Sete das dez melhores escolas estaduais do Piauí estão no interior, nenhuma delas em Parnaíba

U.E. Agostinho Brandão em Cocal dos Alves ganhou novo prédio em 2011

Sete das dez melhores escolas estaduais do Piauí estão no interior. Lousas eletrônicas, computadores potentes e laboratórios incrementados podem ajudar, e muito, o aluno no processo de ensino-aprendizagem. 

Mas estes artifícios, por si só não, são suficientes para trazer bons resultados no conhecimento dos estudantes. Isso porque a presença e o compromisso do ser humano que está na escola também são essenciais. Talvez seja esse o principal segredo de sete das dez melhores escolas estaduais do Piauí, segundo ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2010.

A lista inclui, por ordem de classificação, as unidades: E. M. Agostinho Brandão (Cocal dos Alves), Centi João Henrique Sousa (Teresina), Patronato N. Sra. de Lourdes (Campo Maior), U.E. José Narciso (Piripiri), U.E. Barão de Gurguéia (Teresina), U. E. Maria Carvalho (Santo Antônio de Lisboa), Centi Des. Pedro Sá (Oeiras), U.E. José Alves Bezerra (Monsenhor Hipólito), U.E. Prof. Mariano (Francisco Santos) e U.E. Prof. Felizmino Freitas (Teresina).

Para Eudina Maria da Rocha Oliveira, diretora da Unidade de Gestão e Inspeção da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), o segredo das escolas do interior está justamente no fato destas unidades terem um sentimento que existia nos antigos colégios associado a uma boa administração.

“Quando vou ao interior percebo que há um envolvimento maior por parte de todos que estão o corpo da escola. Há exceções e não quero dizer que isso não ocorre na capital, mas é perceptível um compromisso maior por parte dos professores que muitas vezes estão voltados apenas para aquela escola e acompanham mais de perto o aluno. Diferente do que é mais comum em Teresina, quando é possível encontrar o docente dando aula no município, Estado e no colégio particular”, avalia.

Eudina diz ainda que o número menor de alunos também contribui no aprendizado destas unidades e cita o exemplo da escola de Ensino Médio Agostinho Brandão, de Cocal dos Alves, melhor escola estadual do Piauí, segundo o Enem. “Lá existe a figura do professor (Antonio Cardoso do) Amaral que trabalha apenas naquela escola e acompanha os alunos tirando dúvidas mesmo fora das aulas. É algo que ele faz por prazer. E há muitos professores no interior que trabalham por esta causa, tratando o aluno como um ser que produz”, pondera a diretora da Seduc.

A U.E. Agostinho Brandão funcionava até pouco tempo neste prédio

O exemplo de Cocal dos Alves

Ensino Médio Agostinho Brandão, em Cocal dos Alves, é o mais premiado estabelecimento de ensino do Estado e abriga em seus quadros diversos medalhistas de competições estaduais e nacionais em disciplinas como Matemática, Química, Biologia e Língua Portuguesa.

Em sete anos, de 2003 a 2010, foram 84 aprovações em vestibulares da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e Universidade Federal do Piauí, 12 medalhas e 26 menções honrosas na Olimpíada Brasileira de Matemática da Escola Pública, além de duas medalhas na Olimpíada Piauiense de Química, uma medalha de bronze na Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa e um finalista – Rodolfo Vieira Fontenele – em concurso de redação promovido pelo Senado Federal.

Cocal dos Alves, uma pequena cidade da região Norte do Piauí, a 286 quilômetros de Teresina, possui uma população de pouco mais de 5,5 mil habitantes, dos quais 3,4 mil são alfabetizados, e é conhecida em todo o Brasil por conta do desempenho de seus alunos, entre eles Izael Francisco de Araújo, vencedor do programa Soletrando, da Rede Globo.

“Os professores de Cocal dos Alves gostam do que faz e trabalham em busca de objetivos, não pensam só em salário”, diz a diretora da escola, Kuerly Vieira de Brito.

“Não penso em salário, na verdade, não sei nem quanto ganho”, acrescenta o professor de Matemática Antônio Cardoso do Amaral. Formado pela Uespi, Amaral tem dez anos de magistério, todos eles em Cocal dos Alves, cidade onde nasceu há 31 anos. O professor revela que no início teve que insistir muito para que os alunos dessem atenção à Matemática. “Aqui também tem gente com nota baixa e a gente tem que continuar insistindo, mas no final eles terminam com boas notas”.

Estrutura

Além do empenho dos professores e demais servidores, Eudina Oliveira aponta como fundamental ter os prédios das escolas em boas condições e bem estruturados. Segundo ela, foram reformadas 37 unidades no interior do Estado em 2011, “sem contar construção e ampliação”, acrescenta. Ela aponta ainda que o programa Mais Educação, que amplia a jornada escolar, com atividades culturais, esportivas, entre outras, além de reforço nas disciplinas, também deve melhorar os índices da educação estadual como um todo. “Atualmente 331, das 807 escolas já possuem o Mais Educação”, contabiliza.

A própria escola Agostinho Brandão recebeu uma nova unidade modelo contendo seis salas de aula, com mais de 850m² de área construída e capacidade para 216 alunos por turno. O investimento foi da ordem de mais de R$ 750 mil, com recursos estaduais. “Aqui é outra coisa, nem se compara com o outro prédio”, festeja Kuerly Brito.

Com a nova escola vieram também os laboratórios de Matemática, Química e Física, utilizados para aulas práticas. A novidade contagiou os alunos, como Francimar de Brito Vieira, 16 anos, que cursa o 1º ano. Ela já conquistou duas medalhas de bronze e uma de prata na Olimpíada Brasileira de Matemática, mas quer a de ouro que, acredita, não está muito distante.

Ranking das dez mais do Piauí

No novo ranking, as melhores escolas da rede pública estadual em 2010 são:

1ª U.E. Agostinho Brandão (Cocal dos Alves) - 585,6

2ª Centi João Henrique Sousa (Teresina) - 583,0

3ª Patronato N. Sra. de Lourdes (Campo Maior) - 563,8

4ª U.E. José Narciso (Piripiri) - 556,5

5ª U.E. Barão de Gurguéia (Teresina) - 546,2

6ª U. E. Maria Carvalho (Santo Antônio de Lisboa) - 540,4

7ª Centi Des. Pedro Sá (Oeiras) - 537,0

8ª U.E. José Alves Bezerra (Mons. Hipólito) - 534,0

9ª U.E. Prof. Mariano (Francisco Santos) - 532,3

10ª U.E. Prof. Felizmino Freitas (Teresina) - 528,2

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Jornal da Parnaíba | Por Efrém Ribeiro/Meio Norte