Praia, ao Norte do Piauí, é referência mundial na
prática do kitesurf, esporte que mudou a rotina da comunidade e continua
impulsionando o desenvolvimento local.
Kitesurf, o esporte aquático que transformou Barra Grande no litoral Piauiense. |
O céu de Barra Grande, há pelo menos uma década,
não é mais o mesmo. O colorido das pipas diante da imensidão do mar revela o
cenário preferido dos praticantes de kitesurf. O esporte aquático transformou,
e continua mudando, a rotina da pacata comunidade que, ano após ano, vê sua
praia tomada por turistas e, principalmente por europeus, em busca de aventura
e tranquilidade.
Ariosto Ibiapina foi um dos primeiros empresários a
enxergar no esporte uma oportunidade de investimento. “Comecei a andar de kite
há 16, 17 anos, quando o kite entrou no Brasil. Sempre gostei de praticar
esportes e achei aquilo muito bonito e fui a Jericoacora com um amigo. Lá,
vimos um americano andando de kite e resolvemos aprender a andar naquele
negócio”, lembra.
O colorido do céu de Barra Grande chama a atenção dos visitantes. |
E foi observando o crescimento do esporte que
Ariosto resolveu apostar no ramo. “Logo logo, percebemos que, dentro da esteira
do kite, vinha um mundo de negócios, o cara que fazia o transfer para levar os
kitistas para praias diferentes; o próprio kitista que, geralmente, é uma
pessoa de idade mais avançada, na faixa dos 30, 40 anos, que já é um
profissional, que tem renda própria e, quando ele viaja, quer conforto,
tranquilidade e aí começaram a surgir as pousadas, os restaurantes, pizzarias,
os meninos para dar aula, os meninos para consertar kite e vender material de
kite”, relata.
A consolidação do esporte na região é tamanha que
já tem adolescentes da comunidade medalhistas em mundiais. “Sempre há uma
integração muito grande da comunidade com o kitista, porque ele é um cara muito
exigente, ele não quer luxo, mas quer conforto, quer comer bem, estar o mais
próximo da natureza possível. E isso foi desenvolvendo as comunidades e, hoje,
o mundo todo sabe quem é Piçarrinha, menino filho de pescador, de 15 anos,
andando de kite, graças a um projeto social feito em Barra Grande”, ressalta
Ariosto ao se referir a Manoel Soares, velejador piauiense que, no início deste
mês de dezembro, aos 17 anos, conquistou a medalha de prata no Mundial Jovem de
Kitesurf e, em junho, já tinha conseguido entrar na liga profissional da
modalidade, World Kitesurfing League (WKL), no estilo freestyle.
Condições climáticas e geográficas
Além dos investimentos empresariais, condições
climáticas e geográficas favorecem a consolidação do kitesurf em Barra Grande.
Com influência dos ventos alísios, a temporada para a prática do esporte na
região chega a oito meses por ano.
“No nosso Nordeste, que vem abrangendo Natal (RN),
São Miguel do Gostoso (RN) até Atins (MA), a gente tem a incidência dos ventos
alísios, que são ventos constantes, que dependem da angulação do planeta e do
movimento de rotação. Então, quando a Terra se posiciona durante o ano do jeito
que ela tem que está, esses ventos começam a incidir. Aqui, a gente não tem os
ventos térmicos, que são as entradas de massa de ar quente, fria, chuvas, nada
disso. São ventos constantes; por isso, a gente tem essa temporada grande, que
varia de julho a janeiro, fevereiro”, explica o instrutor de kitesurf, Ivan
Artur, que há quatro anos trabalha em Barra Grande.
Além dos ventos, a geografia da praia, que forma
uma baía, faz com que o praticante de kite sempre seja ‘jogado’ para a praia,
oferecendo maior segurança em caso de acidentes. “Então, você tem o vento que
te dá toda essa extensão da praia para praticar, um vento paralelo à costa, à
praia, e ele te joga um pouquinho para dentro da praia, ou seja, com essa baía
e com o vento incidindo, você pode praticar seguramente. Você pode estar para
fora 1,5 km, 2 km, que se você souber o procedimento, mantiver a calma,
qualquer incidente que acontecer contigo, você vai parar na praia, você não vai
passar a boca do rio, sair descendo, não vai acontecer nada”, assegura.
(Virgiane Passos)
“Saber nadar é pré-requisito”, afirma instrutor
Com a difusão do kitesurf em Barra Grande, surgiram
também as escolas para aprendizado do esporte. Segundo o instrutor Ivan Artur,
o kite é um esporte bem abrangente e basta força de vontade para começar a
aprender.
Contudo, Ivan destaca que saber nadar é fundamental
para começar a praticar. “Mesmo a gente tendo uma maré seca, a pessoa que sabe
nadar reage diferente da que não sabe nadar na hora de um imprevisto”,
justifica.
Com relação à idade para aprender, o instrutor
revela que a escola tem turma já para as crianças. “Aqui na escola, a gente
costuma a trabalhar com crianças de 10 a 12 anos para começar a capacitação.
Mas é muito relativo, porque depende do tipo de informação que a criança tem.
Tem criança que nasceu vendo isso e está apto a embarcar mais cedo nessa
história”, explica.
O instrutor informa ainda que são necessárias de 10
a 15 horas/aula para começar a vivenciar o esporte sozinho, mas este tempo
depende da aptidão de cada um e pode demorar mais ou menos tempo para aprender.
“Não precisa de muita força no braço, é mais jeito. O aluno, quando está
aprendendo, acaba gastando uma energia maior que a necessária; mas depois que
ele entende a técnica, o esporte, começa a brincar sossegado”, finaliza.
Por: Virgiane Passos/Portal O Dia | Edição: Jornal da Parnaíba
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