É a idade do município de Parnaíba, contada desde o
dia em que o governador do Piauí iniciou as solenidades de sua instalação,
emancipando-o politicamente em relação ao da Mocha, em ato havido na igreja
matriz de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca, em 18 de agosto de 1762;
original e oficialmente denominado São João da Parnaíba.
O chefe da Administração piauiense, alcaide-mor e
coronel João Pereira Caldas – regiamente autorizado por El-Rei a criar oito
municipalidades –faz dele o quinto município piauiense, após Mocha (1712-17),
Parnaguá, Jerumenha e Campo Maior (este solenizado uma semana antes).
Mas por que esse ato político tão decisivo da
formação política do município de Parnaíba se deu em Piracuruca? Porque o
critério utilizado pelo reino – executado pelo governo geral do Estado do
Maranhão e Grão Pará – era o de aproveitar a estrutura preexistente da
administração eclesiástica e as paroquialidades (freguesias) locais, princípio
de governo já antes implantado, com vicararias coladas e da vara etc. A de
Piracuruca fora criada por decreto régio de 20 de maio de 1741, provida de
pároco em 1742 pelo próprio bispo, d. frei Manuel da Cruz, que a ela veio,
então, em visitação pastoral. E certamente não havia outro prédio mais adequado
para realizar o ato grandioso, senão a majestosa matriz carmelitana.
Muitas singularidades marcam a formação política e
administrativa de Parnaíba, entre elas a de que foi o único desses municípios
do tempo colonial cuja sede não ficou sendo a mesma da paróquia. O governador
Caldas resolveu erguer a sede municipal – a vila – num sítio da freguesia de
Piracuruca que estava o mais próximo possível do Oceano, de nome Testa Branca.
A ideia não vingou e foi definitivamente assentada com seu núcleo na zona
ribeirinha do Igaraçu, derredor do Porto das Barcas (ou “Barcos”), lugar
povoado por gente não indígena desde as primeiras décadas do Setecentos. Gente
católica, mariana, diga-se, pois cedo ergueuigrejas-templo a Maria, nas
invocações do Montserrat, e de Nazaré.
O que também singulariza esse velho município em
face dos demais, organizados nos sertões de dentro, é ter sua cabeça quase à
praia atlântica e seu corpo enorme em campos de criar,subindo às terras do hoje
Piripiri, Esperantina, Pedro II e, claro, Piracuruca, que foi conservada como
sede-matriz paroquial até 1801-05, quando separada a primeira freguesia da sede
municipal parnaibana, com o orago de NS [Mãe da Divina] da Graça.
A criação desses municípios em 1761-62 obedeceu ao
plano mais geral do governo português do rei José I e sob Sebastião de Melo, o
conde de Oeiras, depois marquês de Pombal. Plano esse que racionalizou a
administração dos territórios e povos colonizados, em especial com medidas
concernentes ao desenvolvimento da atividade mercantil. No caso de Parnaíba, antes
da chegada de Pereira Caldas e do decreto de sua autonomia, a povoação já se
encontrava – por seus empreendedores – com certo grau de articulação comercial
com a velha capital doEstado, São Luís, inserindo-se a emancipação política de
1762no escopo mais geral dos impactos da ação da Companhia Geral do Grão-Pará e
Maranhão, criada em 1755. O que também ajuda explicar seu protagonismo nas
ideias liberais do século seguinte.
Hoje, 26 de agosto, quando escrevo esta nota, são
completados exatos 250 anos da posse do primeiro governante municipal de
Parnaíba, o juiz ordinário Diogo A. Ferreira, na qualidade de presidente da
Câmara e do levantamento do pelourinho, símbolo da autoridade municipal então constituída.
Tudo assistido pelo sobredito governador e pelas mais altas autoridades da
capitania e moradores locais de grosso trato. E assim completadas as
solenidades inaugurais e selada a municipalidade. Até José H. C. Branco, sua
predecessão tem dezenas de governantes, entre juízes-presidentes da Câmara (até
1890), intendentes (até 1930) e prefeitos.
Notável como feitoria litorânea negociando carnes,
entre salgas e couramas, Parnaíba constitui um símbolo perfeito do Piauí
histórico: o boi criado nas profundezas dos sertões passando ao mar grande das
indústrias do mundão.
Fonseca Neto, presidente do I. H. G. P. e professor
da UFPI, escreve às segundas-feiras.
Edição do Jornal da Parnaíba
Clique AQUI e saiba mais informações de Parnaíba e região
Nenhum comentário:
Postar um comentário