A aposentada Raimunda Paula de Moura logo a pós a cirurgia no Hospital Marques Basto. |
Diagnosticada com aterosclerose severa na perna direita e correndo o
risco de ter o membro amputado, a aposentada Raimunda Paula de Moura, 78 anos,
foi submetida a um procedimento pioneiro realizado em Parnaíba, PI. A
aterosclerose se caracteriza como uma doença vascular crônica causada pelo
acúmulo de placas de gordura e outras substâncias nas paredes das artérias. Com
o tempo, essa doença vai restringindo o fluxo sanguíneo para determinados
órgãos corporais podendo causar infarto agudo do miocárdio, acidente vascular
cerebral (AVC), trombose intestinal e trombose nos membros inferiores, por
exemplo.
Dr. Elias Carvalho Magalhães Neto, responsável pela equipe que realizou a cirurgia de Dona Raimunda |
Diabética e acometida com aterosclerose, dona Raimunda sofreu uma grave
infecção em um dos dedos do pé direito por decorrência de um corte ocasionado
enquanto ela cortava as unhas. Como o pé da aposentada tinha uma circulação
precária, pois a Trombose Arterial estava bem avançada, em pouco tempo, a
infecção piorou e quando a idosa procurou o hospital, o dedo já estava em
estado avançado de necrose, o que os médicos chamam de gangrena. A alternativa
dada inicialmente foi a amputação. No entanto, mesmo com a retirada do dedo, a
infecção continuou avançando e menos de um mês após a cirurgia, ela precisou
retornar novamente ao Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda), desta vez com
complicações em mais dois dedos do mesmo pé. Ao avaliar o caso da paciente e
requisitar um exame de Angiorressonância Magnética, que foi realizada após
autorização da Direção do Hospital Dirceu Arcoverde, o médico cirurgião
vascular que acompanhava o caso e que tem uma vasta experiência no assunto, Dr.
Elias de Carvalho Magalhães Neto, conversou com a família da dona Raimunda e
informou da possibilidade da realização de dois procedimentos na tentativa de
evitar a amputação da perna da idosa, pois o exame havia detectado que as
artérias da perna estavam entupidas da coxa até o pé.
Hospital Marques Basto, em Parnaíba |
A primeira alternativa seria encaminhar a paciente para Teresina a fim de ser
submetida a um Cateterismo para a desobstrução da perna por via Endovascular,
realizando angioplastia e a colocação de Stent da mesma forma que é feito com
os pacientes que apresentam Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Requisição essa,
que foi feita de imediato. Entretanto, a idosa naturalmente entrou na fila do
SUS e, de acordo com a planilha do Sistema de Regulação do Estado, ela teria
que aguardar em uma longa fila para ser operada. Como o caso dela exigia
urgência devido o rápido avanço da doença, a família buscou a segunda
alternativa, que seria fazer a Revascularização do Membro Inferior através de
uma cirurgia chamada de Bypass Fêmoro-Poplíteo, popularmente conhecida por
Ponte de Safena da Perna, que seria realizada em Parnaíba, no Hospital e
Maternidade Marques Bastos (SPMIP). Porém, mais uma vez, o quadro da idosa, que
já era delicado, esbarrou em questões burocráticas, uma vez que o município de
Parnaíba ainda não dispõe de nenhum convênio ligado ao SUS que possibilite a
realização de tal procedimento.
Dona Raimunda Paula de Moura se recupera em casa e já caminha com ajuda de andador |
Somando longos 14 anos de estudos, sendo oito deles, no Rio de Janeiro, entre a
graduação em Medicina pela Universidade Gama Filho e uma Pós-Graduação em
Terapia Intensiva, pela Universidade Veiga de Almeida; dois anos de Residência
em Cirurgia Geral, pelo Hospital Regional do Gama e outros dois anos de
Residência em Cirurgia Vascular no Hospital de Base, em Brasília, além de
cursos de aprimoramento das técnicas em Medicina Intervencionista
(Hemodinâmica) e Doenças Venosas, Dr. Elias, que é parnaibano, há oito anos
retornou à sua cidade natal com o sonho, o desejo e a missão de mudar essa dura
realidade enfrentada pelos pacientes diabéticos portadores de doenças
vasculares. Ele relata que apesar das grandes dificuldades impostas no caminho,
tem muita coragem e vontade de mudar esse cenário.
Dr. Leonardo Correia, secretário municipal de saúde |
Ao se deparar com a aflição da família, o médico se prontificou em ajudar e
resolver o caso de dona Raimunda. Depois de 27 dias de internação no Heda, por
meio de um esforço conjunto entre a equipe formada por Dr. Elias, Dr. Paulo
Augusto - Cirurgião Geral e Dr. Samuel - Anestesista, com o aval da direção do
SPMIP, composta por Mirócles Veras e pelo Dr. Edgard Veras, além da ajuda e
intervenção do vereador Carlson Pessoa e do secretário municipal de Saúde,
Leonardo Correia, finalmente a idosa foi operada no Hospital Marques
Basto.
Essa cirurgia pioneira ocorreu em Parnaíba no dia 14 de maio de 2018 sob a
responsabilidade e execução de Dr. Elias, com duração de cinco horas e foi um
sucesso. O cirurgião explica o método adotado. “O procedimento que consistiu no
retorno da circulação utilizando um pedaço da veia safena, assim como se faz no
coração para estabelecer o fluxo das coronárias, cria um novo caminho,
permitindo que o sangue circule em torno da área bloqueada e consiga chegar na
região que está faltando e precisando. Dessa forma foi possível salvar a perna
e o pé da paciente, mas foi preciso amputar outros dois dedos necrosados”,
salientou. Passado um mês e meio da cirurgia, dona Raimunda agora sente que o
ferimento está cicatrizando e já consegue caminhar com o auxílio de um andador,
um ato simples que ela temeu perder com a possibilidade da amputação de todo o
membro inferior.
O drama sofrido por dona Raimunda traz um alerta para a grande necessidade da
criação de um convênio entre o município e o Hospital e Maternidade Marques
Bastos, instituição de saúde em Parnaíba que possui material para realizar
esses procedimentos cirúrgicos. O SPMIP também é a única unidade hospitalar da
cidade que tem o serviço de Hemodiâmica, local que dispõe das melhores
condições necessárias para realizar a revascularização em pacientes que, por
muitas vezes, a cirurgia é contra-indicada, além de realizar os exames
preventivos e de acompanhamento. O número de idosos parnaibanos acometidos da
doença chamada de pé diabético e de outras doenças vasculares como a trombose
arterial é muito grande, sendo esta uma das principais causas de
morbimortalidade e amputações entre essa faixa etária da população do litoral
do Piauí.
Diante deste quadro alarmante, Dr. Elias espera que as autoridades olhem com
mais atenção para o problema e tentem resolvê-lo da melhor e mais brevidade
possível, pois isso traria uma grande mudança na saúde do parnaibano,
aumentando a qualidade de vida e diminuindo o sofrimento de vários pacientes.
“Tratar um paciente idoso e, na maioria das vezes, já debilitado em outro
município carrega em si um imenso contexto social, que envolve o deslocamento,
a permanência longe da família e outros fatores que acabam afetando o
tratamento. Tratar o paciente em seu município é essencial para a sua
recuperação precoce, pois ele fará o tratamento junto de sua família. Isso
conta muito. Talvez falte conhecimento da importância destes procedimentos
através do SUS por parte de nossos gestores, mas esperamos que este quadro mude
em breve”, finaliza o médico.
Por Luzia Paula | Edição: Jornal da Parnaíba
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