terça-feira, novembro 22, 2011

Agrovilas devolvem cidadania a população atingida por barragem em Cocal da Estação

Agrovila em Cocal da Estação (Foto:Karynne Katiuzia)
O dia a dia das pessoas, aos poucos, volta ao normal. A maioria das famílias já está morando nas agrovilas construídas pelo Governo do Estado.

Resiliência. Este conceito psicológico emprestado da física,  que significa a capacidade concreta do indivíduo superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas, é o que melhor traduz o sentimento das 1.032 famílias vítimas do rompimento da Barragem  Algodões, no município de Cocal da Estação. O dia a dia das pessoas, aos poucos, volta ao normal. A maioria das famílias já está morando nas agrovilas construídas pelo Governo do Estado e demonstra grande esperança em dias melhores.

Moradores da agrovila de Cocal da Estação(Foto: Karynne Katiuzia)
A tragédia, que ocorreu há dois anos e também atingiu moradores da vizinha cidade de Buriti dos Lopes, apesar de ainda estar muito viva na memória de cada uma das vítimas, aos poucos cede lugar ao sentimento de esperança em dias melhores. “Quando lembro que em cima de um pé de oiti passei a madrugada vendo a água descendo, arrastando, vaca, cavalo e casas inteiras,  hoje sei que renasci e tô conseguindo me reerguer com ajuda do Governo, sobretudo, com a presença das  “meninas” da Sasc, aqui, que sempre nos ajuda a ver um futuro melhor”, comentou o trabalhador rural Paulo César Dias, morador da Agrovila Macelinas, em Cocal.

Agricultores e moradores da agrovila de Cocal da Estação
(Foto:Karynne Katiuzia)
Emocionado e feliz por já ter casa e receber a pensão mensal paga às famílias, Paulo César mostrou o cartão magnético, viabilizado pelo Governo para facilitar o saque do benefício na rede bancária, e comentou que aos poucos a vida vai voltando a ter sentido. “Dia a dia vou me sentindo mais cidadão novamente. Com o cartão posso até comprar em lojas”, comemora.

Paulo é exemplo do que vem acontecendo gradativamente nas sete agrovilas (três em Buriti dos Lopes e quatro em Cocal) construídas para atender as famílias que tiveram perdas totais de suas residências. Até o momento, o Governo do Estado já reparou parte dos danos com o auxílio imediato de R$ 5 mil (para compra de móveis), doações de casas e pagamento mensal das pensões.

Ao todo foram doadas 583 casas e mensalmente é pago o valor aproximado de R$ 58 mil de pensão às famílias vítimas da tragédia.

Cocal da Estação - Paulo César(Foto: Karynne Katiuzia)
A assistente social Luiza Carvalho, da Sasc, que conduz este trabalho de acompanhamento das famílias, diz que a equipe se emociona com a confiança depositada nelas e com a alegria de cada uma das vítimas em recomeçar a vida. “Cada um tem sua história, sofreu impacto diferente e reage de forma diferente, isso é normal. Mas cada um do seu modo,  uns mais entusiasmados, outros com recaídas de desânimo e por isso é importante estar aqui do lado, dando apoio, lembrando que a vida não acabou e que eles precisam dar a volta por cima”, afirma.

Grupo de Balé de Cocal da Estação(Foto: Karynne Katiuzia)
Luiza acrescenta ainda que frequentemente surgem boatos sobre o não pagamento das indenizações, por exemplo, o que deixa as famílias aflitas, e diante desta realidade é fundamental a orientação das profissionais do Governo para acalmar as pessoas. “É gente aproveitadora que fica causando pânico nas famílias, sobretudo naquelas que têm menos instrução, temos que tranquilizar as vítimas, informando que o Governo está presente e que o que dizem não passa de mentiras”

Cidadãos de fato
Representante da Agrovila Novo Jatobá (Carrasco), em Buriti dos Lopes, José Arnaldo Bastos está contente com a instalação da energia elétrica no local. “Esta é mais uma vitória. Dia após dia, vamos vendo as coisas acontecerem. Com casa, com energia, vamos nos sentindo mais vivos, a vontade de lutar reaparece, afinal, não há vencedor sem luta”, desabafou

Zé Arnaldo (como é mais conhecido) confidenciou que em muitos momentos pensou em desistir, mas o apoio da equipe de psicólogas e assistentes sociais do Governo sempre lhe renovava as esperanças. “A palavra amiga de dona Luiza e das outras meninas da Sasc foi e continua sendo tão importante quanto a ajuda material que recebemos. As perdas significaram muito além do que prejuízos financeiros. Muita gente pensou até em se matar, mas as “meninas” ajudaram a ver outros caminhos para uma nova vida. Elas nos ajudaram a descobrir forças que nem sabíamos que tínhamos.  Descobrimos que tínhamos direitos”.

Cultura no resgate à cidadania
Compartilhando a dor e esticando a mão às vítimas no momento mais difícil, quando elas descobriram que tinham perdido tudo, dona Neusa abrigou em sua casa cerca de 50 pessoas. E neste ambiente de solidariedade, mas sempre confiando na reconstrução da vida de cada um, ela pediu ao filho, bailarino profissional, que através de seu trabalho ajudasse aquelas pessoas. “Foi quando percebi meninas com postura de bailarinas, então, aos poucos, apresentei o balé a elas, que se identificaram imediatamente. Hoje temos um grupo profissional, mas o mais importante é escutar que o balé ajuda a esquecer a tragédia”, enfatiza o professor Valdemir Albuquerque, mais conhecido como Demi.

O professor lembra que uma das meninas confidenciou que depois de muitos dias sem conseguir dormir, porque ao fechar os olhos revia toda a tragédia, ouvia os gritos de socorro, mas com a música do balé voltou a ter uma boa noite de sono.

O grupo é formado por sete meninas que já sonham em seguir carreira na área da dança. “O balé me ajuda a esquecer tudo que eu passei. Me ajuda a dormir e me auxiliou a escolher uma profissão. Já pensei em ser advogada, professora e bailarina, mas a dança fala mais alto e acredito que este será o meu caminho”, disse a adolescente Angelina Machado, de 14 anos,  sobrevivente da tragédia.

Angelina agradece a oportunidade oferecida pelo professor Valdemir, começa a seguir os mesmos passos e já tem uma turma de balé com 40 crianças de cinco a oito anos. “Esta é uma forma de agradecer o que o professor fez por mim e ajudar a quem precisa, como um dia eu fui ajudada”, finaliza.

Clique AQUI e saiba mais informações de Parnaíba e região. 
Jornal da Parnaíba | Por Karinne Katiuzia

Nenhum comentário: