Esta última estação de chuvas trouxe uma boa notícia para quem admira
as belezas do Piauí: a Lagoa do Portinho voltou a ser o cartão postal que nos
encanta e a todos os que visitam o litoral do Piauí. Mas fica a pergunta: até
quando?
O Nordeste apresenta duas frentes litorâneas: uma mais seca, voltada
para o Norte (Litoral Nordestino Setentrional) e outra mais úmida, voltada para
Leste (Litoral Nordestino Oriental). O Piauí, juntamente com o Maranhão, o
Ceará e parte do Rio Grande do Norte, compõem com suas praias o Litoral
Nordestino Setentrional. Com o ar mais seco, favorável a formação de dunas
móveis sopradas do litoral para o continente, mostrando paisagens únicas, como
as encontradas nos Lençóis Maranhenses e no Delta do Parnaíba, por exemplo.
Entre os anos de 2005 e 2008 (período em que desenvolvi as pesquisas
que culminaram com minha tese de doutorado), conheci muito do nosso litoral. O
litoral do Piauí é o menor do Brasil (66 km de extensão) e apresenta
particularidades que não são encontradas em outros lugares. Dentre o que temos
de mais belo estão as Lagoas do Portinho e de Sobradinho. Ambas fruto do
processo natural de formação de dunas que barram cursos hídricos gerando bacias
de acumulação.
Em 2015, iniciei a orientação de Mestrado do geógrafo Tarcys Mesquita,
no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Piauí
(PPGGEO-UFPI) que iniciou minucioso estudo sobre a Bacia do Rio Portinho, tendo
como principal foco o triste estado da Lagoa do Portinho que, ano após ano,
vinha diminuindo fortemente o volume das suas águas.
O trabalho de Tarcys, fruto da minha orientação em parceria com a Dra.
Iracilde Moura Fé, foi publicado na semana passada na Revista Brasileira de
Geografia Física apontando para as causas principais do total desaparecimento
da Lagoa no período estudado. A lagoa, graças ao bom período chuvoso que
tivemos este início de ano ganhou um bom volume de água. Mas fica a pergunta:
até quando?
As conclusões da pesquisa apontaram para um conjunto de pequenas
agressões que somadas resultaram no desaparecimento completo de um dos mais
formidáveis cartões postais do litoral piauiense. A pesquisa atribuiu ao
problema a combinação de um período de baixa pluviosidade (cinco anos
consecutivos com poucas chuvas, especialmente em 2010), aumento da temperatura
e da evapotranspiração, associada à construções feitas na bacia que funcionaram
como barreiras ao processo de escoamento de água dos principais tributários,
como casas e até uma estrada no município de Bom Princípio do Piauí que
impediram a chegada de alguns riachos que contribuem para a formação do volume
final de águas da Lagoa do Portinho. Associados a estas grosseiras
interferências do homem na alimentação da bacia, foram encontradas propriedades
rurais que fazem barramentos do rio para irrigação e criação de peixes
(piscicultura). O somatório dos fatores antrópicos (causados pelo homem) aos
fatores naturais (como redução das chuvas e aumento da temperatura e da
evaporação) foram decisivos.
Fica agora uma lição para os principais atores envolvidos com a
questão: cuidar do ambiente para tentar minimizar os efeitos do que não é
possível evitar, como as intempéries meteorológicas (seca e aumento da
temperatura).
Um dos maiores cartões postais do Piauí está de volta. É preciso saber
se os piauienses vão saber valorizá-lo e cuidar para que permaneça entre nós. A
ciência fez a sua parte. Parabéns Tarcys Mesquita pelo seu trabalho!
Por Francisco Soares/Cidade Verde | Edição: Jornal da Parnaíba
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