segunda-feira, maio 07, 2018

A Lagoa do Portinho está de volta: até quando?

Esta última estação de chuvas trouxe uma boa notícia para quem admira as belezas do Piauí: a Lagoa do Portinho voltou a ser o cartão postal que nos encanta e a todos os que visitam o litoral do Piauí. Mas fica a pergunta: até quando?
O Nordeste apresenta duas frentes litorâneas: uma mais seca, voltada para o Norte (Litoral Nordestino Setentrional) e outra mais úmida, voltada para Leste (Litoral Nordestino Oriental). O Piauí, juntamente com o Maranhão, o Ceará e parte do Rio Grande do Norte, compõem com suas praias o Litoral Nordestino Setentrional. Com o ar mais seco, favorável a formação de dunas móveis sopradas do litoral para o continente, mostrando paisagens únicas, como as encontradas nos Lençóis Maranhenses e no Delta do Parnaíba, por exemplo.

Entre os anos de 2005 e 2008 (período em que desenvolvi as pesquisas que culminaram com minha tese de doutorado), conheci muito do nosso litoral. O litoral do Piauí é o menor do Brasil (66 km de extensão) e apresenta particularidades que não são encontradas em outros lugares. Dentre o que temos de mais belo estão as Lagoas do Portinho e de Sobradinho. Ambas fruto do processo natural de formação de dunas que barram cursos hídricos gerando bacias de acumulação.
Em 2015, iniciei a orientação de Mestrado do geógrafo Tarcys Mesquita, no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Piauí (PPGGEO-UFPI) que iniciou minucioso estudo sobre a Bacia do Rio Portinho, tendo como principal foco o triste estado da Lagoa do Portinho que, ano após ano, vinha diminuindo fortemente o volume das suas águas.

O trabalho de Tarcys, fruto da minha orientação em parceria com a Dra. Iracilde Moura Fé, foi publicado na semana passada na Revista Brasileira de Geografia Física apontando para as causas principais do total desaparecimento da Lagoa no período estudado. A lagoa, graças ao bom período chuvoso que tivemos este início de ano ganhou um bom volume de água. Mas fica a pergunta: até quando?

As conclusões da pesquisa apontaram para um conjunto de pequenas agressões que somadas resultaram no desaparecimento completo de um dos mais formidáveis cartões postais do litoral piauiense. A pesquisa atribuiu ao problema a combinação de um período de baixa pluviosidade (cinco anos consecutivos com poucas chuvas, especialmente em 2010), aumento da temperatura e da evapotranspiração, associada à construções feitas na bacia que funcionaram como barreiras ao processo de escoamento de água dos principais tributários, como casas e até uma estrada no município de Bom Princípio do Piauí que impediram a chegada de alguns riachos que contribuem para a formação do volume final de águas da Lagoa do Portinho. Associados a estas grosseiras interferências do homem na alimentação da bacia, foram encontradas propriedades rurais que fazem barramentos do rio para irrigação e criação de peixes (piscicultura). O somatório dos fatores antrópicos (causados pelo homem) aos fatores naturais (como redução das chuvas e aumento da temperatura e da evaporação) foram decisivos.

Fica agora uma lição para os principais atores envolvidos com a questão: cuidar do ambiente para tentar minimizar os efeitos do que não é possível evitar, como as intempéries meteorológicas (seca e aumento da temperatura).

Um dos maiores cartões postais do Piauí está de volta. É preciso saber se os piauienses vão saber valorizá-lo e cuidar para que permaneça entre nós. A ciência fez a sua parte. Parabéns Tarcys Mesquita pelo seu trabalho!

Por Francisco Soares/Cidade Verde | Edição: Jornal da Parnaíba

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