Entre 1700 e 1800 viveu na Vila
de São João da Parnaíba, onde hoje fica o município de Parnaíba, Piauí, uma
escrava que praticava feitiçarias que havia aprendido na África, em rituais
obscuros que hoje não se praticam mais.
Era afamada como detentora de grandes
poderes sobrenaturais, exercendo, assim, grande influência na sociedade de
então.
Sempre que alguém questionava sua
força, colocava uma serpente venenosa para morder seu braço, mas nada de mal
lhe sucedia.
Já a cobra se enrolava e contorcia toda, até morrer, de modo que
diziam que o sangue da negra carregava um veneno mais forte que o de qualquer
serpente, o que teria ela conseguido através de um ritual de magia.
Sabendo bem de seu poder, a negra
não levava desaforo para casa, e só se submetia às ordens dos seus senhores
brancos quando bem queria. Se fosse contrariada, soltava fogo e fumaça pelos
olhos e pela narina. Desse modo, sua insubordinação incomodava muita gente.
Uma vez, os donos da fazenda em
que vivia, cansados de seus desaforos, resolveram colocar a mulher em uma jaula
junto com uma onça brava, para que o gigantesco felino a devorasse.
Após alguns
dias, retornaram ao lugar onde a tinham enjaulado, e, para sua surpresa, a
negra estava mais viva que nunca, enquanto da onça só restavam os ossos.
Foram várias as tentativas de
assassinar a negra, mas esta só veio a morrer de velhice avançada. Após
sepultarem seu corpo, no dia seguinte retornaram à cova, onde encontraram seu
corpo fora da cova.
Dizem que o veneno de seu sangue era tamanho que até a
terra evitava consumi-lo, e, por isso, teria colocado a negra para fora do solo
em que havia sido enterrada.
Sem saber o que fazer, as
autoridades da cidade ordenaram que o corpo da bruxa fosse queimado numa imensa
fogueira, e determinaram que suas cinzas fossem espalhadas.
Para o espanto de
todos, as cinzas, como que por mágica, se reuniram em um só local, formando um
enorme cupinzeiro, que, por mais que tentassem derrubar, sempre ressurgia.
O cupinzeiro atravessou séculos
sem que ninguém conseguisse destruí-lo, até que um dia, por si só, se desfez.
Ficava no local onde hoje é o bairro Catanduvas, em Parnaíba, lugar onde,
segundo falam, até hoje habita o espírito da velha feiticeira, que vez por
outra é visto fazendo suas mandingas pelas ruas da cidade.
FONTE: NOLÊTO, Rafael. Mitologia
Piaga: Deuses, Encantados, Espíritos e outros Seres Lendários do Piauí.
Teresina: Clube de Autores, 2019.
TEXTO:
JOSÉ GIL BARBOSA TERCEIRO