá. Se a noite era de retreta,
ao som da "furiosa" os flertes se sucediam. As donzelas casadouras
volteando sem parar, escolhendo ou tentando ser escolhidas. Era uma verdadeira
caçada. Depois das nove, quando não havia tertúlia na AABB, "soltavam se
as onças". Moça que se prezava, sumia. Ficava a Praça à nossa disposição,
com nossos bancos naturalmente reservados. É claro havia seus tipos populares.
Toda cidade que se preza tem os seus e Parnaíba, não era uma exceção. Muito
pequeno, não compreendia por que troçavam e assobiavam quando ele passava.
Miúdo, atarracado, usando roupas esquisitas, e rebolando muito. "Menino
deixa de ser danado ou te entrego pro Chico Devasso". Foi o primeiro
homossexual assumido que vi. Sequer lhe ouvi a voz. Na sua esteira, muitos
outros viriam depois. De todos os tipos que conheci, o mais assiduo nas nossas
rodas da Praça, era o Domingão. Tipo baixo, truculento, de grande força fisica.
Repetia tudo o que lhe ensinavam a exaustão. Além de tudo, uma gagueira atroz
lhe perseguia. Vinha de familia remediada e chegar a estudar no melhor
internato da cidade. Nunca soube porque as coisas desgringolaram, e ele pirou
de vez. Suas melhores e piores coisas da vida, marcaram uma época.
O Caboré, tipo grotesco, fazia jus ao nome. Quase um Quasimodo à Tupiniquim.
Certa feita, um Prefeito deportou todas as bichas da cidade, e no meio delas,
por maldade colocaram o Caboré. Era de dá dó ouvir suas reclamações,
vociferadas em altos brados, dizendo que não pertencia àquela corja. O João
Ventura, caboclo matreiro, misto de Jeca Tatu com cabeça de Maquiavel, sabia da
vida de todo mundo. Não sei qual a sua fonte de informação, porém os
"podres" de todos os grandes da cidade, eram com ele. Quando estava a
fim de grana, chegava à porta do estabelecimento ou residência de sua vitima e
mandava o seu discurso. Claro que num piscar de olhos, algum serviçal surgia
com o dinheiro providencial, e o despachava pra cantar noutra freguesia. Não
sei, se tudo o que dizia era verdadeiro, mas que incomodava, lá isso era certo.
Quando brigava com algum grande, sua vingança e praga era mijar na futura cova
do infeliz. Sei de muitas promessas que ele cumpriu...
Crônica transcrita do Livro "Estórias de uma Cidade Muito Amada" de Carlos Araken
Edição do Jornal da Parnaíba | Publicado no
Facebook de Helder Fontenele
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