Agora que a presidente Dilma perdeu o mandato,
enterrou seu partido e está no chão, feito manga podre coberta de mosquitos, me
ocorre lembrar uma situação muito da incômoda pra quem mora em casa que tem
quintal grande e cheio de árvores, mangueiras principalmente. Se bem que nestes
tempos modernos as casas estão diminuindo esse espaço que em outros tempos foi
lugar pra se jogar aquilo que não tinha serventia dentro de casa.
Sou de um tempo em que as casas tinham grandes
quintais. Cheios de árvores de toda igualha. Mangueiras, sapotizeiros,
limoeiros, cajueiros, coqueiros e por aí vai. Mas os quintais eram lugares onde
se jogava tudo aquilo que não prestava e que estava fazendo monturo dentro de
casa. Qualquer coisa quebrada. Cadeira velha sem a perna, penico, travesseiro
cheio de carunchos, latas de leite em pó vazias, chinela sem os cabrestos,
enfim, toda sorte de tranqueiras.
Lugar onde se queimava lixo e se rebolava resto de
comida pra os cachorros. Lugar pra se rebolar comida pros porcos. Porcos que
comiam esses restos e depois, num belo dia de domingo, iam pra mesa da família
feito quisados ou assados na panela. Mas quintal, pelo menos antigamente, era
lugar onde se juntava inseto. E quando era no tempo de manga ou outras frutas
maiores e polpudas, igual mamão, sapoti e caju, em época de chuva, era lugar
onde ninguém gostava de enfiar os pés. Dava frieira.
Dessa de coçar entre os dedos e causar aquela
inquietação dos diabos. Vontade de subir pelas paredes. Mas de tanto falar em
quintal ia me esquecendo dos insetos e de um em particular, o grilo. Um inseto
muito do insolente e que acha que todo mundo tem obrigação de ficar ouvindo
aquela cantiga repetida por uma noite inteira. Coisa de tirar o sono de
qualquer cristão! De agora até o início de outubro o que mais a gente vai ouvir
é cantiga de candidato a vereador na sua porta e na propaganda eleitoral no
rádio e na televisão.
Eles infestam sua vida e sua hora de descanso com
as mais absurdas promessas de campanha. E sempre repetindo que vão trabalhar
pela educação, saúde, segurança. Saúde, educação, segurança. Segurança, saúde,
educação. Mais creches, mais empregos, mais hospitais. Equipamentos sociais e
obras que na maioria das vezes não e nunca foram de competência de prefeituras
e muito menos de vereadores!
E fica aquela latumia no seu pé do ouvido e na
televisão. Cada um falando mais besteira. Uma atrás da outra. Uma lista e meia
de absurdos. Esses grilos políticos infestando sua hora de sossego quando a
gente está esfregando um pé no outro deitado no sofá da sala tentando um
cochilo. Aquela cantiga miserável vindo da fresta da porta. E dá vontade de
sair com um chinelo caçando até encontrar esse grilo dos infernos! Aqui na Parnaíba a gente tem é visto coisa! E
olhe que ainda tem é grilo pra sair do buraco. Aguente os ouvidos até o final
do mês.
Por Antonio de Pádua
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