Pratos à base de peixes e frutos do mar são os preferidos dos visitantes da Rota das Emoções, podendo ser encontrados em diversas versões pela região FOTOS: DIVULGAÇÃO |
A diversidade culinária levou o Sebrae a elaborar
um estudo para a criação de um novo produto no conjunto das riquezas da Rota das Emoções:
um roteiro gastronômico
A aproximação entre saber e sabor vai além da semelhança das palavras. Conhecer
é provar, degustar. Na Rota das Emoções - Jeri-Delta-Lençóis, o apelo da comida
é tão sedutor quanto as praias, os esportes náuticos, as fontes de águas doces
e salgadas e o verão quase eterno. Essa riqueza, aliada à diversidade de
sabores dos 15 municípios que integram a Rota, inspirou a equipe técnica do
Sebrae a elaborar o estudo Identidade Gastronômica da Rota das Emoções, que
servirá de base para a formatação de um roteiro gastronômico. A ideia é que o
roteiro seja incorporado pelas agências parceiras, especialmente aquelas que
estão vinculadas ao projeto Economia da Experiência, em que o produto oferecido
desperta uma experiência na vida do consumidor.
O conjunto de informações, que parte da colonização brasileira até chegar à
mesa bem posta dos nossos dias, foi feito com a participação das comunidades e
validado por elas e por formadores de opinião do setor. Mais do que um cardápio
de delícias, o roteiro gastronômico reúne a história, a cultura e os saberes do
território da Rota das Emoções. O trabalho, que integra o projeto Rota das
Emoções e sua Competitividade no Mercado, abrange ainda a ambientação dos
estabelecimentos e a introdução das manifestações culturais como forma de
agregar valor ao produto.
Os sabores são parte importante de qualquer viagem e muitas vezes se
transformam na lembrança mais viva dos lugares visitados. É assim com a torta
de banana da Tia Angelita, de Jericoacoara. A iguaria, de sabor incomparável
(quem já provou, sabe!), como as madeleines da obra de Marcel Proust
imortalizadas no livro "Em busca do tempo perdido", conta uma
história. "Eu vendia bolo e a torta de banana na porta dos restaurantes.
Andava o dia inteiro com a bandeja pelas ruas. Depois vi que era o que mais
vendia e comecei a fazer só a torta. Hoje, consegui comprar a minha casa, minha
filha me ajuda e é o freguês que vem me procurar aqui", conta Tia
Angelita.
Lagosta servida no Ondas Bar na Praia de Atalaia e Luis Correia (PI) - Foto Divulgação |
Costumes de cada elemento formador da população brasileira influenciaram a
culinária dos três Estados que compõem a Rota. Dos índios, a mandioca e seus
derivados (farinha, beiju, paçoca e pirões), as frutas tropicais, o pescado
(peixes e crustáceos), a caça, o milho e o uso da pimenta. Dos africanos, a
incorporada tradição brasileira do arroz com feijão, o cuscuz, o azeite de
dendê e leite de coco, a caça, ovinos e caprinos e, também, pescados. Dos
europeus, a herança está principalmente na farinha de trigo e suas formas de utilização:
bolos, massas, pizzas; carnes salgadas, batatas, feijão fradinho, carne de
gado, frutas como jaca e manga, sucos, doces e compotas.
Além das influências dos povos formadores, os municípios que integram o
território da Rota das Emoções vêm recebendo modos e modas culinárias dos
visitantes de outros países que se fixaram no Brasil. "Há uma enorme
diversificação de ingredientes, pratos, formas de fazer, costumes e maneiras de
consumo trazidos pelos ´novos colonizadores´, ampliando ainda mais a complexa
gastronomia predominante no roteiro turístico", afirma a consultora
Marisol Modolo, responsável pela consolidação de dados do estudo Identidade
Gastronômica.
Em um território quase todo litorâneo, um retrato da identidade gastronômica
tem de ser marcado pelo alto consumo de pescados. Outro item são as frutas
tropicais, comuns em toda a região e consumidas in natura e também em forma de
doces, sorvetes, bolos e sucos. São também usadas como ingredientes para molhos
de pratos exóticos.
A seguir, você confere recortes da identidade gastronômica de cada um dos três
Estados que integram a Rota das Emoções, de acordo com o estudo realizado pelo
Sebrae.
Maranhão
As principais frutas consumidas são mamão, laranja, jenipapo, manga, goiaba,
banana casca verde, cajá e coco, além das silvestres buriti, bacuri, pequi,
murici, mirim, jatobá, juçara e pitomba. Todas são consumidas in natura e em
sucos, sorvetes e doces.
Entre os grãos mais usados pela população, conforme o estudo, estão o milho e o
arroz, que são a base de inúmeros pratos, como cuscuz, manuê, "chá de
burro" (mingau de milho), canjica, pamonha (feita com milho verde, coco,
açúcar) e mingau de arroz.
A mandioca é presente em todo o Estado, como base de farinhas e gomas que são
usadas em bolos, biscoitos beijus. Da mandioca também é feita uma bebida de
alto teor alcoólico, a tiquira.
A fartura de peixes e frutos do mar é outro traço da mesa maranhense: pilombeta,
camurim, arenque, arraia, serra, bagre, pescada, além de camarão, ostras e
mariscos. Entre as aves, predomina o consumo de galinha.
Três eventos gastronômicos destacam-se no Estado: a Festa da Banana, no povoado
de Tapuio (Barreirinhas), em setembro; a Festa do Pequi, que envolve
restaurantes e pousadas de Barreirinhas; e a Dança de São Gonçalo, presente em
festejos da região. Na dança é utilizado um arco feito com palha de coqueiro e
enfeitado com frutas regionais e bolos de goma lisa, que recebe o nome de
"bolo de São Gonçalo".
Piauí
Com grandes semelhanças ao Estado vizinho, o Piauí é também farto em frutas,
apreciadas in natura e, também, em forma de sucos, sorvetes, doces e massas
(buriti), em calda, cristalizados.
Em matéria de grãos, há predominância do milho e do arroz, mas o feijão foi
mais citado do que no Maranhão. Mandioca e batata doce são muito apreciadas, em
formas de preparo parecidas com as dos outros Estados da Rota: em bolos, beijus
e cozidas para servir com café.
Peixe, camarão, caranguejo, ostras e mariscos são a marca da região. Mas, as
carnes bovina, suína, caprina e ovina também têm alto consumo.
Entre as aves, além da galinha, o capote é citado como tradição em vários
municípios do território. É apresentado como tira-gosto, frito, ao molho pardo
ou em forma de arroz de capote.
Ceará
As frutas mais citadas são a banana, com uso principalmente em Jericoacoara (na
forma de torta), e o coco, que aparece em forma de doce de coco ralado com
mamão, cocada, suco da polpa, sorvete, leite de coco artesanal e na água do
coco.
O açaí caiu nas graças dos praticantes de esportes radicais, como windsurf e
kitesurf, principalmente em Jeri, para repor as energias depois do sol e do
mar. É consumido na tigela, com banana e granola, e em forma de sorvete.
O caju faz parte da história do lugar, pois é a base da cajuína, bebida sem
álcool inventada pelo escritor e poeta cearense Rodolfo Teófilo. Do Ceará, a
bebida chegou ao Piauí, onde foi imortalizada na canção Cajuína, composta por
Caetano Veloso.
A mandioca, o milho e o arroz são tão comuns no Ceará quanto no Maranhão e
Piauí e são a base de praticamente os mesmos pratos. Já nos tipos de pescados
mais apreciados há algumas variações. No Estado são mais comuns o camurupim,
serra, cavala, robalo, pargo, pescada, bagre, coró, arraia, cação, galo do
alto, camarão e outros crustáceos. E a ave mais citada foi a galinha.
Herança da Espanha, a rapadura - feita do bagaço da cana - é verdadeiro
patrimônio da culinária cearense. Começou a ser produzida a partir do século
XVI.
Jornal da Parnaíba | Fonte: Diário do Nordeste
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