terça-feira, maio 12, 2020

“O Piauí poderá passar por um colapso econômico”, diz presidente da Fecomércio

“Estou pregando a desobediência ao isolamento”, diz Valdeci Cavalcante presidente da Fecomércio.
Valdeci Cavalcante, presidente da Fecomércio no Piauí - Foto: Assis Fernandes/O Dia
Em entrevista exclusiva ao Jornal O Dia, o empresário fez um balanço das perdas que o setor produtivo vem sofrendo nos últimos meses e afirmou que o Piauí poderá passar por um colapso econômico.

O presidente da Fecomércio no Piauí, Valdeci Cavalcante, vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio, voltou a criticar as medidas de isolamento social adotadas pelo governo do Estado e pela Prefeitura de Teresina como forma de barrar o avanço do novo coronavírus. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Dia, o empresário fez um balanço das perdas que o setor produtivo vem sofrendo nos últimos meses e afirmou que o Piauí poderá passar por um colapso econômico. Valdeci Cavalcante também fez duras críticas à postura do prefeito Firmino Filho, a quem classificou como “vaidoso, orgulhoso, temperamental, e desrespeitoso com classe empresarial”. Ainda durante a entrevista, o empresário rebateu as críticas que vem sofrendo por conta de suas declarações públicas a respeito da pandemia do novo coronavírus.
“Em dezembro, vamos ver o caos no estado do Piauí” - Valdeci Cavalcante - Foto: Assis Fernandes/O Dia
Como os representantes do setor produtivo estão avaliando essas medidas de isolamento social adotadas pelo governo do Estado e pela Prefeitura de Teresina?

Nós temos trabalhado com pesquisas nacionais, feitas no segmento, através da contratação de pessoas e voltadas para o interesse coletivo, no sentido de avaliar a viabilidade de um isolamento como está ocorrendo nesse momento e as consequências dele na área sanitária, na área econômica e na área social. A pandemia é uma coisa que você não pode negar, ela existe. Mas o que nós temos observado, pelos resultados que nós temos, é que tem morrido muito mais pessoas em consequência de atos errados de prefeitos e governadores do que do próprio coronavírus. Antes de se aprofundar nesse quesito, faço uma observação. Nós temos um estudo, que inclusive já está sendo compartilhado, que mostra que está acontecendo morte de pessoas com o coronavírus, e não do coronavírus. Por exemplo, eu tinha um amigo em Parnaíba que morreu, era o diretor da Delta. Ele morreu de pneumonia aguda, mas o laudo saiu que ele morreu do coronavírus. Então, é diferente você morrer de coronavírus ou com o coronavírus. Então é isso que está acontecendo. Não há essa quantidade imensa de mortes pelo Covid-19. Há uma quantidade de mortes hoje muito maior do que no ano passado, no mesmo período. Por quê? Porque as pessoas estão sem proteção, as pessoas estão com a sua imunidade baixa. Por quê? Porque as pessoas estão passando fome. As pessoas estão sem ser atendidas por determinados outros ramos da saúde. Tem pessoas com câncer que não estão conseguindo fazer sua quimioterapia; tem pessoas com doenças do coração; tem pessoas com a HIV; tem pessoas com dengue, e com outras doenças que atormentam a população. 

O Estado do Piauí e os diversos estados brasileiros nunca tiveram a estrutura para atendimento da população. Todos os dias, antes desse Covid-19, nós passávamos o dia todo vivendo na imprensa essa deficiência na nossa saúde. Podemos pegar como exemplo o nosso Piauí. Então, agora depois que apareceu esse Covid, desapareceram todos os problemas de prefeito e governador, porque ninguém fala mais desses problemas da saúde, todo mundo só fala do Covid. Os problemas graves da saúde pública não estão sendo levados em consideração. Outra coisa que a gente condena é o seguinte: cada pessoa que perde o emprego você está condenando aquela pessoa e a sua família à fome. Você já perdeu algum emprego e ficou liso alguma vez? Não tem coisa mais pior. As pessoas choram. Sabe por quê? Porque não tem como se sustentar os filhos. Você sabe porque que aquele rapaz foi preso lá no Parque Piauí? Ele abriu porque não tinha nada para dar comida ao filho. Ele foi tentar vender uma peça de roupa. Ele me contou. Tanto é que eu depositei dinheiro na conta dele. Ele não tinha dinheiro para comprar alimento para sua casa. As pessoas estão brincando com isso. Então, veja bem, anote o dado científico. Para cada pessoa que é demitida no emprego, você está condenando no mínimo cinco pessoas à fome, porque a pessoa abastece o lar com o seu trabalho. Se ela não tem trabalho, ela não dinheiro para comprar alimentos, remédios, nem para pagar o aluguel, a água, a luz. É uma pessoa que vai morrer de fome com os seus filhos. Aí vem a violência, porque na casa que falta o pão todos falam e ninguém tem razão; vem a miséria e vem a morte.

O setor produtivo vem falando em prejuízos, por conta dessas medidas adotadas. Já é possível mensurar esse prejuízo em números? Qual o real impacto disso aqui no Piauí?
No Piauí, esse prejuízo já chega a quase um bilhão de reais. É um prejuízo que nós vamos levar quase vinte anos para recuperar. Olha, nós tínhamos treze milhões de desempregados.Com um ano e pouco Bolsonaro baixou pra onze milhões, e agora nós vamos pra mais de vinte milhões de desempregados com essa pandemia. Nós vamos pra mais de vinte milhões de desempregados. Não é brincadeira o que está acontecendo. Nós temos 40 montadoras de veículo fechadas, mais de mil concessionárias de veículos fechadas. Estou dando apenas um exemplo. Com segmento da indústria fechado, fecham todas as empresas, distribuidoras e o comércio. Uma simples lojinha fechada, ela tem o efeito dominó terrível de prejuízo para as pessoas e para nação. Então as pessoas tem que ver o seguinte: Não é só um problema de saúde, é um problema de economia e um problema social.
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Dr. Valdeci, como viabilizar a retomada da atividade econômica, mas sem deixar de lado as ações de combate ao coronavírus?
Para eles [gestores], no momento, as pesquisas são boas, estão favoráveis à essas condutas deles, ao isolamento. Por quê? Porque os funcionários públicos estão em casa com seu salário e outros segmentos estão em casa como seu salário, estão com a geladeira cheia, estão sem trabalhar, estão adorando. Então, o que que vai acontecer? Ninguém está recebendo impostos, porque não tem ninguém faturando. Então ninguém está pagando. O Estado do Piauí também não está faturando, porque ninguém está vendendo. O Estado vive e col etar impostos, e o município também. Então, pode escrever isso que estou dizendo: em dezembro deste ano nós vamos começar a ver o caos aqui no estado do Piauí. O caos é um caos. O Bolsonaro está dando esse auxílio aí de seiscentos reais, mas é só por três meses. As pessoas estão recebendo e comendo, ninguém está guardando nada. Por quê? Porque a barriga não espera. E quando acabar isso, o que que vai acontecer? Todo mundo agora está demitindo aos montes. Vão ser milhares de demissões. Cada demissão dessa atinge, no mínimo, vinte pessoas. Além da família, tem o dono da mercearia que vendia para o empregado, o dono do açougue, o dono da farmácia. Com as pessoas sem dinheiro para comprar, vai todo mundo fechar. Essa é que é a realidade. Então, isso daqui vai ficar na história. Eu já escrevi seis livros, e agora estou juntando material para escrever meu sétimo livro, que terá como título ‘O Coronavírus no Piauí’, para mostrar todos os erros das autoridades. Essa questão do isolamento, da forma como está, é um crime. Agora você pergunta: Valdeci, você é contra o isolamento, totalmente? Eu digo que não. Quem puder ficar no isolamento, fique, com conforto. Agora, as pessoas precisam trabalhar. Tanto é que a prefeitura passou a reclamar agora da queda no isolamento. Vai piorar. A proporção que o tempo for passando, esse índice vai diminuir, as pessoas não vão mais obedecer. Por exemplo, eu, Valdeci, presidente da Federação do Comércio, estou pregando a desobediência ao isolamento social. Estou dizendo para todo mundo: desobedeçam, não cumpram o isolamento. Só cumpra se você for pessoa do grupo de risco. Mas se você estiver precisando trabalhar, não vá morrer de fome. É preferível você pegar o coronavírus do que passar fome. Vá buscar um emprego, vá buscar um bico para ganhar o seu dinheiro.


O senhor tem sido bastante criticado por alguns gestores públicos por conta dessas suas posições. Como o senhor encara as críticas?

Cada um tem um pensamento. A gente tem que aceitar as críticas. As críticas são saudáveis. Eu tenho 68 anos de idade. Meu pai era comerciante, de bar, mercearia, de açougue, restaurante. Então, eu via as pessoas passando fome.Meu pai mandava dar um pedaço de carne seca, um quilo de osso, um pão dormido, uma roupa, um quilo de arroz, açúcar. Porque as pessoas passavam muita fome. Aquelas pessoas magras, esqueléticas, que no passado não tinham nenhum benefício. Hoje, através do Sesc, nós temos o Mesa Brasil, onde distribuímos alimentos para 30 mil pessoas, diariamente. Então se não fosse o Sesc Mesa Brasil nós tínhamos aqui no Piauí mais umas uma 50 mil mortes por fome, todos os anos. Então é assim, tem muita gente passando fome. Tem muita miséria e muita fome, as pessoas que não estão olhando para isso. Todo mundo só fala no corona. Vai todo mundo pegar. Vai pegar e tomar um remédio. Quantos casos o Piauí já tem? Quantas pessoas já foram curadas? Quantos morreram de fome, morreram de tuberculose, de pneumonia, de dengue? Vamos nos preocupar com a população. A minha consciência me diz todo dia que eu devo combater esse isolamento criminoso, da forma como ele está sendo pregado.

O Firmino está buscando apenas a preocupação com a próxima eleição. Ele não está preocupado com a próxima geração, nem está preocupado com a população. Está preocupado com a próxima eleição. Por enquanto, ele ainda está tirando vantagem porque tem muita gente apoiando, mas na hora que caírem na real, eles vão ver que o Firmino, que o seu líder, os levou para o buraco.

Dr. Valdeci, esse diálogo com o poder público, com a Prefeitura e o Estado,tem avançado nos últimos dias?
O governador Wellington é um camarada mais inteligente do que todo mundo junto. Ele é educado, ele é maleável. A gente até tenta criticá-lo, mas não vai muito além, porque ele é um camarada educado que trata as pessoas com urbanidade. Inclusive, ele atendeu um pedido nosso para abrir escritórios de advocacia, escritórios de contabilidade e as lojas para receberem seus carnês e promissórias. Então, eu tenho certeza que o governador vai abrir pra mais algumas categorias. Agora o Firmino é vaidoso, orgulhoso, temperamental, desrespeitoso com classe empresarial, desrespeitoso totalmente. Ele é tão ruim de diálogo que nomeou uma comissão que disse que é pra conversar com as categorias empresariais. Só que essa comissão que ele nomeou são pessoas é muito preparadas. É o doutor Washington Bonfim, Doutor Canindé, é o professor Kleber Montezuma, Fernando Said. São pessoas preparadas, mas eu estou chamando essa comissão de comissão da enrolação. Primeiro, porque não tem poderes para decidir nada. Estão com mais de um mês ouvindo as categorias e não decidiram nada. Não tem nenhum programa que dê uma esperança para o empresário. Não tem nada. Então, eu não tenho esperança nenhuma de que o comércio irá abrir tão cedo, se depender do Firmino. Outra coisa que é interessante é que o Firmino, as correspondências que a gente manda para ele, pedindo uma resposta, um calendário para a reabertura, ele manda simplesmente um trabalho feito por um matemático e uma palestra de um médico. Ele está zombando das pessoas. O Firmino está tratando essa pandemia através de um matemático. Ele pegou um excelente professor da universidade e o rapaz está fazendo o que a gente chama na matemática de uma projeção fictícia. Primeiro ia morrer dezoito mil pessoas, aí agora vai morrer seiscentas pessoas. Tanto é que o Firmino contratou sem licitação seiscentas covas e agora comprou mil sacos mil sacos para cadáver. Não sei pra que ele vai querer esses mil sacos para cadáveres. Está aí publicada pela imprensa, a compra feita sem licitação. Ele está esperando mil cadáveres por Covid-19. Então, é por isso que eu digo para as pessoas: Pra não entrar nesse saco do Firmino, vocês têm que sair de casa e buscar trabalho, buscar uma renda, porque senão vocês vão morrer abandonados. Essa que é a verdade.

“Firmino é vaidoso, orgulhoso, temperamental e desrespeitoso com a classe empresarial”(Valdeci Cavalcante)

Para encerrar a entrevista, qual o prognóstico que o senhor faz para esses próximos meses? O que esperar?
Estivemos reunidos, recentemente, Federação do Comércio, Agricultura, da Indústria, Sindilojas Sebrae, Comércio Varejista, Atacadista e Lojistas. Nós queremos uma abertura gradual das atividades empresariais. Agora, veja bem, estou trabalhando, atendendo pessoas no meu escritório, todo mundo de máscara, porque eu não vou deixar ninguém sem máscara; com álcool em gel na entrada, na minha mesa, nas mesas de todo mundo. Quando é que vai ter uma vacina para isso? O maior patrimônio do ser humano é a vida. Então, ninguém cuida mais da minha vida do que eu, e nem ninguém da sua vida do que você. Então, o Senac já fez até um vídeo educativo de como é as pessoas devem conviver a partir de hoje com essa doença, os cuidados que nós devemos ter. Agora, uma falsidade que o prefeito Firmino Filho tem espalhado por aí, assim como a vice-governadora, dizendo que os empregadores estão botando seus empregados para pegar a doença.

Vou passar um dado para vocês: 98,8% das empresas do Piauí são micro e pequenas empresas, que têm em média cinco pessoas trabalhando. Você sabe quem fica na frente do balcão? É o empresário, a mulher dele e os filhos dele. É assim. Isso é uma falácia dizer que o empregador está querendo levar seus empregados para o balcão para serem contaminados. Isso é mentira. Os nossos empregados, para nós, são membros da nossa família. Essa é a verdade. O maior patrimônio do empregado é a sua vida, depois sua liberdade e a terceira coisa é o seu patrimônio. E qual é o patrimônio que o empregado tem sem emprego? É com o emprego que ele sustenta a sua família.

Fonte: O Dia |Edição: Jornal da Parnaíba

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