Nunca Antes Neste País se tornou tão evidente o
poder corruptivo do dinheiro como elemento destrutivo e esmagador da
democracia. Todas as democracias do mundo sofrem com a corrupção (alguns menos,
outros mais). Mas em países como o Brasil, no entanto, o dinheiro e seu poder
estão desvirtuando completamente a vontade do povo. O "cada cabeça, um
voto" só aparentemente representaria a igualdade entre todos os eleitores.
Isso, no entanto, é um mito. Essa igualdade não existe porque o dinheiro dos "grandes
eleitores" "compra" muitos parlamentares que passam a lutar
pelos interesses privados dos mais influentes, que quase nunca se correspondem
evidentemente com os interesses gerais da nação. O dinheiro corruptivo, desde
logo, desequilibra a disputa eleitoral, cujas campanhas (desavergonhadamente
marqueteiras) tornaram-se caríssimas. Quem não tem dinheiro dificilmente
consegue se eleger. É absurdamente desproporcional a campanha eleitoral de quem
é bafejado pelo dinheiro dos poderosos, que interferem não somente nas disputas
eleitorais, senão também no próprio funcionamento do Congresso.
Os financiadores endinheirados, que são os grandes eleitores,
"doam" recursos para os políticos e para os partidos e depois
"cobram" (caro) esse investimento. Eis um primeiro exemplo (Estadão11/11/14):
algumas empresas fizeram doações "legais" de R$ 400 mil ao diretório
do PMDB de Alagoas, que repassou o dinheiro para a campanha de Renan
Calheiros (de 2010); três meses depois tais empresas "doadoras"
cobraram o retorno dos "investimentos" feitos e obtiveram contratos suspeitos
(de bilhões) com a Transpetro (que era dirigida por Sérgio Machado, afilhado
político de Renan Calheiros). O grupo vencedor das licitações (ERT) agora está
acusado de fraude. A malignidade dessas operações criminosas produz não somente
efeitos financeiros (enriquecimento sem causa), senão também políticos (porque
corrompem a democracia).
Outro estrondoso exemplo de "compra"
(financiamento) dos parlamentares reside no escândalo tsunâmico da Petrobras
(de efeitos e consequências imprevisíveis), cujas primeiras revelações
(delações) já são mais do que suficientes para desmoronar toda estrutura
(historicamente frágil) da nossa democracia. O dinheiro e seu poder conseguem
subornar os políticos (e seus partidos) e, dessa forma, ditar políticas
públicas favoráveis aos seus "negócios", fragilizando a própria
democracia (que é o pior de todos os regimes, como sabemos, com ressalva dos
demais, como dizia Churchill - 1874-1965). O edifício da democracia,
laboriosamente reconstruído nos últimos três séculos (no Brasil,
particularmente nas últimas três décadas), vira pó quando o voto do parlamentar
(corrompido) é resultado não dos seus ideais, das suas convicções e dos seus
compromissos assumidos durante a campanha, sim, do dinheiro que foi gasto em
sua disputa política ("doado legalmente", se diz) ou dos recursos dos
grandes poderosos (grandes eleitores) que ditam as decisões do Estado,
impedindo que os governos e os parlamentos eleitos deem cumprimento aos seus
projetos eleitorais.
Nas democracias corruptas (escandalosamente
"compradas" pelos endinheirados) a sociedade não é governada pelas
maiorias que saem das urnas (muita gente não tem a mínima ideia disso), sim,
pelo dinheiro das grandes empresas (e/ou dos grandes empresários), que são (no
final) os "governantes" reais do país. A questão de fundo, na
verdade, nem é o dinheiro em si, sim, os interesses, normalmente escusos
(quando não escatológicos), que ele representa. Os exemplos dessa nefasta
anomalia política (que é a democracia corrupta) se multiplicam, no nosso país,
infinitamente. Para citar apenas mais dois deles, basta prestar atenção no que
está ocorrendo hoje (26/11/14) na Câmara dos Deputados, com as discussões do
novo Código da Mineração assim como do PL 3722/12, do deputado
Peninha Mendonça, que revoga o Estatuto do Desarmamento (Lei
10.826/03). Em ambos as comissões que estão discutindo tais assuntos foram
majoritariamente "compradas" (financiadas) pelos respectivos
segmentos empresarias (que doam dinheiro para as campanhas eleitorais e depois
cobram o retorno no momento da aprovação de projetos dos seus interesses). Mais
corrupção da democracia que isso é impossível imaginar.
Edição Jornal da Parnaíba
Por professor Luiz Flávio Gomes
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