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Ponte metálica sobre o rio Portinho |
Lembro bem, que era uma aventura gostosa a viagem de trem Parnaíba/Amarração. A
"Maria Fumaça" brilhando e fumegante, soltando fagulhas pela chaminé,
os vagões que formavam o comboio; primeiro o carro de carga e logo os de 1ª e
2ª classe. Às 17 horas o trem apitava anunciando a partida. Os últimos retardatários,
carregados de pacotes de pães e biscoitos, escapando pelos dedos, eram
empurrados para o vagão. Todos se acomodavam; muitos sentados, muitos de pé,
proseavam sobre os acontecimentos do dia. Com um apito longo o trem deixava
para trás a zona urbana, e eu com os olhos compridos, tentava vislumbrar na
casa amarela encimada com uma estrela branca (meus avós paternos) algum vulto
amigo.
Passávamos o São João, agora todos descontraídos,
chegávamos ao Catanduvas. Mais duas paradas, Floriópolis e Berlamina, e já divisávamos
a velha e fascinante ponte de ferro sobre o Rio Portinho. O ranger oco das
rodas de ferro sobre os trilhos e a fumaça do trem, a altura da ponte, que se
nos afigurava enorme, com o rio caudaloso lá embaixo, as fagulhas entrando
pelas janelas, o medo do enxame dos maribondos que podiam atacar, tudo
conspirava para aumentar o medo, e dar assas à nossa imaginação infantil.
Respiração presa, até o trem chegar novamente em terra firme. Outro apito
prolongado e triunfante, passávamos o Cemitério Branco, os primeiros casebres,
e logo a estação cheia de gente, principalmente de meninos já com a cor local,
para saudar efusivamente os recém-chegados. Todos falavam ao mesmo tempo, davam
ordens e faziam perguntas. Trouxe as bolachas? E a carne? Peixe que é bom, hoje
não apareceu. Fomos à Atalaia pela manhã, o João se queimou com uma caravela. O
banho do trapiche hoje a tarde foi sensacional!
Entardecia de repente, e logo a noite se aproximava. Carregado de embrulhos,
chegávamos até a casa, onde mamãe nos esperava com o jantar à mesa. Acendíamos
os candeeiros para os dormitórios, e o petromax era bombeado e levado à sala de
jantar. Não havia luz elétrica. As casas mais preparadas , às vezes tinham
bicos de carbureto. Depois dos comes e bebes, saíamos para o campo em frente,
onde os outros meninos já nos esperavam. Era a hora do reconhecimento. Quem já
chegou? Na rua da frente já estão seu Paulino, o Sued e seu Amaury, dona
Maroquinha ainda não veio, dizem que está esperando uma neta linda, que vem
passar as férias. Na nossa rua. as Pires já estão instaladas. O Cel. José
Ribeiro e dona Edméia já estão programando novos passeios. O pessoal do seu
Juvenal apareceu também hoje. Ainda não encontramos o seu Dedé Oliveira. Amanhã
cedo acho que vamos fazer um "pique-nique" na ponte.
O céu era uma purpurina só. Milhões de estrelas ao nosso alcance. O vento
fresco que soprava trazendo até nós o barulho do mar, música para nossos
ouvidos, que embalaria nossos sonhos logo mais, e nos acordaria com mais vigor
ao raiar de um novo dia.
Crônica transcrita do Livro "Estórias de uma Cidade Muito Amada" de Carlos Araken e publicado no facebook de Helder Fontenele
Edição: Jornal da Parenaíba
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