Estou pra ver história mais comprida e sem fim essa
do complexo do Porto das Barcas, aquele amontoado de casas velhas, esfarinhando
de podres ali na região do centro dito histórico, entre o bairro do Carmo e a
avenida Presidente Getúlio Vargas, tido e havido como o lugar onde estava
armada a rede que balançou a menina chamada Parnaíba e que não tem quem não
saiba que mais dia menos dia está com os dias contados.
Agora o Governo do Estado do Piauí quer retomar pra
si a administração do dito complexo depois de anos e mais anos sob a
responsabilidade da Associação Comercial e Industrial de Parnaíba. Pelo que se
sabe a associação já vinha há vários anos mantendo de forma precária, como
diria, capengando mesmo, a administração daquele amontoado de prédios, mas segundo
argumenta a diretoria da entidade, sem recursos pra promover uma restauração à
altura. Tirando o exagero, sem dinheiro pra comprar uma vassoura.
Pouco ou quase nada foi feito que desse uma feição
de coisa importante, segura, digna e que imprimisse aos olhos de turistas,
autoridades e aos pouquíssimos comerciantes ali estabelecidos noção de coisa que
preste pra ser chamado um, respeitadas as proporções, um centro cultural e de
eventos. Realmente a cada dia que passa a situação no Porto das Barcas fica pior.
Nesses anos todos o que houve e muito foi remendo novo em fundo de calça velha.
E remendo novo em fundo de calça velha sempre corre o risco de se deixar um dia
a bunda de fora.
Aquele, como diriam de boca cheia de farinha ou de
cuscuz alguns parnaibanos mais metidos a importantes, complexo cultural do
Porto das Barcas, nunca atendeu, no meu entendimento, às exigências de
conforto, segurança e até mesmo estética a eventos de médio ou grande porte. E
agora me vem a informação de que depois de ser em 2013 entregue à
responsabilidade da ACIP por documento do então governador Wilson Martins, o
governo de Wellington Dias quer retomar pra si a administração de toda a área.
Que mal comparando é a nossa Pompeia e em alguns lugares parece mais o Coliseu.
Essa história de vai pra lá e vem pra cá me lembra
aquela história de filho enjeitado. Aquele menino maluvido, duro de rédeas,
rebelde até pra tomar um banho e que um dia vai pra casa da avó e semanas
depois volta pra casa da mãe. Aquele menino que é criado na ponta do pé e do
relho entre os outros irmãos. O chamado filho de criação. Passa um dia cá e dez
lá. E quando volta de lá pra cá, volta pior do que estava cá. Lembra o
personagem Banana, de meu livro A Rua das Flores, o primeiro a ser publicado
graças à benevolência de alguns amigos.
Banana, o apelido de José Domingos, irmão de
Antonio Francisco, este criado pelo quitandeiro Quintanilha, depois de todas as
tentativas pra ser colocado nos trilhos da vida pelo irmão Tonico, que até o
colocou numa escola, acabou se perdendo com as más companhias ali pelas bandas
do bairro São José e entre os motoristas e engraxates da praça da Graça. Estava
livre pra se perder no mundo. Assim é o
Porto das Barcas. Já aconteceu de um tudo naquela margem de rio e entre aqueles
escombros. Nem é bom de recordar, pois é coisa de dar até arrepios. Deve ser
praga de Mundoca, a personagem resmungona de Beira Rio Beira Vida.
Sinceramente a gente espera, mais uma vez, que
tomando pra si uma responsabilidade que é sua, o Governo do Estado agora
coloque gente responsável, aplique recursos e dê destinação através de um amplo
e viável projeto de restauração praquele monte de prédios que estão a cada dia
se deteriorando. Faz vergonha aquilo ali. Mete medo passar numa calçada
daquelas.
E se o governador Wellington Dias deseja mesmo dar
sentido a seu projeto de governo em relação à Parnaíba, que entregue este
projeto e a administração pra alguém compromissado com coisa bem feita. Porque
se é somente pra fazer fita e se aproveitando de um momento lembre ele que
Parnaíba e mais precisamente aquele complexo do Porto das Barcas faz tempo que
anda coçando as costas e o pé da barriga.
Porque se é pra retomar da Associação Comercial e
Industrial de Parnaíba e depois colocar uma pedra em cima, melhor deixar do
jeito que está caindo aos pedaços. Porque esse negócio de mandar menino passar dez
dias na casa da vovó e um dia depois ele vem pra casa da mãe pior do que foi, melhor
entregar pra, como se dizia antigamente, no tempo em que não havia esse negócio
de Estatuto da Criança e do Adolescente, entregar pra o juiz. Pádua Marques,
jornalista e escritor. Este artigo foi escrito e publicado em 30 de outubro de
2015.
Por Antônio de Pádua Marques
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