No domingo, fui ao mercado central com a Fátima,
com o objetivo de que o Didi e a sua mulher comprassem roupa de banho, pois
iríamos à praia de Pedra do Sal. Como sei que essas compras sempre demoram um
pouco, para passar o tempo fui visitar o Jardim dos Poetas, e dessa forma rever
a placa com o meu poema, que ali existia. Era um poema integrante dos PoeMitos
da Parnaíba, em que eu homenageava a Luse, que eu conheci, quando morei na
Praça da Graça, no apartamento dos Correios. Era ela uma figura interessante,
alegre, algo extrovertida, que gostava de usar umas saias com belas estampas
florais. Era professora de piano. Apesar de um tanto gorda, curiosamente,
segundo depoimento de um amigo meu, dançava com muita leveza, graça e
elegância. É falecida há vários anos.
O Jardim dos Poetas foi construído na gestão do
prefeito Paulo Eudes, idealizado pelo teatrólogo e escritor Benjamim Santos,
quando este era o secretário municipal da Cultura. Era na verdade, em síntese,
uma espécie de antologia em concreto da poesia e dos poetas parnaibanos, natos
ou não. Ali estavam, nas quase duas dezenas de placas metálicas verdes, afixadas
em pedestais, que imitavam uma espécie de tribuna, poemas dos vates consagrados
pelas antologias, pelos críticos e pela história da literatura parnaibana. No
painel central (uma grande coluna retangular) estavam expostos, em grandes
letras em relevo, os imortais versos de Alcenor Candeira Filho e Luíza Amélia
de Queiroz. Numa placa metálica azul foram colocados, da forma mais exaustiva
possível, os nomes de quase todos os poetas parnaibanos, tantos os nascidos no
município, como os que ali se radicaram ou se vincularam radicalmente à
literatura local.
Quando o jardim estava sendo planejado e
construído, despertou muita espectativa e curiosidade entre os poetas,
inclusive quanto à inclusão ou exclusão de nomes. O local da obra foi visitado
por vários literatos, inclusive de Teresina. Eu mesmo, em companhia de outros
poetas, visitei o local e achei que fosse uma grande homenagem aos bardos,
mormente numa época de tanto hedonismo, em que a música e os audiovisuais
imperam de forma avassaladora; numa época em que a poesia se queda como “a mais
discreta das artes”, no dizer de Eugénio Montale. A sua inauguração foi
comemorada com uma série de eventos culturais, inclusive teatralização de
poemas, dança, música e palestras. Tive a elevada honra de ser convidado para
proferir uma palestra sobre literatura parnaibana, tendo na oportunidade
lançado meu opúsculo Aspectos da Literatura Parnaibana, em que faço referência
aos principais aedos da cidade, dentro de uma síntese histórica de sua
literatura.
Estive recentemente em Caxias, Maranhão, e vi nessa
cidade, numa praça central, o poeta Gonçalves Dias, a recitar versos em seu
pedestal. Vi também a Praça do Pantheon, na qual foram colocados os bustos dos
seus principais poetas e escritores. Ali estavam, esculpidos, os poetas
Gonçalves Dias, justamente considerado um dos maiores poetas do Brasil, que
tinha orgulho de carregar em suas veias o cadinho de três raças – a índia, a
negra e a branca; Coelho Neto, poeta e escritor, considerado um parnasiano da
prosa, um dos lidos escritores em seu auge; Vespasiano Ramos, um lírico de alto
coturno, cujos versos do soneto Samaritana regurgitavam na boca dos sedentos
boêmios de outrora; e o poeta e industrial Francisco Dias Carneiro, sobre o
qual me reportei da seguinte forma: “Vi apenas um poema desse último vate e
capitão de indústria, mas considero que ele cantou belamente os rumores e as
ramagens do Itapecuru, em versos sonoros, melodiosos, refertos de imagens e
sentimentos”. Essa viagem foi registrada neste mesmo Diário Incontínuo, sob o
título de “O Pantheon de Caxias”, cujo texto foi lançado aos mares
internéticos.
Pois bem, falei na Praça do Pantheon porque ela me
fizera lembrar o Jardim dos Poetas. Contudo, ao adentrar este último logradouro
senti o seu estado de abandono. Lixo e ervas daninhas infestavam o local. Foi
em vão que procurei a placa do meu poema, que homenageava a Luse. Ela e quase
todas as demais haviam sido retiradas dos pedestais em que foram postas. As
letras do painel central, a que me referi, haviam caído. Só restavam duas ou
três placas, mas deterioradas e ilegíveis. Não posso omitir que fiquei triste.
Todavia, não quero, aqui, criticar ninguém; desejo apenas apresentar uma
sugestão, para um problema que está posto. Inicialmente, faço uma pergunta, já
que alguém disse que o local não seria adequado: será se as suas peças em
concreto, mormente os pedestais e as componentes dos caramanchões, não poderiam
ser levadas para outro local, que fosse considerado mais apropriado?
Creio que a Secretaria de Cultura poderia discutir
a restauração do Jardim dos Poetas, seja no local em que se encontra, seja em
outro que fosse considerado mais atraente, com a Academia Parnaibana de Letras,
com o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, com a Fundação
Cultural Assis Brasil e com a “sociedade dos poetas” vivos. Obviamente, outros
equipamentos, peças e poemas poderiam ser acrescidos ao projeto original.
Placas maiores, mais vistosas e modernas, talvez até com ilustrações de
pintores locais, poderiam dar um novo brilho a essa antologia poética
“impressa” em concreto. Acredito que prejuízo maior é o logradouro/monumento
permanecer do jeito que está, pois, sem os poemas expostos em suas placas, o
Jardim dos Poetas terá perdido todo o seu sentido e finalidade.
Jornal da Parnaíba | Por Elmar Carvalho / 180graus
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