Sempre que alguém questionava sua força, colocava uma serpente venenosa para morder seu braço, mas nada de mal lhe sucedia.
Já a cobra se enrolava e contorcia toda, até morrer, de modo que
diziam que o sangue da negra carregava um veneno mais forte que o de qualquer
serpente, o que teria ela conseguido através de um ritual de magia.
Sabendo bem de seu poder, a negra
não levava desaforo para casa, e só se submetia às ordens dos seus senhores
brancos quando bem queria. Se fosse contrariada, soltava fogo e fumaça pelos
olhos e pela narina. Desse modo, sua insubordinação incomodava muita gente.
Uma vez, os donos da fazenda em que vivia, cansados de seus desaforos, resolveram colocar a mulher em uma jaula junto com uma onça brava, para que o gigantesco felino a devorasse.
Após alguns
dias, retornaram ao lugar onde a tinham enjaulado, e, para sua surpresa, a
negra estava mais viva que nunca, enquanto da onça só restavam os ossos.
Foram várias as tentativas de assassinar a negra, mas esta só veio a morrer de velhice avançada. Após sepultarem seu corpo, no dia seguinte retornaram à cova, onde encontraram seu corpo fora da cova.
Dizem que o veneno de seu sangue era tamanho que até a
terra evitava consumi-lo, e, por isso, teria colocado a negra para fora do solo
em que havia sido enterrada.
Sem saber o que fazer, as autoridades da cidade ordenaram que o corpo da bruxa fosse queimado numa imensa fogueira, e determinaram que suas cinzas fossem espalhadas.
Para o espanto de todos, as cinzas, como que por mágica, se reuniram em um só local, formando um enorme cupinzeiro, que, por mais que tentassem derrubar, sempre ressurgia.O cupinzeiro atravessou séculos sem que ninguém conseguisse destruí-lo, até que um dia, por si só, se desfez.
Ficava no local onde hoje é o bairro Catanduvas, em Parnaíba, lugar onde,
segundo falam, até hoje habita o espírito da velha feiticeira, que vez por
outra é visto fazendo suas mandingas pelas ruas da cidade.
FONTE: NOLÊTO, Rafael. Mitologia Piaga: Deuses, Encantados, Espíritos e outros Seres Lendários do Piauí. Teresina: Clube de Autores, 2019.