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O humorista e deputado federal "Tiririca" usa calça jens durante as sessões da Câmara Federal Foto: Dida Sampaio/Agência estado |
Tiririca quebra protocolo ao adotar a calça jeans
em Brasília; Legislativo pede passeio completo até no calor. Exigência do passeio completo na Câmara já deixou
deputados em “saia justa”. Quem trabalha no ambiente corporativo já sabe: para
não fazer feio, é bom adotar o chamado “passeio completo” que, em linhas
gerais, é o conjunto terno, camisa e gravata, para os homens, e o tailleur ou
vestido, para as mulheres. A dica vale para o Congresso também, mas com
uma diferença importante: lá, quem foge à regra pode até ser barrado na porta.
O
descontentamento com as normas do Congresso chegou a tal ponto que, em 2007, o
ex-senador Mão Santa (PSC-PI), entrou com um mandado de segurança no STF
pedindo a liberação do uso do chapéu na Câmara, sob o argumento de que a
proibição era “ato ilegal, arbitrário, discriminatório e preconceituoso”. O
processo foi arquivado, mas a consultora Andréia Miron lembra que,
independentemente de regimento, não se deve usar acessório em nenhum ambiente
fechado.
Não foi o que aconteceu com o deputado federal e
humorista Tiririca (PR-SP), que nos últimos dias decidiu trocar a calça de
alfaiataria por uma calça jeans. Como na Câmara a recomendação não é uma regra
por escrito, o parlamentar não sofreu nenhuma represália – só chamou a atenção.
Mas se isso tivesse ocorrido no Senado, o problema seria muito maior, pois o
uso do passeio completo é uma obrigação registrada em papel nesta Casa – onde
as mulheres só puderam trocar as saias pelas calças sociais em 1997.
Ao R7 a Mesa Diretora e o departamento
responsável pelo cerimonial da Câmara explicaram que as dicas para o
guarda-roupa dos parlamentares nunca constaram em regimento interno.
Entretanto, algumas normas são vistas como “lei” na Casa, como a
obrigatoriedade do uso da gravata e do blazer – sem os quais não é permitido
entrar no plenário –, e a proibição das bermudas – o maior “vilão” contra o
estilo do Legislativo.
Para a consultora de moda e pesquisadora de
comportamento Andreia Mirón, professora da Faculdade Santa Marcelina, de São
Paulo, a escolha de Tiririca pelo jeans foi uma “gafe protocolar”, mas que pode
aproximá-lo ainda mais de seus 1,3 milhão de eleitores.
- É uma gafe protocolar. Mas o jeans surgiu na
década de 70 para ser a peça mais democrática, usada independentemente da
classe social e da cultura. E o Tiririca, por ser uma “representação” do povo,
o utiliza de uma forma que as pessoas entendem. É uma aproximação que ele cria
com as pessoas que o elegeram, [...] mesmo que isso não tenha sido arquitetado
ou projetado.
Na Câmara, há apenas uma regra no regimento interno
que aborda a questão das roupas: a que recomenda que a pessoa esteja
“convenientemente trajada” para circular pela Casa (artigo 272). Entretanto,
para evitar situações constrangedoras – como a ocasião em que o então deputado
Clodovil Hernandes foi barrado pela falta da gravata –, todos os deputados
recebem, logo no início da legislatura, algumas orientações (válidas
especialmente para o dia da posse) – entre elas, uma que fere o “estilo
Tiririca”: não usar jeans, tênis ou sandálias rasteiras.
O presidente da Câmara pode, no entanto, mudar as
regras internas e, se quiser, vetar ou liberar alguns trajes na Casa. Isso
ocorreu em 2007, quando foi proibido o uso de chapéus e bombachas em plenário.
Na ocasião, a medida desagradou o então deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS),
habituado a usar o traje típico gaúcho.
“Saias justas” e protestos
Mas as “leis” do guarda-roupa não agradam a todos e
já causaram algumas situações chatas em Brasília – onde as temperaturas
elevadas são as maiores inimigas dos casacos e paletós.
A deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), por exemplo,
foi impedida de acompanhar a uma sessão no STF (Supremo Tribunal
Federal), em maio deste ano, por ter esquecido o blazer, conforme contou pelo
Twitter, na ocasião.
- Tentei acompanhar julgamento da união
homoafetiva. Esqueci que aqui no STF a seriedade é também medida pelo uso de
blazer.
Na maior Corte do país, as normas são ainda mais
duras e valem até para quem só quer acompanhar da plateia a um julgamento. Para
se ter uma ideia, as mulheres que frequentavam a Corte só puderam trocar as
saias e vestidos pelas calças em 2000, mas a ministra Cármen Lúcia só
estreou o visual no plenário 2007 – sete anos após a chegada da então colega
Ellen Gracie, primeira representante feminina do Tribunal e adepta dos vestidos
e saias.
O descontentamento com as normas do Congresso
chegou a tal ponto que, em 2007, o ex-senador Mão Santa (PSC-PI), entrou com um
mandado de segurança no STF pedindo a liberação do uso do chapéu na Câmara, sob
o argumento de que a proibição era “ato ilegal, arbitrário, discriminatório e
preconceituoso”. O processo foi arquivado, mas a consultora Andréia Miron
lembra que, independentemente de regimento, não se deve usar acessório em
nenhum ambiente fechado.
Embora não faça tanto calor em São Paulo quanto em
Brasília, o clima tropical também foi o argumento usado pela ex-vereadora
Soninha Francine (PPS) para pedir o fim da “ditadura do terno” na Câmara
Municipal.
- O uso do paletó e da gravata tem conotação
meramente simbólica, mas, de fato, não se coadunam com o clima tropical e a
realidade econômica do Brasil. Entendemos que devam prevalecer e ser
incentivados o uso de vestimentas que aliem conforto e preço, e não simples
adequação ao padrão estético de nossos colonizadores.
O projeto foi arquivado em 2009 e os vereadores
continuam “reféns” dos blazers na capital paulista. Andréia lembra, porém, que
é possível escapar do calor optando por peças com tecidos leves, como voais,
crepes e musselines, por exemplo. Já o jeans pode até não ferir nenhuma regra,
mas não é muito bem visto no ambiente corporativo – dentro ou fora do
Legislativo.
Independentemente das regras, o senador Gilvam
Borges (PMDB-AP) não abre mão das sandálias, embora não dispense o terno como
“uniforme” oficial. Flagrado pelo R7 em março deste ano com
o calçado no Senado, ele demonstrou se sentir à vontade com o jeito que se
veste, e disse nem dar bola para os olhares desconfiados.
- Não gosto de sapato. Vivemos num país tropical.
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Jornal da Parnaíba | Com informações de Marina
Novais do R7
3 comentários:
Mão Santa, aquela época, Senador, servia-se do expediente para atender um pedido do colega e amigo, Pedro Simon(RS)
Mão Santa, aquela época, Senador, servia-se do expediente para atender um pedido do colega e amigo, Pedro Simon(RS)
Olá amigo José. Não digo que esteja correto, pois Tiririca sabia como era, mas acho que o jeans com um blazer deixa a caráter bem vestido. Essa casa tem normas muito severas para insignificâncias, enquanto isto faz palhaçada com o povo; devia ficar trabalhando e não preocupando com vestimentas. Abraços fraternos. Um ótimo fim de semana. Kaoma
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