A partir da esquerda, Arlindo Leão, Vicente Correia, Anchieta Correia e Francisco Correia |
A Secretaria Municipal do Turismo está disponibilizando a entrevista publicada no impresso O Piaguí Culturalista, com o primeiro presidente da PIEMTUR. O Secretário do Turismo de Parnaíba, Arlindo Leão, considera tal entrevista de grande importância a todos os agentes ligados direta ou indiretamente ao Turismo na região.
História da fundação da PIEMTUR e a evolução do Turismo do Piauí
No dia Mundial do Turismo e Dia do Turismólogo, o Blog Turismologia entrevistou JOSÉ DE ANCHIETA CORREIA, administrador de empresas, que exerceu o cargo de Diretor Presidente da Piemtur nos períodos de 1971 a 1979 e 1986 a 1988 , além de Presidente e fundador da RIMO -Rede Integrada de Hotéis e Motéis do Piauí. Jornalista, foi o primeiro editor de turismo do Jornal O DIA e Jornal da Manhã, Diretor do Departamento de Turismo da SUDENE em Recife, e assessor da Secretaria de Indústria Comércio e Comdepi. Anchieta Correia foi professor de hotelaria na Faculdade São Lucas em Porto Velho (Curso de Bacharelado em Turismo) e fez mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente na UNIR-Universidade Federal de Rondônia. A entrevista faz parte da pesquisa que Francisco Correia realiza desde 2003 visando editar o livro, TURISMO NO PIAUÍ - Aprendendo com a História, a ser lançado em 2012, em data a ser definida. A grande maioria dos técnicos da SETUR - Secretaria de Turismo (criada em 2007 ) é composta pelos ex-servidores da Piemtur, que continuam trabalhando e conduzindo as políticas públicas do Turismo no Piauí como os servidores Costa Júnior, Angélica Learth, Carlos Augusto Lopes, Ercília Gomes, Elenita Muniz, Mileida Nogueira,Genise Veloso, Eliane Santana,Socorro Freitas,Francisca Pereira, Elioene Pereira, Carlos Elder, Marilúcia Meneses, Kleirton Rodrigues, Gonçalo Abreu, Osvaldo Rodrigues, Vera Lúcia Brito, Maria da Cruz da Silva, Francisco Ribeiro Elizabeth Galvão, Deusdedite Clóvis , João de Deus Reis, Cármem Lúcia Melo , Aldenora Coelho, Maria de Lourdes, José Rios, ,Miguel Ângelo, Cléia Gomes, Afrânio Lustosa, Rosa Maria dentre outros.
Turismologia: É verdade que a ideia de criação da Empresa de Turismo do Piauí -PIEMTUR, em 1971, partiu do jornalista e publicitário parnaibano Renato Pires Castello Branco residente em São Paulo na época?
Anchieta: O jornalista, escritor e publicitário Renato Castelo Branco foi um dos piauienses que sugeriu a criação de uma empresa de fomento ao turismo no Piauí. E até enviou um estatuto de modelo da PARANATUR, ao então Governador do Estado, Eng. Alberto Silva. Não sei por que ele (Renato) não pediu à EMBRATUR. E também não sei onde foi parar essa correspondência. Posteriormente, um jornalzinho da PIEMTUR, que circulou nos primeiros anos (1972) transcreveu trechos dessa correspondência. Outro que colaborou muito na criação da empresa foi o jornalista Armando Madeira Basto, então Secretário de Comunicação. Vale lembrar, ainda, o Haroldo Amorim Rego, que foi o primeiro Presidente e Darcy Fontenele de Araújo, Secretário de Estado do Governo. Esses três personagens tinham uma qualidade comum: eram parnaibanos. O Armando, mais idoso, seguido de Darcy e Haroldo.
Eu era o mais novo dos três, mas apesar dessa diferença de idade mantínhamos bom entrosamento e muita confiança. Por isso os procedimentos administrativos tornavam-se bem mais fáceis àquela época. E tínhamos um Governador que sabia comandar e incentivar os seus auxiliares. Outro amigo que também sempre deu apoio à causa do turismo foi o Secretário do Planejamento, Antônio de Pádua Ramos. Ocorriam dificuldades, os recursos eram escassos, mas havia um clima de otimismo contagiante.
Assim, ninguém fazia gol contra.Mas aqui não poderia esquecer a colaboração espontânea do Advogado que trabalhou, assessorando o Governo no processo de constituição da PIEMTUR, exclusivamente por amizade, sem receber um centavo: Nicanor Barreto. Na residência dele durante vários dias foi concluído o Estatuto e a ele deve-se a interessante sigla de PIEMTUR, formada pelas sílabas da razão social: Empresa de Turismo do Piauí S. A. Porque se fossem usadas as sílabas na ordem direta dariam um nome inadequado: EMTUPI.
Turismologia: Por que o seu nome foi lembrado para a primeira Diretoria na época da fundação e depois para a presidência?
Anchieta: Aquele era um cargo de confiança. Portanto, esse detalhe certamente decidiu o convite que me foi formulado. O Governador já me conhecia há bastante tempo. Mas quem lembrou o meu nome foi o meu irmão Assis Correia, que morava no Rio e era Agente da Cruzeiro do Sul no Piauí. Logo após a posse, o Governador Alberto Silva foi ao Rio e, em conversa com Assis, trataram desse assunto.
O Assis ligou para mim, informando que eu estivesse no aeroporto à chegada do Governador. Não entendi bem o recado, porque sabia que no aeroporto mal se conseguia falar com o Governador. Mas fui cumprir a minha missão. Chega o Governador cercado de políticos. Dei um jeito de me insinuar numa brecha e timidamente cumprimento o homem e disse que havia recebido uma ligação do Assis para procurá-lo. Sem titubear ele disse: "isso mesmo. Esteja lá em casa hoje à noite". Fui ousado e perguntei: "a que horas?"
Ele disse, meneando as mãos, como gostava de gesticular: "Lá pelas oito" e virou-se para o Haroldo Amorim e falou: "Haroldo, vai lá na residência esta noite com o Anchieta. Quero falar com os dois". E ele foi caminhando e os políticos atrás...
Mais tarde ligo para o Haroldo, que era realmente um grande amigo, com quem aprendi muito, até mesmo a melhorar os meus textos, porque ele era um exímio parecerista do Banco do Brasil.
Chegamos juntos à residência do Governador. Sem muitas formalidades, a segurança era discreta, adentramos a residência rapidamente. Fomos recebidos pela primeira dama, Sra. Floriza Silva. Não se pode deixar de fazer referência à figura da primeira dama que foi, sem dúvida, o grande apoio que o Governador teve nos dois mandatos que exerceu. Ela exercia uma influência positiva junto aos auxiliares do Governador.
Eu, calado, só ouvindo. Cheguei a pensar que não havia nada para mim. Mas qual não foi a minha surpresa quando o homem se virou e disse: "Olhe, eu vou criar uma Empresa de Turismo no Estado. Você tem experiência nisso, e quero que comece imediatamente". Virou-se para o Haroldo e falou: "Você põe o Anchieta com você, lá no Gabinete Civil, para ele poder se familiarizar com as providências que deve tomar".
E acrescentou: "Olha, Anchieta, isto não é um convite. É uma convocação. Quero você aí para resolver esse assunto. Você se dá bem com o Haroldo e tenho certeza de que darão conta disso.". Essas palavras ficaram gravadas em minha memória. Agradeci, emocionado e perplexo, porque tudo foi muito rápido. E mudou-se de assunto. Eu já queria sair para casa e dar aquela notícia. Mas a conversa demorou. Só terminou com a chegada de alguns políticos e então pudemos nos despedir. Estava lançada a semente da PIEMTUR.
Àquela época, com frequência o Governador despachava na própria residência e decidíamos muitos detalhes sobre a PIEMTUR. Devido ao meu bom entrosamento com o Haroldo e os demais Secretários tudo andava rapidamente, cumprindo-se a burocracia mínima.
Turismologia: Quais foram as primeiras providências para a fundação da PIEMTUR? Quais foram os primeiros diretores, funcionários e onde se localizava a sede da empresa?
Anchieta: Como disse, as providências eram tomadas com muita objetividade. Começou com o envio da Mensagem à Assembleia Legislativa, para autorizar a criação de uma sociedade de economia mista. A tramitação foi rápida. Seguiu-se a elaboração do Estatuto e uma solenidade no mês de outubro de 1971 no Palácio do Governo marcou a criação da empresa e posse dos Diretores, cujos nomes já mencionei.
O funcionamento efetivo ocorreu no mesmo mês, em dependência do prédio do Seminário Diocesano (Av. Frei Serafim), que havia sido alugado para funcionar ali a sede do Governo, provisoriamente. O Palácio do Karnak estava sendo restaurado e ampliado. Havia muito espaço e éramos apenas a Diretoria e três funcionários. Nessa época não existiam bacharéis em turismo, já que o primeiro Curso do país foi instituído naquele mesmo ano (1971) na Faculdade Anhembi Morumbi em São Paulo.
Turismologia: Como então tocar um órgão oficial de turismo sem tanto preparo técnico e científico?
Anchieta: Experiência de organização empresarial eu tinha. De modo que os primeiros passos não foram difíceis. O bom senso ajudou. Estávamos em 1971 e a EMBRATUR havia sido criada em novembro de 1966. No início do ano seguinte recebemos um Manual da EMBRATUR com toda a legislação nacional do turismo. Isso ajudou muito. No início de 1972, o Haroldo foi a Fortaleza, a uma reunião da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste. No primeiro momento, devo confessar, não acreditei muito nessa instituição, porque não entendia a ideia de compartilhar os esforços que realizávamos.
Mas em março de 1972 participei em Olinda (PE) do I Ciclo de Estudos Turísticos do Nordeste. Foram nada menos do que oito dias de estudo intensivo em que me fiz acompanhar do advogado da PIEMTUR, José de Ribamar Viana, que ficou contagiado com a importância da atividade turística e eu passei a compreender o valor estratégico do sistema de ação integrada.
Tanto assim, que naquele evento lancei a ideia de uma ação em parceria - SUDENE e Órgãos estaduais de Turismo, para levantar o que se chamou de Roteiro Integrado do Nordeste - ROTENE. No início de Agosto de 1972, um grupo técnico partiu de Salvador até São Luiz, retornando pelo litoral.
Integrei esse grupo na primeira etapa: Salvador, Teresina, São Luís, Teresina, Fortaleza. Fui substituído a partir de Fortaleza devido a compromissos urgentes, mas o grupo continuou até o Recife e, posteriormente, outro Grupo fechou a rota até Salvador. Olimpio Bonald, um desses pioneiros, relata essa maratona em um dos seus livros (1978, p.39).
A essa altura dos acontecimentos fiz uma opção de vida, para me tornar um planejador de turismo. Não parei mais de estudar e de trabalhar nessa área fascinante. Outra oportunidade reforçou minha decisão de não mais deixar o turismo. Em novembro de 1972 fui a um evento importante em São Paulo, um congresso da Confederação de Órgãos de Turismo da América Latina - COTAL.
Naquele momento vivi uma experiência muito rica. Conheci os dirigentes do primeiro curso de turismo instituído no País - a Faculdade de Turismo do Morumbi, em São Paulo. Fiz preciosa amizade com o Diretor, o Prof. Gabriel Mário Rodrigues e passei a contar com a amizade de alguns dos professores daquela instituição, cujos nomes não posso deixar de mencionar: Ubirajara Jachinowsky, Adalberto Rosa Santos, Alfonso dos Santos Thëiss, Clícia Gomes Carneiro. Ainda hoje mantenho fraternal relacionamento com o Prof. Gabriel.
Mas naquela época sempre que tinha oportunidade de ir a S. Paulo, visitava a Faculdade do Morumbi, onde às vezes assistia aulas e em outras oportunidades proferi até palestras sobre a minha experiência no Nordeste. Após o congresso da COTAL não perdi tempo e consegui vender a ideia de se realizar um roteiro didático à Faculdade do Morumbi, cuja operação acompanhei pessoalmente.
Eles percorreram a mesma rota que havíamos realizado em agosto, no projeto já relatado. Apesar de todos os imprevistos, o resultado foi muito positivo, tornando-se inesquecível de todos aqueles que vivenciaram o ROTENE. Em janeiro de 1973 dois ônibus da empresa Andorinha partiram de S. Paulo com destino ao Nordeste e, em aproximadamente 40 dias, percorreram toda a Região, retornado a São Paulo.
Acredito que ações desse tipo levaram a minha imagem pessoal aos diversos Estados e, em 1975, fui eleito à Presidência da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste - CTI-NE, instituição que também continua atuando, agora com a forma de Fundação.
Naquela gestão conseguimos promover o I Encontro Comercial do Nordeste em S. Paulo (1977). Aquela eleição, pela maioria dos representantes de Órgãos estaduais de turismo revelou que a minha formação estava consolidada tecnicamente e reconhecida por um colegiado isento de quaisquer outros interesses, modéstia à parte, salvo o desenvolvimento da atividade turística, na Região nordestina.
As atividades na PIEMTUR prosseguiam de forma crescente. Veio 1973, um ano de muita atividade. Durante uma reunião da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste - CTI/NE, em Salvador, foi oferecida pela EMBRATUR a oportunidade dos Estados da Região participarem de um evento internacional - a Brasil Export - 73. Era uma Feira Internacional para divulgar produtos industriais brasileiros, onde a EMBRATUR montou um grande stand para o turismo. Foi minha prova de fogo.
Em primeiro lugar expliquei ao Governador do que se tratava e os descontos nas passagens aéreas que estavam sendo oferecidos. Algo em torno de 50%. Além disso, uma grande franquia para transporte de material de divulgação e a possibilidade de embarcarmos produtos via marítima, para expor durante o evento.
Poucos estados do Nordeste estiveram presentes, mas lá estava o Piauí. Para se ter uma ideia consegui transportar a Bruxelas, nada menos do que dez caixas de cajuina e outras tantas de doce de limão. Tudo fabricado no Piauí, além de grande quantidade de artesanato. Mas o êxito da nossa ação deveu-se à confiança que o Governador tinha na minha atuação. Àquela época me parece que as coisas funcionavam, porque o Governador era muito esclarecido e captava novas ideias rapidamente.
Ele simplesmente deu sinal verde à operação. Não se chegou propriamente a elaborar uma extensa justificativa, nem mesmo um projeto completo. Simplesmente ele disse: vá em frente e eu segui, vencendo cada obstáculo com a bandeira do desenvolvimento do turismo do Piauí. Depois desse apoio institucional o mais foi muita correria para os preparativos, embarque de produtos e todo esse circo que se arma em eventos desse tipo.
Nessa hora não posso esquecer o apoio de Assis Correia, fazendo ligação permanente entre nós e a EMBRATUR no Rio. Os telefonemas interurbanos ainda apresentavam deficiências de modo que se não houvesse uma pessoa a acompanhar toda aquela montagem, misturados aos demais Estados, não teria acontecido. Conheci nesses preparativos na EMBRATUR um técnico que se tornou grande amigo.
O Economista Mewton Argüello. Ele fazia a ligação entre a EMBRATUR e a Alcântara Machado, empresa de eventos responsável pelo lado brasileiro, na montagem da operação na Bélgica. Nesse pais amigo encontrei o Cel. Luiz Vieira Ferreira, um dos coordenadores da Feira, já nosso conhecido, que havia seguido para Europa, com antecedência, aqui mencionado devido o seu cavalheirismo.
Foi confortante a presença dele no aeroporto de Bruxelas à chegada do grupo de brasileiros. Ali ele informou que o hotel estava reservado e que no dia seguinte poderíamos comparecer ao local da Feira para concluir a montagem. O relato desta parte poderá ficar para uma outra oportunidade, porque os acontecimentos foram de tal complexidade, que seriam necessárias algumas páginas a mais para retratar todos os detalhes.
Para se ter uma ideia, aquela Feria aconteceu em novembro de 1973, no Palais du Centanaire em Bruxelas, Bélgica. Havia desde malas de couro confeccionadas na Paraíba, a aviões fabricados pela EMBRAER em São Paulo. Tudo isso distribuído por produtos em três pavilhões de grandes proporções. As repercussões sociais e econômicas foram importantes.
Contados com empresários franceses abriram oportunidade à exportação de produtos do artesanato piauiense e a própria experiência internacional que me levava a acreditar a médio prazo na vinda do voos fretados para o nordeste. Mas um fato que não posso deixar de relato foi a ligação do Presidente da EMBRATUR, DIRETAMENTE ao Governador, para agradecer a minha presença no evento e oferecendo um testemunho do trabalho realizado.
Foi uma grande supressa para mim, quando o Governador me revelou que acabava de receber um telefonema do próprio Presidente da EMBRATUR cumprimentando-o pela nossa participação de dos Estados do Nordeste que ali compareceram.
Turismologia: Qual foi a estratégia utilizada para o desenvolvimento do turismo, no Piauí, iniciado assim do ponto zero?
Anchieta: A resposta a esta questão implica relembrar alguns acontecimentos. De fato, àquela época, a organização do turismo no Estado caminhava os seus primeiros passos. No início de 1972 esteve em Teresina um técnico, que se tornou grande amigo dos nordestinos: Alexandre Djucktich.
Ele era natural do principado de Monte Negro na Yugoslavia e há algum tempo morava no Brasil, havendo organizado no Rio de Janeiro, uma instituição mediante a qual atuava como consultor: o Instituto Brasileiro de Estudos Turísticos - IBET. De tanto andar pelo Nordeste acabou se transferindo para o Recife, onde infelizmente faleceu. Mas, Alexandre, nos ensinou muito durante as visitas que fez ao Piauí e, nas reuniões da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste da qual foi um dos fundadores.
Com Alexandre obtive informações sobre a rara bibliografia disponível no País sobre turismo. Entretanto o momento em que se consolidou a minha vocação para a atividade turística foi no I Ciclo de Estudos Turísticos do Nordeste, que ocorreu em Olinda, PE, maio de 1972, justamente coordenado por Djucktich.
Ali conheci alguns estudiosos da atividade, com os quais mantive bom relacionamento, valendo a citação de alguns deles: o Prof. Olímpio Bonald (mestre e amigo), Anita Lemos Dubeu, que, posteriormente, na década de 80 consegui trazê-la da EMBRATUR para assessorar-me na PIEMTUR e, José Carlos Reguera, que representava a SUDENE nas reuniões da CTI-NE. Nesse mesmo ano houve uma importante reunião do Sistema Nacional de Turismo, em Brasília (1972), quando novos relacionamentos alargaram os nossos conhecimentos sobre a atividade turística.
Ali conheci o Presidente da EMBRATUR da época, Paulo Manoel Protásio. Ele nos convidou para o Seminário em S. Paulo, com o Prof. Salah Eldin Abdel Wahab do Centro de Turismo de Turim (Itália), patrocinado pela então IUOOT, atual OMT. O tema desse Seminário: Fenomenologia do Turismo. Foi um verdadeiro banho de compreensão e abertura para os paradigmas a serem observados no desenvolvimento da atividade.
Ao findar o exercício já circulava nas livrarias o livro de Wahab: Introdução à Administração do Turismo, que ainda hoje é uma referência de quem deseja estudar o turismo. Neste mesmo ano veio o conhecimento com os professores da Faculdade Anhembi-Morumbi de São Paulo, sobre os quais já me referi no início deste relato e cuja amizade me permitiu transitar naquela instituição de ensino superior em diversas oportunidades.
As referências aqui apresentadas são apenas uma pequena mostra do quanto palmilhei ou ralei, como dizem atualmente os jovens, no afã de aprender e entender cientificamente o turismo, ao mesmo tempo que divulgava o Estado do Piauí. E no sul do País eu contava com o permanente apoio do irmão que, de certa forma, era avalista da minha atuação na atividade turística. Para se ter uma ideia, até palestra proferi no Curso Técnico de Turismo da Escola Técnica Federal do Estado da Guanabara, sempre divulgando o Piauí. Onde havia uma oportunidade de aparecer lá chegava o Presidente da PIEMTUR.
É preciso deixar claro que o fomento à atividade turística não pode ser feito empiricamente, mas seguir metodologia adequada, específica a cada situação. Mas àquela época o entusiasmo superava tudo. Costumo chamar de período heroico do turismo do nordeste. Portanto, estas considerações são oportunas, para que se entenda que o trabalho de fomento ao turismo no Piauí teve sempre uma orientação técnica pragmática, baseada em experiências científicas, para poder valorizar os parcos recursos à época disponíveis.
Isso permitiu que as ações desenvolvidas tivessem um mínimo de coerência, dentro do princípio geral, que aprendi com outro mestre, o espanhol Prof. Domingo Hernandez Peña, que conheci também na Faculdade do Morumbi (SP). Ele dizia: para desenvolver o turismo é importante ter sempre em vista dois caminhos principais: a) organizar a oferta e, b) incentivar a demanda. Equilibrar as ações nessas duas vias de modo a fazê-las crescer em harmonia.
E assim, tudo que se pensava em realizar passava por essa balança metodológica. Lembro-me que no início de 1972 uma das nossas primeiras ações práticas foi a realização do I Curso de Recepcionistas para o turismo. Um curso rápido de quatro semanas capacitou um grupo de jovens que se tornaram excelentes profissionais em várias instituições na Capital. Três delas foram imediatamente aproveitadas no próprio Palácio do Governo.
Foram inúmeros os Cursos e Seminários, visando o aperfeiçoamento de recursos humanos. A par desse trabalho dava-se grande atenção às poucas empresas existentes. Foram, então surgindo as primeiras agências de viagens e a melhoria da rede hoteleira, com a demonstração do Governo, resgatando o antigo Hotel Piauí, restaurado, ampliado e apresentado na categoria quatro estrelas (da época). Foi um sucesso incomensurável. Lembro-me, quando as obras estavam prestes a terminar, o Governador me perguntou: a PIEMTUR pode administrar o Hotel Piauí? Respondi afirmativamente sem titubear e assim foi feito.
No dia 2 de abril de 1974 inaugurava-se o novo Hotel Piauí, sob a administração de PIEMTUR, que capacitou e treinou cerca de 200 profissionais e entre os quais foram selecionados os melhores, cerca de 110 servidores, engajados no empreendimento. E logo em seguida o Governador determinou que o hotel fosse vendido à iniciativa privada.
Nesse ponto aconteceu a grande contribuição da PIEMTUR, pois, fazendo o empreendimento funcionar em todas as suas possibilidades gerou condições a que obtivesse uma boa cotação de preço, quando colocado à venda. O processo licitatório aconteceu sem atropelos, sendo vencedor numa segunda chamada, o grupo LUXOR do Rio de Janeiro. Nessa época vivenciei uma experiência profissional inédita. A transferência da propriedade do hotel, o seu patrimônio físico, sem perturbar os hóspedes que ali se encontravam.
A sutileza da operação estava no fato de que não se tratava de uma transferência de comando acionário, mas a entrega de um empreendimento (patrimônio) pertencia ao Estado. A PIEMTUR era apenas a administradora. Então, à meia-noite daquele dia fecharam-se as contas dos hóspedes e, imediatamente faturadas, pela PIEMTUR contra a LUXOR, que passou a emitir as Faturas dos hóspedes que foram deixando o hotel a partir daquele horário.
Por outro lado, a PIEMTUR naquele dia entregou aviso prévio de trinta dias, a todos os seus funcionários que trabalhavam no hotel. Naquele dia, apenas uma pequena equipe da LUXOR ingressou no hotel: o novo gerente e dois ou três auxiliares, vindos do Rio. Todos os funcionários permaneceram em seus postos de trabalho permitindo que a transição corresse sem solução de continuidade.
Estiveram presentes, ainda, o Presidente da LUXOR, Walter Ribas e o saudoso Milton de Carvalho e outro Diretor, cujo nome agora não me recordo. Ao findar o primeiro mês de operação do hotel, a PIEMTUR faturou ao Grupo LUXOR o trabalho dos seus servidores que estavam em aviso prévio, concluindo o desligamento legal de todos eles. Simultaneamente o Luxor admitiu no quadro de funcionários da nova administração todo o contingente de servidores. Apenas, dois ou três, devido a razões peculiares deixaram de ser aceitos. Por muitos anos esses funcionários treinados no Piauí permaneceram naquela empresa.
Mas deve-se enfatizar que dediquei empenho pessoal àquela operação, cuja execução transcorreu sem qualquer atropelo, apesar da sua complexidade. Modéstia à parte, tudo assim aconteceu graças ao meu empenho pessoal (era Presidente da PIEMTUR), supervisionando cada detalhe da operação.
E foram inúmeros os fatos, que deveriam ter pronta solução, para não periclitar o fechamento das negociações. Mas havia também a meu favor uma grande confiança no meu trabalho. Do Governador ao Secretário do Planejamento, o grande amigo Antônio de Pádua Ramos. E os dirigentes do grupo comprador também tinham grande apreço a mim, porque sabiam que eu representava o pensamento do Governador. No final foi assinado um protocolo de transmissão da propriedade, com as características do imóvel, havendo um anexo com a relação de todos os equipamentos entregues, assinado pelo Secretário do Planejamento, representando o Governo do Estado, por mim, Presidente da PIEMTUR e pelos Diretores do Grupo LUXOR.
Talvez seja possível encontrar na Secretaria de Planejamento ou na PIEMTUR, uma cópia desse histórico documento. Hoje se pode dizer que o Governo do Piauí foi pioneiro no processo de privatização no País.
O Hotel LUXOR Piauí continuou a sua missão pioneira, sendo cenário de importantes eventos atraídos para Teresina, graças à sua existência e qualidade. E o empreendimento continuou em perfeito estado de conservação e operação, sendo recentemente transferido a um grupo hoteleiro local, que modernizou o equipamento, continuando a sua operação. Concretizou-se a premonição do Eng. Alberto Silva.
O Governo deu o primeiro passo e os piauienses prosseguiram atuando e demonstrando que também são capazes de empreender no segmento de turístico. Outro empreendimento pioneiro que fez parte da política de fomento ao turismo na época foi a construção e operação do Atalaia Motel, na praia de mesmo nome, em Luiz Correia, litoral do Piauí. Ali o Governo também foi pioneiro, construindo um empreendimento rústico, mas funcional, motivando as possibilidades turísticas do litoral piauiense. E a PIEMTUR, mais uma vez administrou aquele empreendimento, que posteriormente deu origem ao novo hotel construído no mesmo local, cuja obra teve início na segunda gestão do mesmo Governador.
Turismologia: O projeto CEPIMAR - Ceará/Piauí/Maranhão, criado em 1977 (Piemtur/Emcetur e Maratur) deu origem ao que hoje se denomina ROTA DAS EMOÇÕES. Ou seja, naquela época nós já praticávamos a regionalização do turismo!
Anchieta: Cumpria-se o preceito básico mencionado neste depoimento: organizar a oferta e incentivar a demanda. De forma sintética era o que se podia relatar
Nenhum comentário:
Postar um comentário