Em discurso de minha posse na Academia Parnaibana
de Letras no dia 12 deste mês tratei de um assunto espinhoso pra muitos e pra
muita gente, a falta de mercado de trabalho pra os profissionais da imprensa.
Antes da cerimônia, quando dois repórteres de televisão me entrevistaram
perguntando sobre a sensação, a alegria de estar prestes a me tornar imortal,
disse que era antes tudo um momento especial e ao mesmo tempo porque era a
chegada a uma entidade de cultura de um jornalista de carreira.
Realmente as coisas estão preocupantes, quer dizer
o mercado de trabalho pra os profissionais de imprensa, não está sendo fácil em
Parnaíba. Faz tempo que dezenas deles estão sem dar um prego numa barra de
sabão. Faz tempo que muitos deles não tem como levar cinco reais de pão pra
casa no final da tarde. Faz tempo que esta categoria amarga as piores
privações. Faz tempo que muitos e muitos de nós deixaram de correr atrás desse
negócio porque não tem pra onde correr.
Mário Meireles está neste ramo cruel e difícil de
fazer jornal e dito sem futuro há sessenta anos. Já passou por poucas e boas. Não
interessa questionar seu lado e
preferência política. Viu entrar e viu sair de seu escritório na Gervásio
Sampaio muita gente cheia de sonhos que chegou em Parnaíba pensando que era uma
coisa e a coisa era outra. Outros foram tantos que desistiram. Seguiram outro
rumo e hoje estão bem de vida. Fizeram concurso público pra Banco do Brasil,
Caixa Econômica, Petrobrás, Universidade Federal e empregos mais seguros e que
dão sustento.
É triste ver profissionais tarimbados da imprensa andando
de cara pra cima pela praça da Graça e redondezas tentando encontrar numa conversa
um amigo que lhe pague a passagem de volta pra casa. É triste encontrar
profissionais de imprensa, tanto de jornais quanto de rádio, tentando um bico
no gabinete de algum vereador. Correndo atrás de algum aceno quando alguém
mostra interesse de abrir uma emissora de rádio ou até mesmo nos dias atuais,
um portal ou blog. Nossa economia de tão fraca não permite que empresas, tanto
as poucas indústrias quanto comércio e serviços paguem anúncios na televisão
que por isso não tem condições de contratar profissionais experientes.
E fica essa falta do que fazer, esse vazio no meio
da gente. Cria uma desconfiança entre a categoria até quando um companheiro de
mais sorte arranja um serviço aqui ou acolá. Vem logo a desconfiança de que se
vendeu pra esse ou aquele grupo político. Tudo isso é resultado de um período
ruim de nossa cidade com sua economia funcionando mal e rendendo na mão de
pouquíssimos. Muitos sem nenhuma visão empresarial. Se a Parnaíba tivesse uma
economia forte, igual teve no passado, como alardeiam alguns, a coisa seria
outra. Porque uma economia forte, com a iniciativa privada dando todo o gás,
não há como se depender do favor político.
Uma economia forte, com mercado pra produção
industrial, a presença e a sombra de prefeitura ou de governo estadual ou
federal é até mesmo ignorada. Lamentável que minha geração, essa que está na
casa dos sessenta anos de idade está passando. E passando baixo, como diria meu
pai. Mas vamos ter esperanças, pelo menos pra quem está chegando. Paciência de
gente velha é bicho que custa acabar, feito perfume da Avon. Eu pelo menos
ainda tenho um pouquinho guardado pra usar em dia de festa.
Por Antonio de Pádua
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