O País está estarrecido com as delações da
Odebrecht. Muitos são os brasileiros que se acham idiotas com tanta
roubalheira. Como é possível tantos delatores, com tanta desfaçatez, confessarem
seus crimes como quem está falando de uma atitude normal? A honestidade com que
falaram nas delações tanto impressiona quanto indigna a todos nós!
A isso tudo se junta o loteamento dos cargos
públicos entre padrinhos políticos, que exigem de seus afilhados não só um
pagamento pelo cargo que ocupam como também que fechem os olhos para o errado
quando estiver em jogo o seu interesse político.
As delações dos executivos da Odebrecht mostraram o
que já sabíamos, mas não era possível de ser provado: a corrupção no Brasil era
um modelo de negócio nas contratações com governos, federal, estadual e
municipal. Segundo essas delações, nos últimos 9 anos, a cifra pelo pagamento
de propina aos políticos ultrapassa os 10 bilhões de reais.
E essa conta é dos corruptores, que confessaram ter
distribuído toda essa grana em troca de projetos, facilidades, apoio ou para
deixar políticos nas mãos da Odebrecht. É dinheiro público que poderia ter sido
usado para construir escolas, postos de saúde, comprar ambulâncias e muito
mais. Sabe quanto custa uma creche? R$ 1,9 milhão. O dinheiro da corrupção que
a Odebrecht movimentou daria para construir 5.421 creches, para atender 867.360
crianças, segundo a Associação Contas Abertas.
O fato é que os políticos e os empresários estavam
acostumados a viver nesse ambiente promíscuo, sequer imaginando como é viver em
um ambiente realmente honesto e competitivo. A única vítima dessa história é a
população, especialmente os mais desafortunados.
Comecemos por refletir sobre alguns fatos: (i) a
Odebrecht “financiava” o poder político com quais recursos? Na realidade, leis
foram compradas, campanhas financiadas e a empresa não doou nada, apenas repassou
recursos públicos para bolsos privados de políticos e agentes públicos. Um
sistema corrupto que desviou a possibilidade de o estado brasileiro prestar um
serviço público de melhor qualidade ao seu povo: (ii) era só a Odebrecht?
Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos coordenadores da força-tarefa do
Ministério Público Federal, assinala que malfeitos atingiram “todos os níveis
da federação, democraticamente distribuídos entre Eikes e Marcelos, entre todos
que podiam pagar”. Ele avalia que “nada mais errado” é dizer que a Odebrecht é
a única empresa que comprava o poder político. “Nem mesmo o setor de
empreiteiras é o único, essa prática se espalha por todo espectro empresarial.
Marcelo Odebrecht (ex-presidente do Grupo) saía por uma porta de um gabinete do
poder, por outra entrava outro empresário”; (iii) o crime compensa, uma vez que
os delatores terão suas penas reduzidas. Não é verdade. Imaginemos a hipótese
de não termos o instrumento legal da delação premiada. Conseguiríamos algumas
condenações de executivos da Odebrecht e de poucos funcionários públicos.
Talvez Marcelo Odebrecht ficasse cinco anos em regime fechado, o que
corresponde a uma pena de 30 anos de prisão – bastante alta para o padrão
brasileiro. Mas não teríamos descoberto noventa por cento dos crimes revelados
pelo acordo, e outros cinco por cento que o MPF desconfiava existir acabariam
sendo arquivados por falta de provas. Ainda assim esses cinco por cento
restantes teriam sido um belo resultado quando comparado com nossa história de
impunidade. Seria melhor mesmo que o Mensalão, o mais importante caso em termos
históricos até a Lava Jato.
Impressiona-nos a fluidez e a precisão burocrática,
com que sem-cerimônia que parece rotineira, quase cartorial, os envolvidos
desfiam as irregularidades, listando-as, mostrando como funcionava o esquema
criminoso. A sem-vergonhice já havia sido metabolizada pelo sistema, como se
nada de mal ocorresse por lá, era “normal” comprar apoio; como se fosse natural
que a Petrobras servisse a um esquema de poder e fizesse a felicidade material
daqueles que estavam associados à quadrilha.
É do conhecimento do mundo mineral que este era o
país da impunidade. Digo era, posto que vivemos um momento extraordinário da
República. “Nunca antes nesse país” se prendeu tanto bandido, antes, impossível
de se tascar a mão neles! A quantidade de imponentes corruptos que ainda vivem,
ou viveram à larga antes de passar à outra vida, é infinda, como também grande
e desejada é a descoberta de toda a pilantragem para que eles possam pagar
pelos seus crimes, aqui mesmo! Assim seja!!!
Por: Fernando Gomes, sociólogo, cidadão, eleitor e
contribuinte parnaibano.
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