“Bota o retrato do velho,
outra vez / Bota no mesmo lugar / O sorriso do velhinho / Faz a gente trabalhar
/ Eu já botei o meu / E tu? / Não vais botar? / Já enfeitei o meu / E tu? /
Vais enfeitar? / O sorriso do velhinho / Faz a gente se animar”.
Banquete oferecido a Getúlio Vargas pelos trabalhistas de Parnaíba – PI. Da esquerda para a direita: Orlando de Moraes, Getúlio Vargas e Darcy Araújo.
“Retrato do Velho” foi a
marchinha de maior sucesso do carnaval de 1951. Na voz de Francisco Alves, a
letra envolvente anunciava o retorno do “velhinho” Getúlio Vargas ao poder. Em
1945, com o fim do Estado Novo, Vargas saiu oficialmente da cena política
nacional assim como seus quadros que rapidamente foram retirados das paredes
das repartições públicas. Na marchinha, o mito Vargas retorna com todo o seu
carisma e imagem inspiradora. Composta por Haroldo Lobo e Marino Pinto, a
música virou o jingle que embalou a vitória política de Vargas nas eleições de
1950 após uma intensa campanha eleitoral que percorreu o Brasil de Norte a Sul.
Em 53 dias de campanha Getúlio Vargas visitou todos os estados brasileiros e
esteve em mais de cinquenta cidades pronunciando ao todo oitenta discursos.
Sempre adaptados às realidades locais, seus discursos se resumiam em apontar as
bases do seu projeto político, que eram a questão nacional e as reformas
sociais.
No Piauí, Vargas discursou em
Teresina e em Parnaíba. Na capital, o tom geral do seu discurso foi de
intimismo. Tratando os piauienses como “velhos amigos”, se comprometeu a
desenvolver a região, sobretudo com o incentivo à industrialização dos óleos
vegetais, com o financiamento da produção da cera da carnaúba, com a melhoria
do transporte rodoviário e fluvial, com a abertura de escolas profissionais, e,
é claro, com o aparelhamento do Porto de Amarração. Segundo ele, “obras que
realmente contribuam para impulsionar o progresso, criar riqueza e estender a
todos os benefícios da civilização”.
Em Parnaíba, cidade que vivia
lances dramáticos e decisivos na sua condição econômica, o discurso de Vargas
foi alternando entre o populista e o fatalista. Porém, a questão fundamental do
seu discurso foi o “problema da carnaúba”, que era a base da economia do Estado
e deveria ser vista com “carinho especial” pela União. De acordo com ele, em
texto recuperado do seu discurso: “o amparo da carnaúba e dos que vivem da sua
extração e do seu comércio constitui ponto destacado do meu programa. Defender
o produto contra os sucedâneos e contra as tentativas de cultura em outros
territórios, aperfeiçoar a técnica extrativa, favorecer a industrialização,
facilitar os financiamentos, conquistar novos mercados – são questões
essenciais a considerar, sem perder de vista, em plano paralelo, o trabalhador
que, no seu labor diuturno, colabora na colheita do produto e no seu tratamento
posterior”.
Diante da população
parnaibana, Getúlio Vargas também se comprometeu com a melhoria da
infraestrutura do Porto, que, na sua visão: “é velho anseio do povo desta
terra, anseio justo e legitimo, que deverá ser satisfeito por quem assuma o
governo da União. Nesse sentido, espero poder contribuir, decisivamente, e
dotar esta cidade desse instrumento essencial à consecução do seu destino
histórico”. De Parnaíba, Vargas se despediu de forma afetiva e se dirigiu para
Fortaleza, no Ceará. “Partindo deste solo hospitaleiro, levo comigo uma visão
de futuro. Vejo uma grande cidade, dotada de um amplo cais, onde se empilham
produtos de todo Piauí e, nas docas e ruas adjacentes, os trabalhadores ao lado
das classes produtoras. Todos, com um sorriso feliz nos lábios bendizem a terra
em que nasceram e cantam hosanas ao Brasil”. Mas o fato é que nem o Porto e nem
a vitória de Vargas no Piauí se confirmaram. A eleição, realizada em três de
outubro de 1950, apresentou a vitória de Vargas em dezoito das 24 unidades da
federação. No Piauí, entretanto, venceu a eleição o brigadeiro Eduardo Gomes,
candidato da UDN, seguido por Cristiano Machado do PSD, ficando Vargas à frente
apenas do inexpressivo João Mangabeira, do PSB. Aqui, como se percebe, optou-se
por não se colocar o retrato do velhinho no mesmo lugar. Um claro recado
político e também o prelúdio da tragédia piauiense com o fim do seu ciclo
extrativista e o desmonte sistemático da sua base econômica.
Fonte: Parnaíba Criativa | Edição: Klise
Albuquerque/Jornal da Parnaíba
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