sábado, agosto 11, 2018

Número de homicídios de mulheres sobe 12,3% em um ano no Piauí

Os dados são referentes a 2017 em relação a 2016 e foram divulgados pelo Fórum Nacional de Segurança Pública. Número de feminicídios reduziu entre 2016 e 2017.
Iarla foi assassinada pelo então namorado José Ricardo da Silva Neto, ex-tenente do Exército(Foto: Reprodução/Facebook)
Foram divulgados nesta quinta-feira (09) os números da violência no Brasil no Anuário Brasileira de Segurança Pública. Os dados gerais são animadores para o Piauí, onde houve redução de 7,6% nas mortes violentas intencionais (703 casos em 2016 e 651 em 2017) e 7,2% na quantidade de homicídios dolosos (642 em 2016 e 597 em 2017). No entanto, quando se trata da violência praticada contra o público feminino, o Estado ainda apresenta dados assustadores.

Segundo o Anuário da Segurança Pública, o Piauí registrou um aumento de 12,3% nos casos de homicídios de mulheres, ou seja, mortes violentas de pessoas do sexo feminino, mas que não possuem a qualificadora do feminicídio (crime de ódio contra a mulher). Ao todo, 55 mulheres foram assassinadas no Piauí em 2016 em ocorrências diversas como latrocínio e tentativa de latrocínio ou troca de tiros, por exemplo. Em 2017, este número já era da ordem de 62 casos.
Camila foi assassinada pelo então namorado, o capitão da PM Alisson Wattson (Foto: Reprodução/Facebook)
Já com relação aos feminicídios, ou seja, os assassinatos de mulheres motivados pelo simples fato de elas serem mulheres, reduziram 16,2% entre 2016 e 2017 no Estado, saindo de 31 casos para 26. Mas o que chama atenção nos casos de 2017 é autoria dos crimes. Foi o ano em que duas ocorrências geraram revolta na população por terem sido, os crimes, praticados por agentes da segurança.

Foi o caso da estudante Iarla Lima Barbosa, assassinada pelo ex-companheiro José Ricardo da Silva Neto, que era tenente do Exército Brasileiro. Em situação semelhante, se deu a morte de outra estudante: Camilla Abreu, 21 anos, morta também pelo ex-companheiro, o capitão da Polícia Militar Alisson Wattson da Silva Nascimento.

Nos dois inquéritos, a polícia concluiu que os assassinos agiram motivados pelo ódio às vítimas diante da sensação de perda de posse e de controle sobre elas. Silva Neto e Alisson Wattson foram indiciados por quatro crimes: homicídio com qualificadora de feminicídio, agressão sem chances de defesa à vítima, ato praticado com requinte de crueldade e tentativa de fraude processual.

Para a advogada Teresa Raquel Galvão, membra da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Piauí (OAB/PI), os crimes de feminicídio são motivados pela cultura machista que ainda está enraizada na sociedade. “Nós ainda temos muito machismo, objetificação e coisificação da mulher, que é tratada como propriedade do homem. Houveram vários avanços nos setores de garantia de direitos da mulher, mas ainda precisamos mudar o contexto cultural em que é reproduzido esse pensamento machista”, destaca.

Segundo ela, o fato de agentes da segurança pública serem réus confessos de crimes de feminicídios reflete os critérios falhos dos concursos públicos para a área, em que candidatos reprovados em exames psicológicos acabam obtendo autorização judicial para assumir o cargo. “ Antes, com um mandado de segurança, facilmente se ingressava em um concurso, devido aos critérios subjetivos de seleção. Acredito que com os critérios mais rígidos, uma pessoa que tem a sua arma para trazer segurança jamais possa cometer um crime desse tipo”, afirma.

Outros dados
Com relação aos crimes de estupro e tentativa de estupro, o Piauí também vem apresentando um cenário negativo. De acordo com a publicação do Fórum de Segurança Pública, os registros de crime de estupro subiram 18,1%, saltando de 653 em 2016 para 773 em 2017. muito embora tenha havido uma queda nos registros formais (denúncias feitas) de tentativa de estupro: 160 em 2016 e 155 em 2017, uma queda de 3,3%.

Teresina tem seguido na contramão do que se observa em todo o Piauí quanto aos crimes de latrocínio ou roubos seguidos de morte. No Estado, em 2016, foram 49 casos contra 45 em 2017, o que representa uma redução 8,4%. Mas quando se trata de Teresina, este cenário muda e os latrocínios aumentam: foram 22 casos em 2016 e 25 em 2017, um aumento de 13,3%. Vale ressaltar que agora, nos seis primeiros meses de 2018, a Capital já contabilizou 22 latrocínios, quase o total observado no ano passado.

Um caso que chamou a atenção foi o da empresária Tânia Alves, dona do bar Quintal da Tânia, que foi assassinada com um tiro no rosto durante assalto, mesmo sem esboçar qualquer reação á investida do suspeito. Ela retornava de uma festa de aniversário com mais duas amigas no Monte Castelo.

Mortes decorrentes de intervenção policial dobram em Teresina
Casos de abordagens policiais mal sucedidas fizeram a população teresinense se questionar a respeito do preparo dos agentes de segurança pública do Estado. Os dados do Anuário revelam que as mortes decorrentes de intervenção policial em Teresina aumentaram 100% entre 2016 e 2017, saltando de sete para 14.

Em 2016, duas pessoas morreram após intervenção de policiais militares durante serviço em ocorrências. Em 2017, esse número subiu para oito. Já as mortes decorrentes de intervenção de policiais militares fora de serviço saíram de quatro em 2016 para cinco em 2017. Abordagens feitas por policiais civis em serviço não resultaram em mortes em 2016 e em 2017, mas as feitas por policiais civis fora de serviço resultaram em uma morte nos dois anos.

Um caso que chocou a população teresinense e causou comoção foi da menina Émile Caetano , que foi morta a tiros por militares durante perseguição na Avenida João XXIII. O caso aconteceu em dezembro do ano passado após o carro da família da criança não ter parado em uma barreira da polícia. Os tiros, segundo populares continuaram mesmo após o veículo ter parado mais adiante, perfuraram o vídeo traseiro e atingiram a menina que estava no banco de trás.

Por: Maria Clara Estrêla e Nathalia Amaral/O Dia | Edição: Jornal da Parnaíba

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